“Os Encontros de Anna”,
um ensaio sobre a desconexão
Texto de: Tarcísio Paulo Dos Santos Araújo
Em um plano geral de
um metrô, uma escada que segue até o subsolo do mesmo, pode ser vista
centralizada no enquadramento. Um número considerável de pessoas se aproximando em
direção à escada. Entre elas está Anna, que desiste de descer e vai até uma
cabine telefônica onde faz uma ligação para só depois descer as escadas.
Sozinha, a personagem já nos foi apresentada de uma maneira que será muito
importante para o tema do filme.
Assim começa “Os Encontros de Anna”, filme de 1978, dirigido
por Chantal Akerman, falecida em 2015. Anna é uma cineasta que está divulgando
o seu filme pela Alemanha, Bélgica e França. A narrativa acompanha a personagem
por essas viagens nas quais ela conhecerá pessoas novas e reencontrará outras
já conhecidas, que irão compartilhar muito de suas vidas com a própria personagem,
e consequentemente com o espectador.
O filme trata da falta de conexão de Anna com as pessoas
ao seu redor, além de não conseguir criar laços com as mesmas. Toda
possibilidade para ela, parece ser algo impossível. Voltando aos planos gerais,
o espectador poderá notar que eles serão uma constante no filme, assim como a
câmera parada enquanto a ação, muitas vezes banal, acontece. Isso é comum nos
filmes de Akerman, que tem seu cinema considerado por alguns críticos como hiper-realista,
uma vez que o banal que acaba sendo extraído no cinema clássico, ganha nos
filmes da cineasta total importância dentro do contexto da narrativa.
Nesse
cinema de observação, Anna conhece Heinrich, um professor que estava na
exibição de seu filme, que por sinal não é mostrada para nós. Em mais um plano
geral, podemos ver Anna e Heinrich conversando ainda dentro do cinema cujas
luzes vão se apagando e deixando o casal no escuro, que se vê obrigado a sair
do local. Esse simples acontecimento, somado a câmera estática, parecem
simbolizar que não teremos um típico casal que dará certo. Temos também um
mundo monótono aos olhos de Anna, que em boa parte do filme, não se mostra uma
mulher triste com a vida, retratando mais uma mulher cuja vida está ligada no
automático, somada a falta de esperança no outro.
Até mesmo com sua mãe a personagem traz um certo
distanciamento, mas ainda assim, ambas dividem algumas confidências como
detalhes sobre a sexualidade de Anna, que são contadas para a mãe. Esse momento
é um dos poucos que ainda trazem um certo conforto para o espectador.
Com um cinema puramente de observação e de ações sutis que
revelam muito dos aspectos da vida de seus personagens, “Os Encontros de Anna”
é um filme que consegue prender por sua sensibilidade, poesia visual e ao mesmo
tempo um realismo na narrativa, onde o trivial pode fazer total diferença em nossas vidas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário