segunda-feira, 18 de dezembro de 2017

George Méliès

Texto de: Tarcísio Paulo dos Santos Araújo

A possibilidade do cinema ir mais além


Nascido em Paris em 8 de dezembro de 1861, Marie Georges Jean Méliès já resistia à ideia de se tornar um industrial do ramo dos sapatos, como seu pai, preferindo estudar desenho, escultura, pintura e manipulação de bonecos e marionetes.

Continuou seus estudos em Londres e depois voltou a Paris, onde começou a trabalhar como ilusionista ao mesmo tempo em que desenhava caricaturas para uma publicação de humor. Com a aposentadoria de seu pai, Méliès se viu obrigado a assumir a empresa junto com seu irmão Gaston. 


Em 1888, vende sua parte da empresa para o próprio irmão e compra da viúva de Jean-Eugène Robert-Houdin (conhecido mágico ilusionista francês)  o famoso teatro Robert-Houdin. Aos 27 anos George Méliès já tinha certa fama e dinheiro com shows de ilusionismo. 

A grande mudança veio em 28 de dezembro de 1895 quando o ilusionista estava presente na exibição de A Chegada de Um Trem na Estação, dos Irmãos Lumière. Encantado com o que viu, Méliès falou com Antoine Lumiére para que o mesmo lhe vendesse um exemplar do cinematógrafo. Temendo uma concorrência, Antoine recusou.

Sem desistir, George Méliés projetou e construiu seu próprio modelo de câmera, comprou uma grande quantidade de filmes virgens e passou a rodar suas produções sob a chancela de Star Film. Escamotage d’une Dame au Théâtre Robert Houdin mostra um breve show de mágica em que uma mulher desaparece em baixo de um pano. O filme é considerado historicamente como o primeiro trabalho a usar o recurso stop-motion, inventado por acaso pelo ilusionista. Um dia, enquanto operava sua filmadora em Paris, a câmera emperrou por alguns segundos, retomando seu movimento normal logo em seguida. Ao revelar o filme, o ilusionista se deparou com um ônibus “se transformando” em um carro fúnebre. Na verdade, a manivela parou enquanto o primeiro carro passava e voltou a funcionar no momento em que o segundo carro passou. Assim surgiu o truque da parada e substituição, muito usado por exemplo em alguns episódios do Chapolin, para que as coisas sumam e apareçam do nada. Esse truque foi muito usado nos filmes de George Méliès, assim como em diversos outros filmes. Em 1897 o teatro vira estúdio e sala de projeção, e o cinema passa a tomar toda a atenção de Méliès.

A importância do cineasta para a história do cinema, está no fato em que em uma época onde o cinema era visto ainda como uma invenção tecnológica revolucionária, com filmes que mais pareciam ensaios de documentários (mostrando as pessoas nas ruas) ou esquetes de comédias, George Méliès trouxe a magia do teatro e do ilusionismo para as telas, ganhando o status de linguagem artística. Seus filmes (alguns coloridos a mão!) tinham um rico visual, com cenários e figurinos criados pelo próprio cineasta.

Méliès explorou desde 1897 todas as opções que a câmera poderia lhe oferecer, desenvolvendo truques e efeitos especiais que foram modernizados por seus sucessores. Cineasta, figurinista, cenógrafo, produtor e ator, esse mago do cinema fez em 16 anos mais de 500 filmes que foram vistos pelo mundo todo e que agradavam tanto diretores de vanguarda, quanto de Hollywood.
O sucesso com os filmes cheios de truques, fez a fama do cineasta sem a necessidade de publicidade. Ao mesmo tempo, ele sabia que era preciso inovar cada vez mais, acrescentando temas mais complicados e fantásticos para aumentar o interesse do público. A necessidade de lugares imaginários fez com que o diretor contasse com sua vocação também para o desenho para criar seus cenários ao ar livre, nada naturais. O problema era filmar em dias de chuva ou quando o vento forte balançava ou derrubava os cenários, além da pouca iluminação solar quando alguma nuvem cobria o sol, única fonte de luz para fazer os filmes na época. Essas dificuldades fizeram com que Méliès construísse seu próprio estúdio (de vidro) para poder filmar seus curtas sem empecilhos e aproveitando ao máximo a luz solar.


Muito artístico e com pouca visão empresarial, George Méliès não acompanhou as mudanças que o cinema sofria. Não havia mais espaço para o cinema artesanal criado por ele. Abriu falência em 1923, e o teatro Robert-Houdin foi demolido no mesmo ano. Aos 70 anos, Méliès foi encontrado vendendo doces e brinquedos na estação ferroviária de Paris. Grupos culturais promoveram a revitalização de sua imagem e de sua obra realizando mostras de seus filmes. Mais de 500 no total. Morreu em 1938 aos 76 anos.
Em 2011 A Invenção de Hugo Cabret, de Martin Scorsesse retratou um pouco da história de Méliès e da magia de seus filmes. O filme venceu 5 Oscars, incluindo melhor fotografia e efeitos visuais, e é uma verdadeira homenagem a esse período tão fantástico do cinema.
Não podemos deixar de indicar alguns dos filmes mais significativos da carreira desse cineasta tão importante para  sétima arte. Felizmente há muitos filmes que sobreviveram ao tempo, mas abaixo você confere os cinco mais significativos de sua carreira.
A Mansão do Diabo (Le Manoir du Diable, 1896)

Esse é considerado o primeiro filme de terror da história do cinema. O curta não chega a assustar, porém, elementos do terror como, esqueletos, fantasmas, morcegos, objetos que aparecem e desaparecem e o próprio diabo, estão presentes nessa produção que merece estar na lista.


Un Homme de Têtes (1898)

Méliès, duas mesas, um banquinho, um banjo e.....cabeças! Nesse singelo curta surreal, o grande mago do cinema ousa nos efeitos. Vemos George Méliès arrancar sua própria cabeça e a multiplicar em cima de duas mesas, formando um coral que canta enquanto ele próprio toca um banjo.


Joana d'Arc (Jeanne d'Arc, 1900)
Primeiro filme a contar toda a história da heroína francesa, o curta de pouco mais de 10 minutos, já traz um cinema criado por Méliès mais voltado para uma narrativa linear do que um truque de mágicas. Pintado à mão, a obra conta com figurinos caprichados e cenários muito bem criados que criam profundidade de campo, ruas e até sombras das casas.


As Quatrocentas Farsas do Diabo (Les quatre cents farces du diable, 1906)
Completamente surreal, o enredo gira em torno de dois homens que encontram problemas durante uma viagem de carruagem. Perseguidos pelo diabo que faz diversos truques, os dois viajantes caem dentro de um vulcão e passam por planetas, estrelas, até caírem de vez no inferno. Destaque para o movimento da carruagem durante boa parte do curta e para o cavalo esqueleto que puxa o veículo.


Viagem à Lua (Le voyage dans la lune, 1902)
E chegamos ao filme que não poderia faltar. O mais conhecido filme de George Méliès, levou três meses para ficar pronto e é considerado um dos primeiro filmes de ficção científica da história do cinema. Baseado livremente no romance  Da Terra à Lua (1865) de Júlio Verne, o curta conta a história de um grupo de astrônomos que viajam até a lua. A cena da lua sendo atingida no olho pelo foguete, está facilmente em listas de cenas mais icônicas de toda a história da sétima arte e mostra como o cinema de George Méliès não tinha limites, podendo representar tanto a Terra, quanto o universo. Suas criações mostraram que o cinema tinha condições de sair da representação da realidade para alcançar lugares nunca antes imaginados dentro da grande tela.


sábado, 2 de dezembro de 2017

Jeanne Dielman


Texto de: Tarcísio Paulo Dos Santos Araújo

Contemplação e mudança de consciência numa narrativa sobre o cotidiano


Hitchcock disse que o cinema é como a vida, só que sem as partes chatas. Ele não estava errado quanto a isso, porém alguns filmes são magistrais justamente em sua simplicidade por mostrar aquilo que facilmente seria julgado como “sem importância”.

