Texto de: Tarcísio Paulo Dos Santos Araújo
Após a Primeira Guerra Mundial, o cinema
francês foi muito prejudicado. Com dois grandes estúdios (Pathé e Gaumont) controlando
o circuito, a França também se viu dominada por produções americanas
que ganhavam cada vez mais o público, fazendo com que os franceses assistissem
oito vezes mais filmes hollywoodianos do que a filmes franceses. Isso fez com
que as produções francesas começassem a imitar os gêneros e métodos das
produções americanas.
Mas eis que surgem um novo grupo de diretores
que resolveu ir contra à produção de filmes comerciais. Abel Gance, Louis
Delluc, Germaine Dulac, Marcel L’Herbier e Jean Epstein, eram completamente
diferentes de sua geração anterior de cineastas, e através de diversos ensaios,
proclamavam que o cinema é uma arte comparável a poesia, pintura, música e
literatura. Eles defendiam também que a sétima arte deveria ser algo puro,
existindo por si só e não uma arte que simplesmente derivou da literatura e do
teatro.
![]() |
Germaine
Dulac
|
Entre 1918 e 1928, surge uma série de filmes
que davam às narrativas uma profundidade psicológica. Havia uma tentativa em
capturar a percepção do mundo real de seus personagens através de fortes
elementos visuais que caracterizavam tal entendimento desse mundo. Esses novos
cineastas eram influenciados pela pintura impressionista de Claude Monet e
Camille Pissarro, e pela literatura de Charles Baudelaire.
Entre filmes como “A Roda” (La Rou, 1923) e
“Napoleão” (Napoleón, 1927), “A Sorridente Senhora
Beudet (La souriante Madame Beudet, 1923), foi dirigido por Germaine Dulac
e é considerado um dos primeiros filmes feministas da história do cinema. A
sinopse é simples: uma mulher casada com um empresário do ramo têxtil, se sente
entediada com seu casamento monótono, uma vez que seu marido parece pouco se
importar com ela. Mesmo com uma narrativa simples e poucas reviravoltas, Dulac
manipula o tempo em favor da personagem que fica constantemente dentro de casa
enquanto as horas passam.
Seus sentimentos e desejos são levados em
total consideração pela cineasta, criando cenas bem interessantes. Distorções
simbolizam a raiva de Beudet, enquanto que uma gaze colocada na frente da lente
da câmera, faz com que a protagonista ganhe um ar de sonhadora. Uma imagem em
câmera lenta, também ganha outro status na narrativa, ao retratar os devaneios
da mulher. Tudo isso era para colocar o público no lugar da protagonista. Vale
citar que o movimento impressionista francês, também abarcava as ideias de
Sigmund Freud para dentro do cinema. Em “A Sorridente Senhora Beudet”, temos
uma elevação do sentir da personagem que se sobrepõe à uma narrativa de simples
acontecimentos e ações. Germaine consegue dar voz e uma atenção psicológica à
uma personagem feminina. Isso talvez explique como o cinema francês se destaca
tão bem na forma como constrói seus personagens.
Quanto ao movimento impressionista francês,
seus filmes começaram a ter um gasto cada vez mais alto (como “Napoleão” que com
um enorme orçamento, fez com que o diretor Abel Gance perdesse sua
independência), assim como essa forma de representar o olhar do personagem
através do olhar do público, teria se tornado algo fugaz para o espectador.
Essa forma inovadora e cheia de experimentos acabou também por desinteressar o
público mais de massa e caiu no gosto apenas da elite francesa. Outro fator que
ajudou no declínio do movimento, foi a chegada do som, que fez com que os
gastos fossem todos para a grande novidade do momento, fazendo com que estúdios
investissem cada vez menos nos filmes impressionistas.
Mesmo assim, o legado deixado por esses jovens
cineastas influenciou o cinema pelo mundo, como nos trabalhos de Hitchcock e
Maya Deren. O cinema soviético também mostrou interesse pelo movimento, em
especial o cinema de Eisenstein, que fazia uso de movimentos acelerados em seus
filmes, que também se originaram do impressionismo francês. O mesmo acorreu com
os clipes musicais na década de 80, cuja movimentação acelerada também pode ser
notada.
Nenhum comentário:
Postar um comentário