O cinema independente, mais
precisamente o do gênero do terror, já falou sobre bruxaria no último “A Bruxa
de Blair” de Eduardo Sánchez, e Daniel Myrick. O filme não chega a ser
exatamente sobre o tema bruxaria, focando mais na investigação (no formato found footage) de três jovens sobre uma
lenda de uma bruxa que sacrificava crianças. O longa se tornou um enorme sucesso
na época de seu lançamento, arrecadando 248 milhões nas bilheterias.
![]() |
“A Bruxa de Blair” - Eduardo Sánchez |
No ano passado o tema voltou a
ser abordado em “A Bruxa”, do diretor estreante Robert Eggers, que foi muito
elogiado pela crítica ao tratar de forma extremamente fiel, a vida de uma
família por volta de 1630 que se vê vítima de bruxaria.
![]() |
“A Bruxa” - Robert Eggers |
Embora nesse último a história
se passe numa época em que ainda existia a caça às bruxas, ambos os filmes
conseguem criar uma atmosfera incomoda o suficiente para conquistar o espectador
ao criar um desconforto com aquilo que muitas vezes não pode ser visto, ou com
situações mais sinistras.
Mas para quem não sabe, a
bruxaria já foi mencionada no cinema mudo, e de forma muito madura. Em 1922 foi
lançado “Häxan - A Feitiçaria Através dos Tempos”, um documentário dividido em
quatro partes que é um verdadeiro estudo sobre a bruxaria no século XV,
juntamente com a inquisição, que foi instituída pela igreja católica.
![]() |
“Häxan - A Feitiçaria Através dos Tempos” - Benjamin Christensen |
O longa foi filmado entre 1919
e 1921 na Suécia e na Dinamarca, tornando-se o filme mudo mais caro já
produzido na Escandinávia, com gastos de produção chegando a um milhão e meio a
dois milhões de coroas suecas. Banido nos Estados Unidos e censurado em outros
países, o filme foi todo filmado durante a noite para manter o tom do tema
abordado.
A produção é bem caprichada e
bem didática, porém seu didatismo não cai no tédio. Como um documentário
tipicamente expositivo, ele dialoga diretamente com o público, fazendo o uso de
imagens que comprovam tudo o que está sendo dito, e intertítulos explicativos
(que seriam substituídos pela narração em off
no cinema falado) que passam objetividade e domínio do assunto que está sendo
abordado.
![]() |
“Häxan - A Feitiçaria Através dos Tempos” - Benjamin Christensen |
A produção ainda faz uso de
dramatizações com atores que ajudam a ilustrar o cotidiano dessas “bruxas” e
até seus rituais, em cenas muito bem filmadas e sinistras. Destaque para uma
cena que mostra diversas bruxas voando em suas vassouras. A cena surpreende
para a época, e fez uso de uma cidade em miniatura e diversas atrizes filmadas
individualmente que depois foram inseridas “no céu” através de uma impressora
óptica, para dar a impressão de estarem realmente sobrevoando a cidade.
Häxan - A Feitiçaria Através
dos Tempos é mais que um estudo da bruxaria, pois vai além ao fazer uma
analogia com a época em que o filme foi lançado, mostrando também o sofrimento
de tantas pessoas com problemas psicológicos, ou até que tinham uma religião
que envolvia rituais, mas que por preconceito, eram hostilizadas (e por isso
consideradas “bruxas”) pelos demais por conta de crendices e preconceito que
resultaram em um julgamento injusto e covarde.
![]() |
“Häxan - A Feitiçaria Através dos Tempos” - Benjamin Christensen |
Texto de: Tarcísio Paulo Dos Santos Araújo
Nenhum comentário:
Postar um comentário