Xavier Dolan traz uma
conturbada e complexa relação familiar em
“É Apenas o Fim do Mundo”.
Por: Tarcísio Paulo dos Santos
O Canadense Xavier Dolan surpreende por seu talento que pode
ser conferido nos sucessos de “Amores Imaginários”, “Eu Matei Minha Mãe” e
Mommy. Com apenas vinte e oito anos de idade, o cineasta já conta com sete
filmes no currículo, incluindo seu mais novo filme “A Morte E Vida De John
F.Donovan” que deve estrear só no ano que vem.
Seu mais recente filme, “É Apenas o
Fim do Mundo” (2016), conta a história de Louis, um escritor que está muito
doente e tem pouco tempo de vida. Depois de doze anos longe de sua família,
vivendo na cidade grande, o jovem resolve voltar para comunicar sua doença. O
longa é baseado na peça teatral homônima de Jean-Luc Lagarce, escrita em 1990 e
que tem características da própria vida do autor.
Podemos
esperar os excessos no comportamento dos personagens, que aliás são uma característica
nos filmes de Dolan, não demorando muito para entendermos os motivos que
fizeram Louis sair logo de casa. Esse é o tipo de narrativa que nos ganha pelos
personagens, mesmo porque esse é um filme de personagens. A fotografia privilegia
closes nos atores, destacando bem suas expressões, sensações e sentimentos.
Se
por um lado vemos aquela família falando em voz alta, muitas vezes atropelando
a fala do outro, basta termos paciência para que as camadas dos personagens
sejam pouco a pouco descobertas por nós durante diálogos cheios de
sensibilidade.
A
ausência de Louis é sentida por todos na casa, e podemos notar a importância
que ele tem para cada integrante da família, que tem uma relação diferente com
o protagonista. Léa Seydoux,
interpreta Suzanne, irmã de Louis que ainda era criança quando o irmão foi
embora. Mais velha, a jovem vê na chegada do irmão a oportunidade de ter alguém
com quem desabafar e falar sobre si, como uma fuga da própria família, que por
mais que ela goste, também parece entender o lado de Louis.
Catherine
(Marion Cotillard), interpreta a cunhada de Louis, que ainda não o conhecia
quando o mesmo foi embora de casa. Ela é uma das personagens mais
interessantes, pois logo percebemos a forma como ela tenta conhecer melhor
Louis, enquanto é constantemente criticada por Antoine (Vincent Cassel), seu
marido. A personagem parece sempre trazer consigo um nervosismo ao falar, fruto
de uma possível baixa autoestima. Ela estabelece uma interessante conexão com
Louis em uma cena muito instigante e aberta a interpretações, sobre o fato de
ela suspeitar (ou não) do real motivo que levou Louis a voltar a ver seus
familiares.
Já
a matriarca (Nathalie Baye) da família é uma mulher expansiva que adora
exagerar na maquiagem e falar o tempo todo. Porém, somos depois surpreendidos
em uma cena, bem comovente, em que a mulher e Louis conversam sobre sua partida
e a importância de seu retorno como forma de unir a família. Percebemos que a
mãe do personagem é muito mais do que aquela mulher expansiva e que parecia tão
superficial.
Por
último temos Antoine, já mencionado acima. O irmão mais velho de Louis é um dos
personagens que mais se destacam no filme, tanto positivamente, quanto
negativamente. Sua postura é uma das mais irritantes, uma vez que adora
criticar todos o tempo todo, não poupando nem mesmo o irmão recém-chegado. Por
trás desse comportamento (que deve irritar muito o espectador, mas que vale a
pena aguentar) existe um personagem cheio de sentimentos não expostos, além de
um complexo de inferioridade com relação a sua profissão e uma grande mágoa
pela partida de seu irmão. O personagem então responde a tudo isso usando uma
espécie de armadura de agressividade.
Em
meio a tudo isso, o filme cria ainda momentos de tensão com relação a revelação
da doença de Louis, que não consegue contar nada para a família de imediato.
Além disso, o filme trabalha uma nostalgia do personagem com relação a um
ex-namorado que marcou sua adolescência, em momentos que combinam música e
câmera lenta que parecem evocar uma sinestesia olfativa e até tátil no próprio
espectador, como quando o personagem encosta o rosto no seu antigo colchão.
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