sábado, 21 de janeiro de 2017

Os desafios da profissão e dos relacionamentos são refletidos no longa “A Bruta Flor do Querer”

Uma palavra chave para o filme “A Bruta Flor do Querer”, pode ser dizer que é: reflexão. O longa conta a história de Diego, um recém-formado em cinema que se depara com as dificuldades do mercado cinematográfico brasileiro. Essas dificuldades, porém, se mostram mais do âmbito pessoal do que de mecanismos de produção. Além disso, o rapaz se vê apaixonado por uma garota que trabalha em um sebo, porém lhe falta coragem de abordar a moça e dizer o que sente. 



Diego Andrade e Andradina Azevedo se conheceram na FAAP, onde estudaram cinema. Depois da realização de alguns curtas, fizeram (sem o auxílio de nenhuma lei de incentivo) o longa com a ajuda de amigos. A princípio, a ideia era de fazer uma comédia romântica, mas que acabou não funcionando por conta da falta maturidade dos estudantes em relação às suas próprias vivências. Procurando uma expressão mais verdadeira e mais perto do público, nasceu "A Bruta Flor do Querer", primeiro longa da dupla.

O parágrafo acima não é uma simples informação sobre os realizadores (que também atuam no filme), pois o interessante é justamente nos depararmos com uma obra que traz reflexões e situações vividas pelos próprios diretores. O filme traz questões bem interessantes, e que por mais que o foco seja sobre um estudante de cinema, tais conflitos poderiam se adequar a demais profissões. Porém, não dá para ignorarmos o fato de que estudantes de cinema ou qualquer pessoa que tenha uma relação mais próxima com o fazer cinema no Brasil, terá uma imersão mais profunda na narrativa e na empatia com o personagem principal.

Não faltam momentos de reflexão sobre o futuro de quem se forma nessa área, com direito a trabalhos como filmar casamentos, desabafos sobre o cinema de puro entretenimento e a falta de interesse e espaço para filmes mais questionadores. O filme também abre espaço para momentos de total angústia, insegurança e melancolia com relação ao futuro do personagem e dos seus sonhos.

Tudo isso é realizado de uma forma simples com uma câmera na mão que procura ficar bem próxima dos rostos dos atores como nos filmes de John Cassavetes, cuja câmera sempre elabora no momento o que eles pensam e sentem.  

Com uma jornada bastante metalinguística, o final escancara de forma objetiva e honesta as opiniões de Diego (personagem e diretor) ao refletir seu próprio material juntamente com o espectador, de uma forma verdadeira e visceral que transforma seu discurso em uma carta aberta ao cinema, sobretudo ao amor de se fazer cinema.   



Texto de: Tarcísio Paulo Dos Santos Araújo


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Erotismo e a cidade: Vidas nuas (1967) de Ody Fraga

  O aspecto mais interessante em Vidas nuas é a fluidez como a cidade de São Paulo é filmada, desde seu primeiro plano quando temos acesso ...