Texto de: Tarcísio Paulo Dos Santos
“Quem é JonBenét” estreou na última sexta-feira na Netflix. O
documentário aborda o famoso assassinato de JonBenét Patricia Ramsey que
ocorreu em 25 de dezembro de 1996. O crime chocou os EUA na época e até hoje
não solucionado. A menina de apenas seis anos de idade, participou de diversos
concursos de beleza infantil, muitos financiados pela própria mãe, Patricia
Ramsey, que era casada com John Bennett, conhecido executivo americano.
Em 26 de dezembro de 1996, Patricia descobriu que sua filha
havia desaparecido depois de encontrar na escadaria da cozinha um bilhete de resgate
exigindo 118 mil dólares, quase o valor exato de um bônus que seu marido havia
recebido no começo do ano. Apesar de no bilhete estar escrito que a polícia não
deveria ser contatada, ela telefonou para a polícia, família e amigos.
O corpo da menina foi encontrado no porão de sua própria casa
após quase oito horas de JonBenét ter desaparecido. Ela tinha sido atingida na
cabeça e estrangulada. O caso, mesmo depois de muitas investigações ainda permanece
sem solução, gerando muito interesse do público e da mídia.
Saindo de uma linha mais convencional, o documentário passa
longe de uma abordagem voltada para uma espetacularização com várias
dramatizações ou entrevistas que buscam uma investigação para tentar descobrir
a verdade. Todo o documentário se passa durante um teste com atores para serem
escalados para os papéis principais dos personagens da tragédia.
Cenas de entrevistas com os atores são intercaladas com a
dramatização de alguns acontecimentos-chave do caso que são encenados por todos
os atores que estão fazendo o teste. O ponto principal do documentário, muitas
vezes acaba sendo os próprios atores e suas impressões do crime, indagações sobre
o que teria ocorrido de fato, além de uma tentativa de analisar os personagens
reais da história ao mesmo tempo em que os mesmos são construídos para o
momento do teste.
A
comoção desses atores em alguns casos, são frisadas por conta de alguns deles
já terem morado no mesmo bairro onde vivia JonBenét, ou por já terem tido a
experiência de ter perdido alguém próximo. Muitos começam a desabafar situações
bem pessoais que de alguma forma causam empatia com os sentimentos dos personagens,
como o luto, a acusação de ter feito algo que não fez e até abuso sexual. Podemos
perceber a tentativa de enxergarmos esses atores, não apenas como profissionais
que estão fazendo um teste para um filme, mas também como seres humanos que
conseguem observar em suas vidas reminiscências de acontecimentos que de alguma
forma se
assemelham (mais no campo emotivo) com o caso que estão representando.
Ao mesmo tempo observamos um exercício de atuação ao perceber
como cada ator cria suas “Patricias” e Johns”e as reações diante de
dramatizações, como o momento em que John encontra o corpo da filha ou quando
Patricia liga para a polícia para informar que a filha desapareceu.
Visualmente o documentário faz uso de cenários simples dos
principais cômodos da casa, do porão e da delegacia, com cada ator que está
fazendo o teste, inserido no lugar que lhe corresponde. Um dos pontos altos do
roteiro é quando um movimento em travelling passa por diversos cenários como o
quarto dos pais de JonBenét, corredor, escada, quarto e banheiro da menina
enquanto todos os atores aparecem atuando ao mesmo tempo, em diversas situações
de desespero, choro e conflitos. Essa cena é responsável por retratar toda a
dor e conflito dos personagens, independente de julgamentos.
Para quem espera uma abordagem total da vida de JonBenét e do
crime, pode se frustrar um pouco. O próprio título pode facilmente enganar o
espectador, mas ao mesmo tempo o documentário vale a pena ser visto justamente
por sair do óbvio, mesmo que em alguns momentos ele fuja totalmente da história
dos personagens, indo mais para a vida pessoal dos atores que estão fazendo o
teste.
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