sábado, 14 de janeiro de 2017

Häxan - A Feitiçaria Através dos Tempos

O cinema independente, mais precisamente o do gênero do terror, já falou sobre bruxaria no último “A Bruxa de Blair” de Eduardo Sánchez, e Daniel Myrick. O filme não chega a ser exatamente sobre o tema bruxaria, focando mais na investigação (no formato found footage) de três jovens sobre uma lenda de uma bruxa que sacrificava crianças. O longa se tornou um enorme sucesso na época de seu lançamento, arrecadando 248 milhões nas bilheterias. 

“A Bruxa de Blair”  - Eduardo Sánchez
 

No ano passado o tema voltou a ser abordado em “A Bruxa”, do diretor estreante Robert Eggers, que foi muito elogiado pela crítica ao tratar de forma extremamente fiel, a vida de uma família por volta de 1630 que se vê vítima de bruxaria.

 “A Bruxa” - Robert Eggers
  

Embora nesse último a história se passe numa época em que ainda existia a caça às bruxas, ambos os filmes conseguem criar uma atmosfera incomoda o suficiente para conquistar o espectador ao criar um desconforto com aquilo que muitas vezes não pode ser visto, ou com situações mais sinistras.

Mas para quem não sabe, a bruxaria já foi mencionada no cinema mudo, e de forma muito madura. Em 1922 foi lançado “Häxan - A Feitiçaria Através dos Tempos”, um documentário dividido em quatro partes que é um verdadeiro estudo sobre a bruxaria no século XV, juntamente com a inquisição, que foi instituída pela igreja católica.

“Häxan - A Feitiçaria Através dos Tempos” -  Benjamin Christensen

O longa foi filmado entre 1919 e 1921 na Suécia e na Dinamarca, tornando-se o filme mudo mais caro já produzido na Escandinávia, com gastos de produção chegando a um milhão e meio a dois milhões de coroas suecas. Banido nos Estados Unidos e censurado em outros países, o filme foi todo filmado durante a noite para manter o tom do tema abordado.

A produção é bem caprichada e bem didática, porém seu didatismo não cai no tédio. Como um documentário tipicamente expositivo, ele dialoga diretamente com o público, fazendo o uso de imagens que comprovam tudo o que está sendo dito, e intertítulos explicativos (que seriam substituídos pela narração em off no cinema falado) que passam objetividade e domínio do assunto que está sendo abordado.

“Häxan - A Feitiçaria Através dos Tempos” -  Benjamin Christensen

A produção ainda faz uso de dramatizações com atores que ajudam a ilustrar o cotidiano dessas “bruxas” e até seus rituais, em cenas muito bem filmadas e sinistras. Destaque para uma cena que mostra diversas bruxas voando em suas vassouras. A cena surpreende para a época, e fez uso de uma cidade em miniatura e diversas atrizes filmadas individualmente que depois foram inseridas “no céu” através de uma impressora óptica, para dar a impressão de estarem realmente sobrevoando a cidade. 

Häxan - A Feitiçaria Através dos Tempos é mais que um estudo da bruxaria, pois vai além ao fazer uma analogia com a época em que o filme foi lançado, mostrando também o sofrimento de tantas pessoas com problemas psicológicos, ou até que tinham uma religião que envolvia rituais, mas que por preconceito, eram hostilizadas (e por isso consideradas “bruxas”) pelos demais por conta de crendices e preconceito que resultaram em um julgamento injusto e covarde. 

“Häxan - A Feitiçaria Através dos Tempos” -  Benjamin Christensen


Texto de: Tarcísio Paulo Dos Santos Araújo

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