quarta-feira, 21 de junho de 2017

O Celuloide Secreto

Texto de: Tarcísio Paulo Dos Santos

Aproveitando o mês do orgulho LGBT, nada melhor do que indicar um ótimo documentário que retrata a história do cinema LGBT americano. “O Celuloide Secreto” (The Celluloid Closet, 1995), dirigido por Rob Epstein e Jeffrey Friedman e conta com um interessante panorama sobre a representatividade de gays, lésbicas, bissexuais e transgêneros do cinema mudo, até o ano em que o documentário foi produzido. Claro que muita coisa mudou de 1995 para cá e filmes como “Meninos Não Choram (Boys Don't Cry, 1999), “O Segredo de Brokeback Mountain (Brokeback Mountain, 2005), “Tomboy” (2011), “Carol” (2015), entre outros, trouxeram ainda mais representatividade e abordaram a sexualidade humana com cada vez mais naturalidade, tratando-a como uma simples característica na vida de seus personagens.

Mas voltando ao documentário, o longa fala da influência do cinema americano no pensamento de como os heterossexuais viam os homossexuais, assim como o próprio homossexual se via na tela. No começo a homossexualidade era pouco retratada nos filmes e quando havia uma abordagem, ela era muitas vezes motivo de chacota, pena ou algo a se temer. Isso era bem comum no cinema mudo, porém fica o questionamento se ainda assim essa retratação ainda teria sua importância na visibilidade LGBT.

A Wanderer of the West (1927)


Com o código Hays, Hollywood se viu obrigada a retirar qualquer cena que retratasse situações como: beijos com a boca aberta, prostituição, aborto, nudez e claro, homossexualidade. Coube então a indústria Hollywoodiana ser extremamente sutil a ponto de muitas cenas que sugeriam a homossexualidade de algum personagem em seu subtexto, passarem batido pela censura da época. Gays e lésbicas então eram retratados de forma muito sutil e na grande maioria, costumavam ser os vilões das histórias.

Rebecca, A Mulher Inesquecível (1940)

A Filha de Drácula (1936)

Enquanto isso na Inglaterra, é lançado “Meu Passado me Condena” (Victim, 1961), longa que traz como protagonista um advogado homossexual, que tenta ajudar outros homens gays que estão sendo chantageados por um homem que ameaça expô-los perante a sociedade. A partir dessa época, voltando a Hollywood, o código Hays perde sua força e cineastas decidem abordar a homossexualidade com mais franqueza. Personagens gays e lésbicas nessa época eram geralmente retratados como pessoas infelizes, potencialmente suicidas e condenados a viverem uma vida nas sombras, sempre às escondidas. O documentário traz a ideia de que essa liberdade sexual, teria um preço bem alto para os personagens. 

Meu Passado me Condena (1961)

Tudo começa a mudar na década de 70 com filmes como “Os Rapazes da Banda” (The Boys in the Band, 1970), “Cabaret” (1972), “Priscilla, a Rainha do Deserto” (The Adventures of Priscilla, Queen of the Desert, 1994) e “Garotos de Programa (My Own Private Idaho, 1991), que colocam personagens LGBTs como protagonistas de suas próprias vidas e como bem observa um dos participantes do documentário, esses filmes não fazem uma retratação positiva de personagens gays, lésbicas, bissexuais e transgêneros, mas sim uma retratação REAL dos mesmos.

Os Rapazes da Banda (1970)  

Cabaret (1972)           


Com várias entrevistas com diversos atores, historiadores, escritores, diretores e uma porção de filmes para qualquer cinéfilo ir correndo pôr em sua lista de filmes, “O Celuloide Secreto” é perfeito na forma como traça um panorama sobre o cinema LGBT.  


Priscilla, a Rainha do Deserto (1994)



Garotos de Programa (1991)



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