Assim é “Jeanne Dielman” (Jeanne Dielman, 23, Quai du Commerce, 1080 Bruxelles, 1976), escrito e dirigido por Chantal Akerman, cineasta belga nascida em Bruxelas em 06 de junho de 1950 e falecida em 05 de outubro de 2015. Com um cinema político e feminista (ainda que a diretora recusasse qualquer tipo de rótulo), Akerman realizava um cinema extremamente realista, muitas vezes privando o espectador de uma linguagem clássica que reforçasse as emoções e o psicológico de seus personagens através de enquadramentos como close-ups, câmera subjetiva, entre outros artifícios. Seus personagens têm total relação com o espaço em que vivem, caracterizando muito do que eles são através de um cotidiano mundano.


Através de um cinema bem contemplativo, o espectador é convidado a observar a rotina de Jeanne (Delphine Seyrig). Pela manhã, a mulher acorda, veste seu hobby, prepara o café da manhã, acorda seu filho adolescente, Sylvain (Jean Decorte), engraxa seus sapatos, dobra o seu pijama quando o garoto vai ao colégio, arruma o sofá cama onde o garoto dorme, lava a louça, sai para fazer algumas compras para a casa, prepara o jantar, faz um lanche à tarde, cuida do bebê da vizinha por um tempo, faz programa em sua própria casa onde recebe seus clientes, espera o seu filho chegar, janta junto com ele, ajuda-o a estudar e fazer as lições de casa, ouve música enquanto termina de fazer um suéter enquanto o garoto ler seu livro, sai com ele para um lugar que nunca é mostrado para o espectador, voltam para casa e vão dormir.

Escrevendo essas ações que aparentemente podem parecer sem importância, podemos perceber como o cinema de Chantal é bem diferente do que estamos acostumados a ver., porém, para quem estiver aberto a entrar na proposta da cineasta e entender que há outras formas de se contar uma história, logo ficará tomado pelo dia a dia da protagonista e sentirá interesse em observar sua vida dentro dessa rotina. Mais do que isso, interpretará o que o filme pretende dizer através dessa forma peculiar de se apresentar um personagem em uma narrativa que à primeira vista, pode parecer desprovida de um conflito mais óbvio como no cinema clássico.

Essa rotina, no entanto, nos fala muito sobre seus personagens. Jeanne está presa em um cotidiano mecânico que nunca a permitiu parar para pensar. Seu filho, apesar da boa relação com ela, não tem muito diálogo, com exceção da hora de ir dormir quando o garoto faz alguns comentários sobre sexualidade e sabemos um pouco mais sobre seu pai, já falecido. O menino janta com Jeanne enquanto lê e eles praticamente não se olham enquanto fazem as refeições, trocando quase nenhuma palavra. Quando a protagonista lê em voz alta uma carta que chegou de sua irmã, descobrimos como a viuvez de Jeanne preocupa sua família, que diz que “uma mulher bonita como ela não pode ficar sozinha”. Antes de dormir, Sylvain pergunta como sua mãe conheceu seu pai. Nesse momento descobrimos que Jeanne foi liberta por seu marido durante a Segunda Guerra Mundial, provavelmente de um campo de concentração e que o homem, que era militar na época, foi visto pela primeira vez por ela, enquanto jogava doces para as pessoas, incluído ela, que retribuía jogando rosas. Suas tias então, sempre incentivavam o casamento dos dois, principalmente pela boa posição financeira do homem e que ela deveria aproveitar essa oportunidade.

Jeanne foi condicionada a viver uma vida que mesmo não tão explicitamente, foi ditado o que ela deveria ou não fazer. Seu cotidiano é um reflexo daquilo que a sociedade espera de uma mulher; que ela seja prestativa, atenciosa e realize seus afazeres domésticos com perfeição. Essa perfeição está na satisfação com que a personagem sorri enquanto passa alguns bifes no ovo e na farinha para o jantar, quando arruma a cama ou quando cuida do bebê da vizinha.


