Texto de: Tarcísio Paulo Dos Santos Araújo
Quando falamos de cinema de horror, é comum
que alguns historiadores acabem dando mais ênfase nos filmes que marcaram o
expressionismo alemão, mais especificamente começando pelo filme “O Gabinete do
Dr. Caligari”, dirigido por Robert Wiene em 1919. Obviamente seu forte apelo
visual, com o uso de sombras e até a forma como o psicológico de seus
personagens são retratados de dentro para fora, são um verdadeiro marco para o
gênero. Mas será que o horror já era abordado antes dos filmes expressionista
produzidos na Alemanha?
Não faltam elementos que caracterizam o terror
gótico como casas velhas (embora no caso do romance se trate de um castelo),
aparições, quadros cujas imagens se movem, passagens secretas, entre outros. A
partir daí, surgiram mais clássicos da literatura como “Dracula”, escrito por
Bram Stoker em 1897 e o grande clássico “Frankenstein”, escrito por Mary
Shelley em 1818.
No cinema podemos considerar como o primeiro
filme de terror já feito, o curta-metragem “A Mansão do Diabo” (Le Manoir du Diable, 1896), de George Méliès,
produzido em 1896. Lembrando que só fazia um ano em que a primeira exibição
pública de um filme havia sido realizada no mundo, com o curta “ A Chegada do
Trem na Estação” (L'Arrivée d'un train en gare de La Ciotat, 1895), dirigido
pelos irmãos Auguste Lumière e Louis Lumière.
Disponíveis no Youtube, é óbvio
que “A Mansão do Diabo” dificilmente assuste alguém que o veja, sem contar que
Méliès antes de tudo, era um grande mágico, o que dá ao filme um tom mais
divertido como o de se estar vendo um show de mágicas, aqui feitas através de
diversos truques com a própria câmera. O caso é que esses filmes trazem
visualmente diversos elementos que fazem parte do gênero do terror, como
esqueletos, fantasmas, morcegos e claro, o próprio
diabo.
Em 1907 o espanhol Segundo Víctor Aurelio
Chomón y Ruiz, dirigiu na França “O Espectro Vermelho” (Le Spectre Rouge), que
traz um espectro fazendo suas “maldades” para a plateia. Bem semelhante aos
truques feitos por Méliès em “A Mansão do Diabo”, aqui pode-se notar uma
produção caprichada, comparada a anterior. Com direito a cores (com a película
pintada à mão) o espectro faz diversos truques bem semelhantes aos truques de
mágica que conhecemos.
Em 1908 o terror no cinema ganha uma casa. “A
Casa Assobrada” (La Maison Ensorcelée), também dirigida na França por Chomón, conta
a história de um grupo de pessoas que ao andarem por uma estrada, avistam uma
casa e resolvem ficar por lá. Não demora muito para coisas surreais acontecerem
no lugar. Também disponível no Youtube, o curta-metragem faz um notável uso da
técnica stop motion para mover
objetos que parecem criar vida própria.
Já em 1910, os Estúdios Edison (fundada por Thomas
A. Edison em 1894, e responsável pela produção de por volta de 1.200 filmes),
lançou em o que seria a primeira versão de Frankenstein para o cinema. Com
duração de pouco mais de 12 minutos, o curta não tem tanto tempo para
desenvolver outras storylines, focando basicamente apenas no Dr. Frankenstein,
sua noiva e sua grande descoberta: o segredo da vida. O Monstro é bem diferente
tanto fisicamente quanto psicologicamente do famosos Monstro de James Whale na
versão de 1931. Aqui a criatura não ganha dimensões psicológicas, muito menos
há a humanização da mesma. O grotesco ganha mais força e o destaque está na
cena em que o Monstro é criado pelo cientista. Em uma espécie de caldeirão,
como se fosse uma obra de feitiçaria, a criação consiste em um esqueleto que
vai aos
poucos ganhando “carne” até que esteja
totalmente constituído.
Entre os filmes que mais se aproximam do
terror/horror, produzidos ainda quando o cinema dava seus primeiros passos,
“Inferno” (L'Inferno, 1911), foi dirigido na Itália por Francesco Bertolini,
Adolfo Padovan e Giuseppe de Liguoro.
Livremente baseado na Divina Comédia de Dante, o longa tem mais de uma hora de
duração e traz um capricho notório em sua produção, assim como efeitos especiais
bem diferenciados. Todos os “círculos” que compõem o inferno podem ser
conferidos na obra, como o limbo, vale dos ventos (luxúria), entre outros.
Entre as técnicas usadas estão a sobreposição de imagens, fantasias de
monstros, imagens ampliadas e projetadas sobre cenários em dimensões normais,
pinturas corporais, colagens de chifres, e até cabos que suspendiam os atores. Um verdadeiro show de criatividade.
O longa foi feito com base nos desenhos de
Gustave Doré, famoso ilustrador de livros Francês e que ilustrou o livro A
Divina Comédia de Dante em 1861. Pouco lembrado por historiadores, “Inferno”
fecha assim a pequena lista de filmes que tiveram um destaque no cinema de
horror/terror que antecederam o expressionismo alemão.
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