quinta-feira, 2 de março de 2017

La La Land – Cantando Estações

Análise do filme“La La Land – Cantando Estações” (Damien Chazelle,  2016)

Ainda no clima de semana de Oscar, porque não falar sobre La La Land de Damien Chazelle diretor que ficou conhecido por seu trabalho em (Whiplash - Em Busca da Perfeição, 2014).

La La Land – Cantando Estações levou seis estatuetas para casa e acabou sendo um dos pivôs de uma das maiores gafes da historia da premiação, quando teve seu titulo anunciado como o melhor filme do ano, quando na verdade o vencedor era “Moonlight: Sob a Luz do Luar”.

Tudo isso acabou repercutindo as redes sociais e de certa forma atraindo mais olhares para os dois filmes, que possuem seus méritos próprios cada um a seu estilo. 

La La Land é um musical que chegou com potencial de filme inovador, e durante a temporada de premiações acabou atraindo o olhar dos críticos e consequentemente do público, o que é difícil acontecer quando se trata de um musical. Apesar das expectativas em torno do filme ele acabou não ganhando o reconhecimento de melhor filme pela academia do Oscar, e de modo geral não dialoga com o grande público, já que este tipo de produção não tem a tradição de arrastar multidões ao cinema, mas afinal o que torna La La Land tão especial?



Para começar o filme trabalha a questão da própria indústria cinematográfica, funcionando de duas formas: uma na qual presta uma homenagem ao próprio gênero musical da era de ouro do cinema, tanto na estética como na abordagem das danças e das musicas e de como isso se reflete na construção da sua forma fílmica na escolha de planos e enquadramentos, que funcionam muito bem, diga-se de passagem. A outra forma é a critica ao sistema por trás da indústria dos sonhos hollywoodiana, uma indústria que por vezes é displicente com os artistas e com o público e que busca o lucro acima de produções artísticas, colocando em cheque se vale mesmo apena trabalhar nela.

O enredo trás um casal de sonhadores e cada um a seu modo acaba refletindo a ideia dos sonhos e da critica aos padrões de Hollywood, de um lado Mia (Emma Stone) uma jovem aspirante à atriz de cinema, que trabalha como garçonete em Los Angeles, que batalha entre uma audição e outra a chance de um dia poder mostrar o seu talento e se tornar uma grande estrela.


Por outro lado temos Sebastian (Ryan Gosling) um jovem musico pianista e perfeccionista, que não aceita as mudanças na indústria da música, onde o Jazz clássico não tem espaço na mídia ou nos bares, por isso, mesmo tendo muito potencial e talento, acaba levando uma vida medíocre tocando em restaurantes para sobreviver.



O filme trabalha explorando as cores na construção dos personagens e das cenas, são as cores que refletem o estado de espírito dos personagens evidenciando suas posições diante da vida. Se Mia sonhadora mora em uma casa colorida, com muitos objetos coloridos que de uma forma ou de outra revelam os seus desejos ainda não alcançados, Sebastian por outro lado mora em uma casa bagunçada com poucos objetos e cores neutras pelos ambientes, mostrando uma faceta já desiludida e vazia do personagem.

As cores no filme vão além dos figurinos e da direção de arte, que abusando de contrastes, mas vão as cenas externas em planos que captam paisagens belas e coloridas em um trabalho excelente de fotografia, que é o grande destaque do filme, que consegue fazer recortes da cidade fazendo com que ela adquira vida além do que de costume, isso se torna possível também pela forma que a iluminação é feita para evidenciar as cores em um jogo de luz e sombra, também vindas da era clássica de Hollywood, desse modo, os cenários evidenciam os sentimentos dos personagens, mas também por vezes os oprimem e nos fazem ter a ideia de que os sonhos estão se desmanchando.






As canções presentes no filme tem um cunho melancólico que contrasta com as cores vibrantes, e também contribuem com o espectador revelando as angustias vivida pelo casal que está fardado de uma forma ou de outra a não atingir seus objetivos já que isso não seria possível, revelando embate entre sonho e realidade. Além das canções originais o filme também trás músicas já conhecidas para dentro de sua trilha, como Take on me (A-há), e I Ran So Far Away (A Flock Of Seagulls), clássicas dos anos 1980 famosas por acrescentarem sons eletrônicos e sintetizadores no pop rock, no filme essas músicas contribuem como mais um objeto de nostalgia e ajudam a estruturar a narrativa que percorre por através do tempo os gêneros musicais e cinematográficos a fim de mostrar a força da indústria e como isso reflete na forma que consumimos música e cinema.

O filme se estrutura a partir desses elementos de referências da música e do cinema e da evolução da indústria e também através das estações do ano que são expostas em intertitulos na tela que guiam as sequências de acontecimento, dando uma ideia de linearidade ao filme que é feito nos moldes dos filmes clássicos, porém ele não segue linear e quebra com a expectativa do público que é guiado para outros caminhos, que mesclam sonhos, realidade e fantasia.



 Dialogando através da estética visual que acaba expressando mais que a própria música em si no filme, fazendo de um filme de referências um filme de crítica ao invés de homenagem, e um musical que encanta mais pelas imagens que pela dança e canto onde La La Land é a cidade de Los Angeles (LA)  dos sonhos e das fantasias, onde nem tudo é o que parece ser. 


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