Tudo isso é retratado com planos longos e pouca variação no ângulo das câmeras. A câmera não nos permite uma aproximação do que de fato está sentindo a personagem, como se qualquer possibilidade de reflexão tivesse cristalizado em Jeanne, restando apenas observarmos suas ações sem direito a close-ups, plano detalhes, nem nada que transpareça seu psicológico. Ao receber seus clientes, não vemos o programa de fato sendo realizado, mas quando a personagem recebe os homens em sua casa, a câmera não enquadra sua cabeça, deixando apenas o corpo no enquadramento. Naquele momento Jeanne é só um corpo.

Mas como em uma narrativa é preciso ter um conflito, o roteiro consegue isso de uma forma bem significativa, mas sem deixar de lado a sutileza. Como disse a própria Chantal em uma entrevista, “Jeanne arruma tempo para pensar”. Seu último momento de contemplação de sua própria mecanização se dá em uma cafeteria onde a personagem é atendida pela mesma garçonete e onde escolhe sempre o mesmo lugar para se sentar e tomar seu café. Após terminar um programa, Jeanne percebe que deixou as batatas cozinharem demais, arruinando assim o jantar. A partir daqui temos a imagem da dona de casa exemplar “arranhada”. A personagem precisa comprar mais batatas no mercado e toda sua rotina atrasa. Enquanto descasca as batatas às pressas, seu semblante muda. Algo está errado com Jeanne. Seus pequenos deslizes ficam mais frequentes. 


No dia seguinte, ela esquece de abotoar um dos botões de seu hobby, não arruma os cabelos como “deveria”, deixa cair objetos no chão, esquece de fechar a janela e não consegue fazer com que o bebê da vizinha pare de chorar. O leite ao ser bebido, parece estar estragado, ou será que ele já não tem mais o mesmo gosto, assim como sua vida? O casaco que falta um botão, já não pode ser mais encontrado nas lojas pela personagem, porque o modelo já saiu de circulação e na cafeteria, ela é atendida por outra garçonete e acaba sentando em outro lugar, porque uma senhora já ocupa seu ligar favorito. Jeanne não aguenta sua própria consciência dos fatos e sua reação não é das melhores. Mesmo assim, ela consegue sentir um alívio em um final agridoce em que ainda consegue esboçar em um sorriso na última cena.

É a partir dessas metáforas de uma dona de casa que Chantal Akerman, nesse que é considerado o melhor filme da carreira da cineasta, fala sobre o papel da mulher para grande parte da sociedade e como é fácil cair numa mecanização de ações que podem ser muito duras de serem confrontadas, gerando um choque com consequências que podem marcar uma vida para sempre. Claro que muita coisa já mudou, mas ainda existem muitas “Jeannes” pelo mundo à espera “das batatas cozinharem demais”.





segunda-feira, 20 de novembro de 2017

Ainda precisamos falar sobre Os 13 Porquês

Thirteen Reasons Why o Livro e a Série para além das polêmicas e suas críticas sociais 


A série “13 reasons why”, Os 13 Porquês, aqui no brasil lançada no final de março desse ano 2017 pela Netflix, gerou muita polêmica e burburinho na internet, despertando tanto curiosidade, como debates acalorados a respeito de suicídio, tema ainda considerado um tabu em nossa sociedade, e sem muito espaço para debates mais aprofundados, principalmente entre os jovens. A série é baseada no livro homônimo escrito por Jay Asher, e antes de virar atração seriada de forte repercussão, o livro já era um best-seller. 



O blog simulacro chega um pouco atrasado para a discussão a respeito da série e do livro, porém nunca é tarde para discutirmos sobre séries e livros. Então lá vai uma breve análise crítica sobre ambos. Vamos tentar discutir a respeito do livro e da série em um artigo único, comparando os dois, mesmo que isso seja um tanto complicado, já que se tratem de mídias diferentes, no entanto, vale a comparação aqui, para refletirmos um pouco sobre a narrativa contida em Os 13 Porquês.


