Análise da montagem
O filme a “A Rede
social” narra a história de Mark Zuckerberg, fundador do Facebook, que é
interpretado pelo ator Jesse Eisenberg. O filme acompanha o personagem de Mark
desde o surgimento da ideia até o sucesso com o Facebook, expondo intrigas que
surgiram nesse processo, e que levaram a batalhas judiciais.
O filme se desenvolve
entre um processo e outro, na justiça, onde a historia é acompanhada, através
de relatos, no tribunal; o que é comum em filmes de tribunal e julgamentos, onde
a historia é narrada, apresentando os fatos, que geralmente, são apresentados
na perspectiva de uma das personagens que conta em seu julgamento como tudo
aconteceu.
Até essa parte o filme
apresentaria uma abordagem simplista, mesmo com insertes e com o uso de
flashbacks reveladores. O que da a Rede Social, uma forma mais interessante e mais
atraente é a montagem, e a forma de se colocar os fatos em ordem, dentro da
narrativa. Um elemento importantíssimo dessa forma, é a presença da música e da
trilha sonora, que ajudam a pontuar a estrutura da montagem que por vezes é
guiada de forma rítmica pela trilha sonora.
Logo na abertura do
filme na aparição dos logos das produtoras, ouvimos um som marcante da trilha,
como se anunciasse algo do qual não se esperava em um filme de biografia de um
empresário bem sucedido. As passagens de uma cena para outra ou até de um plano
para outro é sempre seco, marcando esse ritmo de constante quebra do olhar do
espectador, assim que aparece a primeira imagem, temos um Pub, lotado e
acompanhamos uma conversa entre Mark e Erica (Rooney Mara), a música passa a fazer
parte do som ambiente, planos e contraplanos marcam o dialogo de apresentação
do personagem de Mark, onde são reveladas as características da personagem
principal, como sendo alguém distante, do convívio social, e com dificuldades
de manter um relacionamento. Pode-se perceber desde deste momento que a maioria
dos planos são próximos, bem intimistas, colocando o espectador bem próximo
daquele universo, essa é uma característica quase predominante no filme
inteiro.
Quando Mark é
rejeitado, inicia-se a trilha que esta presente em quase todo o filme, uma
trilha melancólica, que evidencia o estado de espírito da personagem, assim que
Mark deixa o Pub, inicia-se uma sequência, ao som da trilha, com planos da
cidade,da faculdade de Havard, em um tom de coloração escuro e melancólico,
Mark é acompanhado por diversos planos sequências pelo caminho até seu
dormitório na faculdade, neste momento aparecem os créditos iniciais, essa
sequência é marcada por uma característica bastante forte no filme que é uma
montagem videoclipitica, onde a musica vai pontuado, os cortes e os
enquadramentos, essa primeira sequência dessa forma é marcada pela melancolia,
colocando o personagem como um jovem comum no mundo, e com o coração partido,
trazendo o “Homem de negócios” bem sucedido para uma forma mais humanizada. Os
planos são até mais lentos do que os da maior parte do filme, e fora a presença
marcante da trilha, os sons ambientes estão sempre presente, sendo evidenciados
antes mesmo que estejam presentes em vídeo, como se servisse de alerta ao
espectador, da forma como a montagem vai se conduzir, pois ela está muito
atrelada à forma como o som por sua vez é utilizado, fazendo as passagens secas
de um determinado momento para outro, em espaço, e até no tempo.
São utilizados alguns
insertes de texto durante o filme para mostrar datas e locais, mas não é
utilizado esse recurso quando se corta de uma ação do passado, e o julgamento,
isso deve ficar por conta do espectador entender, pois alem das rupturas secas,
e a falta de informações, não há nem uma mudança de coloração, essas idas e
vindas no tempo passam a ser incorporado na montagem como sendo tudo apenas uma
coisa só, ocorrendo um estranhamento apenas na primeira interrupção.
Os mesmos planos que
seguem Mark, pela cidade e pelo Campus da faculdade, são usados da mesma forma
dentro do prédio e dentro de seu dormitório, apenas diminuindo a proporção, até
tornar novamente os planos próximos e intimistas.
