Texto de: Tarcísio Paulo Dos Santos
Dirigido por Renata Pinheiro, “Amor, Plástico e Barulho”
(2013) é um filme brega. Não me entenda mal. O termo usado aqui faz todo o
sentido, uma vez que o próprio longa não tem pudor em abraçar por completo o
universo do tecnobrega que vai muito além do contexto onde se passa toda a
história, tomando conta também de todo o visual da composição fílmica.
Como tema principal, o filme traz a busca pelo sonho e a
rotatividade de pessoas, amores e sucessos musicais do momento e como tudo isso
afeta Shelly e Jaqueline. A rotatividade também aparece até em Recife, cidade
onde ocorre a trama. Como já abordado em “Aquarius” e “O Som ao Redor”, somos
aqui surpreendidos por imagens de uma propaganda de um enorme shopping que está
aos poucos sendo construído na cidade, trazendo mais uma vez o tema da
especulação imobiliária. As imagens mostram casas sendo derrubadas e a
imponência da estrutura do shopping em meio a algumas casas.
Existe uma mistura de imagens quase documentais (com a câmera
na mão que está sempre próxima dos atores) com imagens que permitem uma licença
poética ao quebrar o realismo para frisar a rapidez com que tudo acontece e até
um momento de imaginação de Shelly. Essas observações podem ser conferidas em
uma cena que em um plano sequência, Shelly está dançando com Allan (Samuel
Vieira), ex-vocalista da banda “Amor com Veneno”, que deixou de cantar com
Jaqueline para começar sua própria banda. Em um mesmo plano o casal vai da
pista de dança para um quarto de motel. Essa rápida transição de eventos, são
propositais na abordagem de como tudo muda rapidamente, principalmente quando
se fala da indústria do entretenimento.
Essa mesma transição acontece com Shelly, que está no ônibus
e ao se contentar em ser apenas a musa inspiradora de uma das canções de Allan
(agora com a banda “Amor com Mel”, se permite sonhar com um veículo dominado
por luzes, glitter e música, enquanto dança e canta com Jaqueline. A rápida
mudança acontece aqui como um simples pensamento da jovem que volta para casa
abraçada à cadeira do ônibus enquanto sonha com a fama.
Ainda assim há espaço também para uma redenção da amizade de
Shelley e Jaqueline, em uma mesa de bar. Enquanto a primeira continuará a
perseguir o seu sonho, a segunda vê a possibilidade de ser mais participativa na
vida da filha que mora com a avó. Em uma cena simples durante um telefonema
para saber como a filha está, Jaqueline descobre que a filha não gosta mais de
um determinado brinquedo que ela pretendia comprar para a menina, possivelmente
por a mesma já estar um pouco mais crescida e ter mudado seus gostos.
Um tom bem popular está nas imagens de vídeos cômicos da
internet que às vezes surgem entre algumas cenas. Propositalmente em baixa
qualidade, o mesmo ocorre com os vídeos em que mostram as bandas se apresentando
no programa “Brega Show”. O filme em nenhum momento usa esse artifício como
forma de satirizar as situações, pois ele abraça e nos envolve nesse universo
do brega ao mostrar os personagens e seus
desejos como muita
verdade e naturalidade.
E é nesse mundo cheio de sensualidade, luzes e música que
“Amor Plástico e Barulho” aborda a busca pelos sonhos e a facilidade com que
coisas e pessoas são descartadas, nas palavras de Jaqueline: “Como um copo de
plástico”.
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