Texto de: Tarcísio Paulo Dos Santos Araújo
A chanchada foi um gênero cinematográfico de ampla aceitação popular e que definiu muito bem o cinema brasileiro das décadas de 30, 40 e 50. Com uma produção que se concentrava principalmente no Rio de Janeiro, as chanchadas conseguiram seu espaço em um momento em que as produções hollywoodianas já dominavam o país.
A chanchada foi um gênero cinematográfico de ampla aceitação popular e que definiu muito bem o cinema brasileiro das décadas de 30, 40 e 50. Com uma produção que se concentrava principalmente no Rio de Janeiro, as chanchadas conseguiram seu espaço em um momento em que as produções hollywoodianas já dominavam o país.
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Oscarito e Grande Otelo: um dos grandes astros
das chanchadas |
A crítica por outro lado, torcia o nariz para
o gênero, saindo justamente desse desdém o termo “chanchada”, cuja definição
etimológica do italiano “cianciata”, significa discurso sem sentido. O gênero sempre
incomodou a elite que não aceitava a retratação do espírito brasileiro na forma
como aparecia nos filmes. Os paulistanos nunca aceitaram o “jeito carioca” e a
“malandragem” de seus personagens e o fato de “tudo terminar em samba”. Por
outro lado, sua popularidade e aceitação podem ser encontradas em seu humor
mais ingênuo, que conseguia encantar crianças e no seu humor mais malicioso,
que divertia os adultos. Os interlúdios românticos e musicais fechavam tudo
como um grande entretenimento para a família.
A dupla Grande Otelo e Oscarito foi essencial
para as chanchadas e entre os galãs se destacava Anselmo Duarte (1920-2009) e
Cyll Farney (1925-2003). Como vilão, José Lewgoy (1920-2003) deu vida a
diversos personagens malvados, enquanto que a mocinha ingênua ficava por conta
da atriz Eliana (1926-90).
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Anselmo
Duarte e Eliana em cena de “Aviso aos navegantes” (1950)
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A chanchada foi vinculada ao cinema sonoro, uma vez que a música (na maioria carnavalesca) é o elemento essencial para o gênero, embora houvessem algumas exceções. O Gênero aparece no cruzamento de registros como: musical hollywoodiano, teatro de revista, vaudevile teatral parisiense e da commedia dell’arte. Seu esquema de narrativa inspirado na commedia dell’arte, por exemplo, encontra a devida estrutura:
- Mocinho e mocinha se metem em apuros;
- Cômico tenta proteger os dois;
- Vilão leva vantagem;
- Vilão perde vantagem e é vencido;
Já considerada um patrimônio nacional, mesmo
com uma origem negativa, as chanchadas acabaram perdendo sua preciosidade rococó. A onda de filmes eróticos que invadiu o cinema na década de 70, ganhou
o nome de pornochanchada, relativo aos filmes eróticos que também (para o bem
ou para o mal) são genuinamente brasileiros.
Não se pode falar de Chanchada, sem citar a
Atlântida, produtora fundada pelos irmãos José Carlos Burle e Paulo Burle,
juntamente com Moacyr Fenelon em 1941 no Rio de Janeiro. No início o estúdio
produzia filmes com pretensões artísticas, como “Moleque Tião” (José Carlos
Burle, 1943) e “É Proibido Sonhar” (Moacyr Fenelon, 1943). Em “Também somos irmãos”
(José Carlos Burle, 1949), um viúvo quinquagenário que não pode ter filhos, adota
quatro crianças: duas brancas e duas negras. Se na infância tudo parecia bem,
no decorrer do tempo as coisas mudaram drasticamente. As limitações aos negros
vão se acentuando ao ponto de se transformarem em graves humilhações.
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Cena do filme: “Também somos irmãos” (1949) |
De maneira direta ao mostrar um racismo não
velado e com uma história simples que não se passa longe das periferias,
“Também somos irmãos” incomodou. Os brancos de sentiram desconfortáveis e
atingidos com o discurso (a realidade às vezes pode chocar) do filme enquanto
os negros ainda não eram politizados o suficiente para alcançarem a mensagem da
obra. O resultado foi o fracasso do filme. A Atlântida que sonhava com
adaptações literárias resolveu ir para um lugar mais seguro e rentável com a
chanchadas. “Tristezas não pagam dívidas” (Ruy Costa e J. C. Burle, 1944) traz
as lições de alegria de viver tropical e respostas veladas aos problemas
materiais da companhia.
O diretor Watson Macedo foi um dos mestres do
gênero. Foi ele o grande responsável pela união da grande dupla Oscarito e
Grande Otelo, garantindo assim na Atlântida o incomparável reinado das
chanchadas ligadas aos cálculos de rentabilidade do distribuidor Severiano
Ribeiro, cujo grupo era dono das principais salas de cinema do Brasil. Ribeiro
detinha quase que a totalidade das ações da companhia e garantia o lançamento
do filme produzido, rentabilizando a excepcional força cômica da dupla.
Com mais de vinte e oito produções realizadas,
a Atlântida, como tantos outros estúdios brasileiros daquela época, também
sofreu com um incêndio que danificou o equipamento e consumiu seus arquivos. O
estúdio durou vinte anos no país e seu último filme foi “Os apavorados” (Ismar
Porto, 1962).
A Atlântida dominou em duração e quantidade
companhias como a Brasil Vita Filmes, Sonofilms e as recém-chegadas
Pan-American e Régia Filmes, no Rio de janeiro. Além da queda da qualidade, do
gosto de público que é normal que se renove a cada geração, o estúdio também
foi enfraquecido com disputas internas que fez com que diretores resolvessem
filmar por conta própria seus próprios filmes, seja melodramas ou
chanchadas.
Independente do gosto pessoal e de questionarmos
a qualidade dos filmes no sentido de um conteúdo voltado mais para a reflexão,
não podemos negar a participação da Atlântida na história do cinema brasileiro.
É fato que as chanchadas tinham um alcance de seu público já que o entendia e
retratava muito dos costumes brasileiros, criando assim uma identidade só nossa
nos filmes que foram lançados.
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