sábado, 11 de fevereiro de 2017

O Reflexo da Maldade

O poder da Imaginação na infância é retratado em “O Reflexo da 

Maldade”

Texto de: Tarcísio Paulo Dos Santos Araújo

Seth (Jeremy Cooper) é um garoto de sete anos que vê o mundo ao seu redor de uma forma diferente. Depois de ir até a casa de sua vizinha, Dolphin (Lindsay Duncan), ele passa a acreditar que a mulher é uma vampira. Quando seu irmão mais velho, Cameron (Viggo Mortensen), volta da guerra e se apaixona pela mulher, o menino começa a fazer de tudo para impedir o relacionamento entre os dois.



Através desse duplo universo entre imaginação e realidade, somos convidados a embarcar na história de “Reflexo da Maldade”. Se de um lado temos Seth, como um menino com poucos amigos e cheio de imaginação vivendo no interior, temos do outro, uma vida mais dura. O filme toca em questões pesadas para uma realidade infantil, como pedofilia, abuso infantil, assassinatos e as consequências da guerra.

O curioso é que na verdade, o lado imaginativo de Seth não procura amenizar a realidade à sua volta. O menino tem uma mãe que o castiga e pouco parece se importar com o ele, além de um pai acusado de pedofilia no passado. Como se não bastasse, um 



misterioso carro preto costuma andar pela cidade (aparentemente) recolhendo pessoas e as matando, deixando os corpos em lugares diferentes.

Em meio a isso tudo, o menino parece buscar na volta do irmão mais velho, uma tentativa de escapar de sua realidade, embora muitas vezes não percebemos que o garoto pareça sofrer com a maneira que vive. O filme fica mais interessante quando entra em questões como o sentimento de perda, por conta da guerra. Ficamos divididos entre os relatos de Dolphin que perdeu seu marido e que nunca mais conseguiu se recompor. A mulher traz em seu sofrimento um pouco de excentricidade que para os olhos de Seth, faz dela uma vampira. O mesmo acontecerá quando Cameron começar a se envolver com a mulher. Se de um lado torcemos para o casal, do outro tentamos entender o temor de Seth, que também é carente de afeto e atenção, e que tenta desesperadamente “salvar a vida” do irmão.



É curioso que mesmo com algumas travessuras, percebemos como o filme parece explorar uma possível tendência do menino em adquirir um comportamento mais violento, mesmo que o menino não faça nada contra ninguém. Pelo menos não de forma direta. A morbidez também tem um importante papel na vida de Seth. O garoto encontra um bebê morto e passa a acreditar que a criança seja seu amigo, que foi achado morto dentro da caixa d’água de sua própria casa.

Tudo isso é concebido com planos abertos muito bem elaborados, principalmente pelo destaque das cenas em que vemos a casa de Dolphin em meio a um milharal seco que parece reforçar a sensação de imponência através da perspectiva de Seth.



“O reflexo da Maldade” é um interessante filme sobre a perda da inocência, além do retrato de uma infância negligente e sem afeto que pode ter preocupantes resultados futuros para um menino de sete anos.

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