Inserte de texto marcam
os horários de postagens de Mark, em seu blog na internet, os planos começam a
ficar mais curtos, correndo da tela do computador, para as mãos e para o rosto
de Mark, até mesmo para outros garotos no quarto.
Enquanto Mark escreve
em seu blog inicia-se uma narração do que o personagem escreve, (falando mal da
ex namorada), os planos acelerados, revelam angustia de Mark, e também mostra o
impacto instantâneo por onde a mensagem pode se repercutir. É essa basicamente
a forma que é trabalhada na montagem o impacto em tempo real das redes sociais.
A sequência seguinte,
enquanto mostra Mark, hakeando os arquivos de foto da faculdade, para postar na
internet, inicia-se uma musica eletrônica com batidas pontuais, e são
apresentadas de formas videoclipiticas a vida social no campus da faculdade, entre
festas, e bagunça, em contraste, com os alunos presos no quarto em frente ao
computador, hakeando.O ritmo da musica e
os cortes de planos vão dando a ideia de como as coisas funcionam ao mesmo
tempo, e adiantam a ideia de “vida social de forma virtual”.
A montagem trabalha em
função de mostrar o caminho que fazem as mensagens circulando na internet,
mostrando o acesso em lugares diferentes, e mostrando as reações, diferentes
das pessoas, envolvidas, a forma como os planos são colados, e os movimentos de
câmera, em um balanço continuo de sequência, como por exemplo, se um plano em
uma sala, se encerra com a câmera se movendo para a direita, podemos acompanhar
num plano seguinte a continuação desse movimento, mas em outro contexto, dando
a forma de transporte da mensagem, em tempo real.
A apresentação de
Eduardo (Andrew Garfield) é feita de forma semelhante a sequencia de caminhada
de Mark pelo campus, com planos sequências, que o seguem até sua checada ao
quarto de Mark.
Com a chegada de
Eduardo, a música vai diminuindo, e a narração de Mark, explica a importância
de Eduardo para seus projetos. Inicia-se outra sequência pontuada pela trilha
sonora, dessa vez acompanhando mais de perto a reação das pessoas, em uma rede
social, a primeira parte da sequência vai de janela em janela, com no filme “Janela
Indiscreta” 1954 Alfred Hitchcock, o que muito provavelmente evoque a ideia da
vigilância da vida alheia. E coloca o espectador na posição de observador
daquelas pessoas, a montagem começa a encurtar os planos e as sequencias dando
um ritimo mais acelerado.
A sequência vai até o
quarto do diretor que é informado que a internet da faculdade foi derrubada
pelo grande numero de acessos, outro elemento que se destaca, é que os
telefonemas tanto quanto as conversas online no filme, são trabalhadas,
mostrando todos os pontos de emissão de informação, desse modo é possível se
ter noção de quão longe as informações chegam em um pequeno espaço de tempo,
através de tecnologia, dando ideia de conexão.
Essa primeira parte do
filme se encerra com o primeiro corte seco para a sala onde acontece um dos
julgamentos que Mark sofre, durante o filme. Só a partir desse momento se tem a
dimensão de o quanto Mark havia crescido depois do Facebook, e se tem um
Eduardo adversário de Mark, essa é uma das cenas mais longas no na sala de
julgamento, a maioria das outras intervenções entre a sala do julgamento e o
decorrer da historia que acontece paralelamente, temos um Mark imaturo, e
passando por problemas como um jovem comum, nada espetacular.
Durante o filme esses
cortes secos entre a sala de julgamento e a sequencia linear da história vão
aumentando, e apresentando ouros personagens, que desejavam processar Mark.
O interessante que
muitos desses cortes, completam movimentos de câmera, e até mesmo diálogos, de
um momento no tempo para outro, o que é conseguido pelos cortes secos e
rápidos, colocando as duas sequências numa dimensão única na linearidade da
história do filme.
