domingo, 1 de janeiro de 2017

The OA - ultima série de 2016

1° dia de janeiro, dia de fazer promessas e colocar o ponto inicial nas listas que prometemos fazer de séries filmes e livros para o ano, além atualizar as postagens do blog, esse ano acredito que terei mais tempo e farei isso com mais tranquilidade e frequência, mas comentar criticar e recomendar filmes livros e séries requer tempo para assistir e dar uma estudada nos conteúdos que são produzidos, borá lá então...

Sem mais delongas o ano de 2016 foi promissor com o que se refere à produção de séries, assistimos a consagração da Netflix, que acrescenta a seu catalago suas próprias produções e, diga-se de passagem, trazendo ao mundo do entretenimento uma maior diversidade de temas e formas de se produzir audiovisual seriado, várias equipes de produção de muito talento com artistas que por vezes descartados pela grande mídia televisiva ou a do cinema, encontraram o lugar ideal para inovar, o serviço de streaming abriu espaço para produções mundiais que trazem um novo frescor ao universo do cinema.

Durante o ano a estrela do catalogo foi à aclamada série “Stranger Things” (Matt Duffer, Ross Duffer), a qual com certeza faremos análise aqui no blog, mas o ano fechou muito bem com a série “The OA” com uma primeira temporada encantadora, que agarra o espectador já em seu piloto, com um roteiro enigmático que consegue segurar a atenção durante os 8 episódios da primeira temporada, se você gosta de ficção cientifica a série é para você, ela aborda teorias de viagens no tempo e, questões de experiências de vida pós morte, tratando de forma muito singular e criativa a experiência de quase morte (EQM).


The OA, trás como protagonista Prairie (Brit Marling) uma jovem misteriosa que é encontrada no primeiro episódio depois de uma tentativa de suicídio.  Ela havia passado 7 anos desaparecida e antes de retornar a sua cidade natal era uma garota cega, agora podia enxergar o que foi considerado um milagre na região onde morava, porém no decorrer dos episódios a história vai se desenrolando de uma forma bem interessante em duas camadas de montagem, uma na qual   Prairie ou OA, como ela gosta de ser chamada, está aprendendo a voltar a vida depois de anos desaparecida, e outra camada na qual ela narra sua própria história e conta tudo que aconteceu desde que desapareceu.

Esse modo de montagem torna tudo muito envolvente, pois nos são apresentados todos os personagens que estão envolvidos na trajetória da Prairie, tudo que acontece em sua vida e como deixou de ser cega vai sendo explicado (neste post não darei spoilers).

Fora uma boa premissa de uma boa narrativa complexa de ficção cientifica, a série aborda questões de misticismo, amadurecimento e comportamento humano, com uma boa pitada de teorias filosóficas e psicológicas, além de referencias dentro do cinema, filmes como “Pacto sinistro” (Alfred Hitchcock) de 1951, e nomes como Stanley Kubrick, são citados pelos personagens e não para por ai só nas citações, a série trás referências estéticas dos grandes mestres do cinema durante os episódios, que os bons observadores e cinéfilos vão perceber.

Os personagens giram em torno da protagonista, basicamente dois núcleos um nos dias atuais durante a série, um grupo de adolescentes estudantes disfuncionais, com problemas de comportamentos e familiares, que se juntam a Prairie e passam a escutar suas histórias, é através desses momentos que temos acesso ao passado sombrio da personagem, e aos personagens do segundo núcleo, que estão nas lembranças da personagem que se abre aos garotos fazendo revelações que passa a mudar suas rotinas e comportamentos.




Esse modo como a série se desenrola faz com que se crie empatia pelos personagens de forma rápida, mesmo que muitos deles sejam pessoas não muito agradáveis, com histórico de violência ou uma professora de meia idade sem muitos atrativos a principio. As rodas de conversa faz com que eles partilhem suas experiências e possam se conhecer assim como em terapias de grupo ou algo muito próximo do que acontece do filme “Clube dos Cinco” (John Hughes) de 1985, nas rodas de conversa enquanto os personagens estão presos conseguimos entende-los melhor, e, diga-se de passagem, o número 5 de personagens é o número da série, e cada um deles são apaixonantes, cada um a seu modo.

A fotografia da série é um charme a parte, lembra muito filmes “indies” Europeus, e por vezes temos planos realísticos de bairros e casas, que também nos remete ao cinema brasileiro contemporâneo, dando aquele toque de filme independente de baixo orçamento, uma estética muito recorrente quando a produção quer abordar um realismo quase documental. Muitos planos são bem aproveitados com luz natural e com a ausência de luz, que nos remete a escuridão vivida pela personagem que boa parte da série é cega, mas também a cegueira interior e a jornada de autoconhecimento que se enfrenta no desenrolar da trama, temos planos e insertes belíssimos da natureza e dos ambientes num geral, porém a fotografia não para no naturalismo, como dito a série se desdobra em uma montagem complexa de camadas tanto nas narrativas, na montagem, mas também na fotografia, temos momento místicos, nos quais a proposta é feita de forma minimalista sem medo do clichê e funciona muito bem as imagens de experiência de quase morte dos personagens que viajam por outras dimensões, dando imagens simples e muito bonitas dessas experiências ao espectador.


A atriz Brit Marling, que interpreta a protagonista, é uma roteirista e também uma das criadoras da série, um trabalho recente dela que trás um pouco da atmosfera da série é o filme “O sistema” de 2013, dirigido por Zal Batmanglij, que também dirige a série, a dupla já funcionou bem antes, a relação do filme com a série é apenas no que desrespeito a critica a sociedade pós-moderna capitalista, através de uma dose de misticismo e ideias de autoconhecimento.

Aproveite que o ano esta só começando e assista The OA, vale muito apena, comente o que achou, em breve poderei fazer mais análises dos episódios.

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