Partindo da premissa principal do livro, temos uma narrativa um tanto peculiar, já que a história é narrada em primeira pessoa, porém são dois narradores, o principal e protagonista da história, o adolescente de 17 anos Clay Jensen, que alguns dias depois da trágica morte por suicídio, de uma garota de sua escola, recebe uma caixa de sapatos com 13 fitas k7, nas quais continham os relatos da própria Hannah Baker, a garota que havia tirado a própria vida, o que estava mexendo com a vida escolar de todos, e afetando ainda mais a Clay, que sempre foi apaixonado pela garota, mas nunca teve a coragem de se declarar.

A história tem um segundo narrador, que é a própria Hannah Baker, que assume o controle da narrativa e evidencia a partir de seu ponto de vista o que a levou a cometer o suicídio.

Ok temos outros livros com mais de um narrador em primeira pessoa na história da literatura, e também temos livros com relatos de fitas k7, fitas de vídeo, cartas e outras formas de relatos, e partindo dessa afirmação Os 13 Porquês, não teria nada de inovador. Porém não devemos parar por ai, pois esse formato da a história cria uma dramaticidade e um ritmo que prende o leitor a se aprofundar mais na história. Começamos a leitura sabendo que Hannah Baker está morta, mas precisamos saber o porquê, e ter a sensação de ouvir as fitas com Clay nos motiva a seguir a leitura.

Essa forma de narrativa adotada por Asher, ajuda a criar um clima de suspense, mesmo sendo obvio o que aconteceu no final. Acompanhar a jornada de Clay Jansen nos coloca quase que em sua posição, temos uma narrativa intensa, em que o garoto nos conta sua versão dos fatos enquanto ouve as versões de Hannah.

O livro não se aprofunda muito na construção dos personagens, nem mesmo dos protagonistas, chegando a ser um tanto poético em alguns trechos, sem deixar nada muito bem resolvido ou acabado. Vamos descobrindo aos poucos que Hannah Baker sofria bullying na escola onde estudava, e as coisas vão se agravando, até se tornarem insuportáveis.

A série Os 13 Porquês, tenta aproveitar algumas das lacunas deixadas pelo livro, aprofundando-se mais na história dos personagens. Ouvimos sempre dizer que quando um livro é adaptado para um filme ou série, ele acaba perdendo um pouco de sua história, porém aqui o caso é bem o contrário, a série acaba indo muito mais além do que o livro apresenta, o que por um lado é interessante, ainda mais quando se trata de fãs ávidos por mais das histórias que já conhecem e amam, como é o caso dessa geração pós moderna que costuma consumir um mesmo conteúdo exaustivamente em diversas plataformas, e também se levarmos em consideração que o livro é bem pouco descritivo, e nos deixa abertos muitas interpretações.

Mas isso também pode ser interpretado como uma forma de tentar explorar além da conta um determinado conteúdo. Como por exemplo, no livro os adultos mal aparecem e quase toda a história se desenrola em uma noite de angustia, enquanto Clay Jansen ouve as fitas de Hannah Baker, atordoado, e sem poder fazer nada para reverter uma situação já definida, mesmo que amasse a garota, infelizmente havia perdido sua oportunidade de demonstrar enquanto ela ainda estava viva. Provavelmente esse seria o tema principal do livro, o amor impossível e a perca de oportunidades de se declarar. Temos a faceta de uma jovem angustiada que se revela em suas 13 fitas k7s, tentando fazer justiça a si própria, já que ninguém fizera por ela, o que beira a quase uma tentativa de vingança, movida pelo desejo de que todos na escola que a maltrataram de várias formas ficassem cientes do mal que a causaram.