Na cena em que Eduardo
e Mark, conseguem sair com garotas, por terem criado o Facebook, a montagem
segue os modelos rápidos, de cortes, dando mais ênfase em Eduardo, com uma
garota no em um Box de banheiro fazendo sexo, do que em Mark, que são mostrados
apenas os chinelos, a cena se passa um pouco antes dele se reencontrar com
Erica, e tentar se dissipar, sem sucesso, pois ela ainda estava chateada, com
ele. Esta sequencia, do banheiro, onde Mark e Eduardo parecem vitoriosos, e a
queda de Mark diante de um relacionamento, marcam, o ponto de virada de Mark,
dentro da história, de um rapaz tímido, tentando se socializar, para alguém que
não se importa com a sociedade, quer apenas o sucesso. A trajetória de Mark, no
filme é mais próxima de um astro de rock em ascensão, com esse tipo de
sequência, do que a de um empresário.
A apresentação do
personagem de Sean Parker (Justin Timberlake), acontece nesse clima de astro do
rock, a sua primeira cena, que é quando fica sabendo do Facebook, é iluminada,
de forma mais clara, dando a áurea mais leve e descontraída do personagem inconsequente,
e a relação de Mark e Sean Parker, é mantida nesse contraponto, mostrando como
Mark faz a transição para um mundo mais badalado socialmente, a maioria das
cenas com os dois pende de um lado para o outro de estado de espírito, planos e
contraplanos são mostrados, nos diálogos, e música alta ambiente faz os
personagens conversarem em um tom muito alto de voz, sugerindo um descontrole
de Mark, que até então se mantinha controlado com Eduardo, dando a ideia de uma
outra virada na postura de Mark que começa a entrar de cabeça nas ideias de expansão
de negócio de Sean.
A sequência seguinte é
outra no formato videoclipitica, onde mostra a competição dos gêmeos Winklevoss
(Armie Hammer) de remo. A sequência é toda trabalhada sobre o som da música, o
ritmo da competição, é evidenciado pelos planos rápidos, do esforço dos
atletas, em seus rostos e braços, e tomadas distanciadas, do rio, e do publico
da competição, além de planos da mudança no placar, tudo pontuado na batida da
musica que vai ficando intensa, e acelerada como os planos. Culminando na
derrota da equipe, dos Winklevoss, que é uma derrota antecedida, a descoberta
de que os negócios com o Facebook iam bem e gerava muitos lucros, e faz com que
eles se sintam lesados por Mark ter se aproveitado da ideia deles, a sequência,
impulsiona o sentimento do desejo de revanche dos Winklevoss, sobre Mark.
O que explica os cortes
para o processo que Mark, enfrenta, pelos Winklevoss, durante o filme.
Além das sequências em
forma de clipe e de sequências aceleradas, o filme ainda trabalha com outras
sequências em ritmo normal, com planos próximos e muitos movimentos de travelig
acompanhando os personagens, dando realismo e emoção, a certos momentos, tanto
na primeira cena no Pub, no encontro de Mark e Erica, quanto na ultima cena,
onde Mark conversa com a advogada, e também em algumas sequências com Eduardo,
como na cena em que ele descobre que foi passado para trás nos negócios, onde
temos planos subjetivos de Eduardo, e um movimento de câmera o seguindo até a
mesa de Mark, e tendo um ataque de raiva quebrando o computador, os cortes são
bem sutis, e percebemos a descontração emocional das personagens, acompanhando
a reação de Mark, Eduardo, Sean, e dos outros ao redor.
A montagem dessa forma
cria um equilíbrio emocional e envolve o espectador, com pistas e recompensa,
trazendo a historia para frente e para trás encaixando as peças, de forma
instigante, como é mais comum em suspense, não em biografias.
A rede social, é um
filme que trabalha na edição um equilíbrio e uma junção de som e imagem, recebeu 8 indicações ao Oscar, e venceu
vencendo na categoria de melhor roteiro(Aaron Sorkin) e melhor edição (Kirk
Baxter e Angus Wal) e melhor trilha original (Trent Reznor e Atticus Ross). E
também ganhou 4 globos de ouro, sendo um de melhor direção para David Fincher.
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A Rede Social - David Fincher, 2010 |
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