terça-feira, 2 de maio de 2017

Amor, Plástico e Barulho

Texto de: Tarcísio Paulo Dos Santos

Dirigido por Renata Pinheiro, “Amor, Plástico e Barulho” (2013) é um filme brega. Não me entenda mal. O termo usado aqui faz todo o sentido, uma vez que o próprio longa não tem pudor em abraçar por completo o universo do tecnobrega que vai muito além do contexto onde se passa toda a história, tomando conta também de todo o visual da composição fílmica.


Em meio a esse universo cheio de sensualidade, música, cores e luzes, Shelly (Nash Laila) é uma jovem dançarina recém-chegada à banda “Amor com Veneno”. A jovem sonha em um dia se tornar cantora de alguma banda. Jaqueline (Maeve Jinkings), vocalista veterana da banda, percebe que seu sucesso começa a declinar.


Como tema principal, o filme traz a busca pelo sonho e a rotatividade de pessoas, amores e sucessos musicais do momento e como tudo isso afeta Shelly e Jaqueline. A rotatividade também aparece até em Recife, cidade onde ocorre a trama. Como já abordado em “Aquarius” e “O Som ao Redor”, somos aqui surpreendidos por imagens de uma propaganda de um enorme shopping que está aos poucos sendo construído na cidade, trazendo mais uma vez o tema da especulação imobiliária. As imagens mostram casas sendo derrubadas e a imponência da estrutura do shopping em meio a algumas casas.




Existe uma mistura de imagens quase documentais (com a câmera na mão que está sempre próxima dos atores) com imagens que permitem uma licença poética ao quebrar o realismo para frisar a rapidez com que tudo acontece e até um momento de imaginação de Shelly. Essas observações podem ser conferidas em uma cena que em um plano sequência, Shelly está dançando com Allan (Samuel Vieira), ex-vocalista da banda “Amor com Veneno”, que deixou de cantar com Jaqueline para começar sua própria banda. Em um mesmo plano o casal vai da pista de dança para um quarto de motel. Essa rápida transição de eventos, são propositais na abordagem de como tudo muda rapidamente, principalmente quando se fala da indústria do entretenimento.




Essa mesma transição acontece com Shelly, que está no ônibus e ao se contentar em ser apenas a musa inspiradora de uma das canções de Allan (agora com a banda “Amor com Mel”, se permite sonhar com um veículo dominado por luzes, glitter e música, enquanto dança e canta com Jaqueline. A rápida mudança acontece aqui como um simples pensamento da jovem que volta para casa abraçada à cadeira do ônibus enquanto sonha com a fama.

A rivalidade das duas por sinal, é algo mais ameno na narrativa. Felizmente o roteiro não optou por esse caminho mais fácil e superficial. Não que haja atrito entre as personagens principais, mas o filme procura focar mais como cada personagem encara seus próprios conflitos. “Se Jaqueline ensaia a música “Chupa que é de Uva” em tom melancólico enquanto chora por saber que seu sucesso está acabando, Shelly vai ao mercado comprar tintura e as caixas do produto ganham uma iluminação especial com direito a mudança na cor do batom da modelo que aparece na foto da caixa, como um “sinal” para a jovem de que é aquela cor que deve ser escolhida.


Ainda assim há espaço também para uma redenção da amizade de Shelley e Jaqueline, em uma mesa de bar. Enquanto a primeira continuará a perseguir o seu sonho, a segunda vê a possibilidade de ser mais participativa na vida da filha que mora com a avó. Em uma cena simples durante um telefonema para saber como a filha está, Jaqueline descobre que a filha não gosta mais de um determinado brinquedo que ela pretendia comprar para a menina, possivelmente por a mesma já estar um pouco mais crescida e ter mudado seus gostos.

Um tom bem popular está nas imagens de vídeos cômicos da internet que às vezes surgem entre algumas cenas. Propositalmente em baixa qualidade, o mesmo ocorre com os vídeos em que mostram as bandas se apresentando no programa “Brega Show”. O filme em nenhum momento usa esse artifício como forma de satirizar as situações, pois ele abraça e nos envolve nesse universo do brega ao mostrar os personagens e seus
desejos como muita verdade e naturalidade.


E é nesse mundo cheio de sensualidade, luzes e música que “Amor Plástico e Barulho” aborda a busca pelos sonhos e a facilidade com que coisas e pessoas são descartadas, nas palavras de Jaqueline: “Como um copo de plástico”. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Erotismo e a cidade: Vidas nuas (1967) de Ody Fraga

  O aspecto mais interessante em Vidas nuas é a fluidez como a cidade de São Paulo é filmada, desde seu primeiro plano quando temos acesso ...