Na série as coisas se desenrolam com um tempo mais lento, temos o mesmo formato de contato com a história, vamos descobrindo junto com o protagonista por que seu nome estava em uma dessas fitas, e cada um dos treze motivos que levaram Hannah Baker a cometer suicídio. Porém enquanto Clay ouve as fitas acompanhamos também a repercussão que as fitas já haviam causado ao serem ouvidas pelas outras pessoas que tinham seus nomes na lista dos 13 porquês de Hannah.  O seriado elabora um personagem para cada porquê, dando algum sentido para as atitudes tomadas pelos garotos que estudavam com Hannah, já que no livro temos apenas breves descrições de cada um, e relatos do que fizeram.

O livro apresenta a história quase que apenas pelas fitas deixadas por Hannah Baker, temos basicamente apenas o seu lado da história, vemos atletas, lideres de torcidas populares sendo cruéis com uma garota novata e insegura de mais para reagir a insumos e boatos que inventaram a seu respeito.

A série da um rosto para  Justin Foley, Alex Standall, Jessica Davis, Tyler Down, Courtney Crimsen, Marcus Cooley, Zach Dempsey, Ryan Shaver, Sheri Holland, Bryce Walker e a senhor Portter.  Todos esses personagens ganham vida de fato, cada um ganha uma história também, e num geral todos tem dramas com famílias disfuncional, ou sofrem com pressões da vida escolar e da sociedade, o que no final das contas, torna tudo muito próximo de todos, e de fácil identificação pelo público em geral. Mas também ajuda a compor o perfil de personagens agressivos.



O formato série tenta explorar mais as relações sociais como a essência de problemas como a violência entre os jovens, o bullying e também o suicídio. O que foi uma sacada até bem lógica e funcional para o formato, já que a história teria que ser aprofundada para ser contada ao longo dos treze episódios.

Como fenômeno social o que a série tenta passar acredito que seja o que vale a pena para assisti-la, e discutimos sim sobre ela, é sempre necessário discutirmos como nos comportamos e como isso afeta de forma direta os outro. O que na época do lançamento da série na Netflix foi pouco ou nada discutido, já que as polêmicas puxaram todos os assuntos para o fato de se podemos ou não falarmos sobre suicídio. E hoje alguns meses depois assistindo a série com olhar critico percebo que a proposta de discussão aqui poderia ser mais rica, como por exemplo toda vez que se fala em Bullying e em depressão as pessoas fogem e são pouco abertas ao debate, e na maioria das vezes fazem vista grossa para o que acontece.

Estamos acostumados com um formato de escola e de sociedade que tenta colocar todos em um molde, esquecendo que cada um é único, e pode encarar a vida de muitas formas diferentes. O embate entre os jovens na escola mostrado na série poderia facilmente levantar uma questão que passou batida, simplesmente pelo fato que estamos acostumados a tratar as pessoas ao nosso redor mal, acreditando que está tudo bem e que não estamos ferindo ninguém, somos uma sociedade egoísta e hipócrita que varremos nossos podres e segredos para baixo do tapete, sempre que necessário, mesmo que isso possa atrapalhar a vida de alguém. Criamos nossos filhos para esse sistema, de ser forte a todo custo, de ser um vencedor a todo custo, mesmo que isso custe a vida dos outros, ou seja apenas uma métrica imposta por uma sociedade falsamente moralista. Naturalizamos o sofrimento alheio para aliviarmos nossas consciências e tentamos nos defender encontrando o defeito dos outro.

Parece algo assustador para se escrever ou dizer, mas essa é a verdade, todos somos agredidos todos os dias, e seguimos adiante  é fácil perceber o quanto somos hostis uns com os outro apenas dando uma passada de olho nas time lines das nossas redes sociais. Mas quando temos a oportunidade de discutimos sobre nossa cultura de invisibilizar o outro, tomamos atitudes parecidas com a dos garotos que se escondem de medo das responsabilidades na série, viramos para alguém e dizemos apenas, “A essa série é muito polêmica”, ou “Não deveriam ficar falando de suicídio com os jovens, isso é incentivar”, ou ouvimos coisas piores como o que é falado na série: "que a garota que se matou fez o que fez para chamar a atenção".

