Dificuldades de se
começar um novo empreendimento ganham elementos do cinema fantástico em
“Trabalhar Cansa”.
Texto de: Tarcísio Paulo Dos Santos Araújo
Parceiros em diversos curtas-metragens, o primeiro
longa-metragem da dupla Marco Dutra e Juliana Rojas, foi exibido em Cannes, na
mostra “Um Certo Olhar” em 2011. A aproximação da dupla com um universo voltado
para o estranho e para o fantástico já esteve presente em curtas como “Lençol
Branco” (2004) e “Um Ramo” (2007), que podem ser conferidos no Youtube.
Mesmo com uma sinopse que vende o filme como sendo do gênero
do terror, é preciso esclarecer que o longa não se trata de um filme mais
convencional como estamos mais acostumados a ver. “Trabalhar Cansa” tem uma
narrativa um pouco mais lenta, com situações que evocam uma estranheza e
sensação de que algo está errado. E não é para menos.
A narrativa vai fundo na dificuldade enfrentada
pelo casal e na tentativa de se erguer e fazer dá certo o minimercado aberto
por Helena. Para isso, não faltam problemas de ordem natural como funcionário
que rouba mercadoria e clientes pouco simpáticos que reclamam dos preços. Mas
além disso, e por se tratar de um filme que usa elementos do fantástico, claro
que também existem os elementos utilizados de forma muito eficaz para retratar
essa crise vivida pelo casal que se dá através de fatos estranhos. Podemos
conferir isso no cachorro que late para Helena sem motivo aparente, quando a
mesma fecha o estabelecimento todas as noites ao ir para casa, ou até no cheiro ruim que surge
Há ainda espaço para a discussão da importância do registro
das empregadas domésticas, uma vez que a moça contratada para trabalhar na casa
da Helena, acaba se sujeitando a trabalhar sem registro por não ter ainda experiência
e pela necessidade do trabalho. Não que Helena seja uma pessoa que não saiba a
importância do registro e que não queira registrar a moça, mas porque o filme
deixa bem claro ambas as situações difíceis enfrentadas pelas personagens no
momento.
Tudo isso nos é mostrado através de uma fotografia com tons
acinzentados que reforçam uma sensação de pessimismo e incerteza do futuro de
Helena com relação a sua tentativa de ter o próprio negócio.
Além disso temos um monstro. Seria ele um monstro qualquer
que resolveu se infiltrar nas paredes do mercado, ou seria ele a representação
de algo mais? Independentemente do que seja, vemos como Helena e Otávio
precisam enfrentar juntos essa crise que assola os primeiros meses do novo
investimento, de uma forma que exorcize todos os seus
problemas para poderem seguir em frente. E é no monstro que encontramos
exatamente essa catarse no final que simboliza a superação de uma crise.
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