Está na Netflix uma das animações mais interessantes dos últimos anos: Anomalisa (2015). Dirigido por Charlie Kaufman, responsável pelo roteiro do cultuado Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças (2004), o longa conta a história de Michael Stone (que conta com a voz de David Thewis), um palestrante motivacional que está em Connecticut para um seminário. No hotel onde está hospedado e onde também ocorrerá o evento, Michael entra em contato com uma antiga namorada. Após a tentativa de reaproximação falhar, o homem conhece Lisa (voz de Jennifer Jason Leigh), por quem se apaixona.
Anomalisa tem algumas contradições excelentes. O tema é claro ao abordar a falta de conexão de Michael com seus próprios sentimentos e principalmente com as pessoas. Curiosamente o filme foi todo feito em stop motion utilizando justamente bonecos que reforçam essa ideia de algo “mecânico”. Mas engana-se quem pensa que os personagens têm seus movimentos de forma pouco natural. Pelo contrário, com exceção de alguns vincos propositais nas faces de todos os personagens, que frisam a ideia de que eles são de fato bonecos, todos no filme caminham e agem de forma bem natural. Como se não bastasse, a história é de uma humanidade imensa.

Outro detalhe que chama a atenção, é a voz dos personagens. O longa conta com três atores: dois já citados acima, e Tom Nooman, que dá voz a todos os outros personagens no filme. Até mesmo às personagens femininas. Vale lembrar que o rosto desses personagens são bem parecidos entre si, e no momento em que até a voz se torna a mesma, isso é claramente a representação de um mundo monótono para Michael e sua incapacidade de enxergar as pessoas como indivíduos únicos, embora ironicamente o livro escrito por ele, fala exatamente sobre o tratamento especial que uma empresa deve dar aos seu clientes.
Tudo muda porém, quando Lisa entra em cena. Nesse momento fica impossível não criarmos uma expectativa em torno desses dois personagens. Insegura e com uma cicatriz no rosto, Lisa é uma mulher comum e que gosta de ouvir as músicas de Cyndi Lauper, em especial Girls Just Want to Have Fun. Vale apontar que a protagonista é a única que tem uma voz feminina, caracterizando algo de especial nela, que é facilmente reconhecido por Michael e que o faz se apaixonar por ela. O “Anomalisa” vem da junção de “Anomalia” com “Lisa”, junção essa criada por Michael e que agrada a mulher. Lisa se diferencia no filme justamente pela sua simplicidade, que ao mesmo tempo em que a faz ser alguém que não se destaca no mundo, uma “anomalia”, ao mesmo tempo a destaca dos demais no filme.

Será que temos um grande romance em Anomalisa? Vivemos na era do amor líquido, onde emoções e sentimentos vêm e vão com facilidade. Pensamos sentir algo, mas às vezes tudo é questão de momento. Sendo assim, essa falta de conexão existente no tema do filme, foi apontada por alguns espectadores como algo que respingou até nos personagens, em especial Michael, que frequentemente é citado nos comentários sobre o filme, como alguém que não desperta a empatia de quem assiste. Proposital? Talvez.
Anomalisa é um excelente filme de estudo de personagens inseridos em um contexto pós-moderno, que merece ser discutido e refletido. Sem dúvida alguma, se você ainda não conferiu o filme, vá correndo ver na Netflix.
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