Talvez falar sobre suicídio seja ainda um tabu porque isso exija que paremos para pensar e refletir, o que a muito a nossa sociedade não faz, saímos falando ou escrevendo antes de pensar nas consequências, e quando se trata de assumirmos responsabilidades, somos ainda piores.

A série tratou o assunto com delicadeza sem romantizar a situação, o que é muito bom para a discussão saudável de assuntos polêmicos. Outra questão levantada para a série é com relação a fragilidade da mulher na sociedade, e de como ainda hoje cuidar de uma reputação impecável é muito importante principalmente para mulheres, e que boatos inventados por garotos para construir sua gloria humilhando publicamente uma garota ainda é prática considerada normal, um fato que as meninas deveriam levar com naturalidade, um aspecto que foi pouco falado na época de lançamento da série, mas que deveria ser discutido com atenção.

Tanto na leitura do livro quanto assistindo a série me veio fortemente a cabeça um outro livro chamado “Nada” da escritora  Janne Teller, que recomendo fortemente, principalmente se você assistiu a série e leu o livro. Em "Nada" temos uma turma de estudante ainda mais jovem que ao se deparem com um aluno que se recusa descer de uma arvore por acreditar que a vida não fazia sentido, começam a fazer de tudo para provar ao garoto o verdadeiro valor da vida, porém essa tentativa dos meninos vai aos poucos os consumindo, chegando a extremos que eles não previam.


A série acabou se aproximando ainda mais desse sentido apresentado no livro “Nada”, ao mostrar o embate dos estudantes com suas responsabilidades, consciência e desejos.

O filme “A Mentira” de Will Gluck (2010), trabalha com tema semelhante, ao abordar a vida de uma colegial, que vitima de boatos a seu respeito acaba perdendo o respeito dos garotos da escola se tornando excluída e desprezada até mesmo pelas garotas.  Nesse caso temos um filme mais leve onde tudo acaba se resolvendo bem, mas ainda assim percebemos o quanto é difícil se afirmar socialmente e o quanto os adultos que poderiam ajudar, por vezes acabam se ausentando dessas situações, pois levam tudo com naturalidade, como uma fase, sem esperarem que algo pode realmente dar errado seriamente.



A série acaba colocando os pais das personagens na história, nos comovemos com o sofrimento dos pais de Hannah Baker, o que ajuda a passar uma mensagem de conscientização a pessoas que possam estar enfrentando os mesmos problema que Hannah passou na série, mostrando um caminho que poderiam tentar se abrindo com os pais, ou pessoas que possam oferecer algum tipo de ajuda, antes de chegar a decisões extremas.  

No livro essa ideia se dá pela possibilidade que Hannah teria se tivesse conseguido falar com o Clay. Ou seja nenhum dos dois aborda o suicídio como saída para problemas, e sim nos coloca na perspectiva de possibilidades que ficam em aberto se não tentarmos. E ainda nos alerta para a deficiência que temos em ajudar pessoas que são vitimas de violência, ou que sejam de grupos de risco.

Os 13 porquês deve ser visto, ou lido por uns treze porquês diferentes, mas talvez um dos mais importantes seja para podermos olhar para nós mesmos, e pensar porque ainda não somos uma sociedade capaz de funcionar bem para todos.   

Tecnicamente a série é boa, conta com uma trilha sonora forte com músicas que ajudam a compor muito bem todas as situações, temos cenas fortes e complicadas defendidas com mérito para o elenco, destaque para a protagonista Hannah Baker vivida pela atriz katherine langford.



A fotografia  é muito bonita, e ajudam a dar um ritmo fluido e sentimental a narrativa a série. Um  aspecto da montagem é que ela se aproxima do suspense e por vezes se aproxima dos thrillers para jovens que fizeram muito sucessos no final dos anos 1990 e inicio dos anos 2000, como a série "Pânico"(1996), e "Eu Sei o que Vocês Fizeram no Verão Passado" (1997).

Eu Sei o que Vocês Fizeram no Verão Passado 

talvez a maior falha da série tenha sido estender de mais a história, ainda que para sua pretensão de aprofundar os personagens  funcione, porém soou um pouco exagerado, ainda mais pensando em uma possível sequência, o que já sabemos que acontecerá, e nesse caso a série rompe completamente com o livro, já que tudo que poderia ser adaptado do livro já foi na primeira temporada, por isso os roteiristas terão muito trabalho, para não perderem a mão. 


sábado, 11 de novembro de 2017

O Lagosta

Texto de: Tarcísio Paulo Dos Santos Araújo

O absurdo e o distópico como forma de explorar as relações humanas

Nascido em Atenas, na Grécia, Yorgos Lanthimos estudou direção de cinema e Tv na Escola de Cinema Stavrakos em Atenas. Dirigiu diversos comerciais de Tv, videoclipes, curtas e peças de teatro. Seu primeiro longa-metragem foi “Kinetta”, que foi exibido por festivais em Toronto e Berlim. “Dente Canino” foi mais aclamado e venceu o prêmio Um Certain Regard em Cannes em 2009, além de ter concorrido ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2011. Seu mais recente filme, “The Killing of a Sacred Deer”, venceu o prêmio de Melhor Roteiro no Festival de Cannes deste ano. O cinema de Yorgos tem como uma das principais características a representação de situações absurdas que envolvem as vidas de seus personagens, como forma de criticar normas sociais, seus valores e costumes.

“O Lagosta”, filme que antecede “The Killing of a Sacred Deer”, é um interessante estudo do funcionamento das relações amorosas de forma satírica, enquanto mantém um humor mais seco, longe de um tom excessivamente cômico. Pelo contrário, seu personagem principal se encontram em uma distopia em que dois principais grupos extremamente radicais, ditam normas e regras de relacionamento.


Nesse mundo distópico, onde há uma exigência para que as pessoas estejam sempre acompanhadas e em um relacionamento estável, David (Colin Farrell) foi recentemente deixado por sua esposa, que decidiu trocá-lo por outro. Ele então resolve se hospedar em um hotel onde terá 45 dias para conhecer alguém e se relacionar, caso contrário, se transformará em uma lagosta, animal escolhido pelo personagem. Esse universo parece fazer nada mais do que uma sátira à cobrança de que nunca devemos estar só e até explorar a ideia de fácil apego e dependência entre as pessoas.


O hotel possui uma porção de regras bizarras que reforçam mais ainda a crítica que é feita. É proibido por exemplo a masturbação, que é trocada por estímulos sexuais provocados pelas próprias camareiras do hotel. Os hóspedes assistem palestras que dramatizam situações que exaltam a importância de se estar sempre com alguém, como por exemplo um homem jantando só, simula um engasgo e acaba morrendo. O mesmo homem em seguida, simula a mesma situação, mas dessa vez acompanhado. O resultado, claro é sua vida sendo salva. 

A fotografia acinzentada se estende para o céu que carrega sempre a mesma cor, e mesmo quando temos uma cor dourada e alguma luz mais quente, como no salão de festas, temos o contraste de tudo isso com as roupas iguais dos hóspedes. Mulheres usam o mesmo vestido e os homens o mesmo terno. O longa traz a imagem de uma sociedade burguesa através de seus hóspedes, em que a elegância se contrapõe com um mundo mais mecânico e frio. 

Isso tudo é concebido através de um humor seco que beira ao dead pan. O termo para quem não conhece, surgiu com o início dos vaudevilles e teve o comediante, diretor e ator Buster Keaton como um dos principais artistas a difundir esse tipo de comédia. O deadpan consiste em manter o rosto inexpressivo durante situações cômicas para que o contraste possa ter um efeito maior. No longa isso está de pleno acordo com o contexto do universo criado porque temos essa distopia em que as pessoas parecem viver dentro de um conformismo que as obriga a seguir essas regras de comportamento.


Mais conveniências sociais dentro dos relacionamentos são retratadas no roteiro quando David conhece alguns colegas no hotel. John é um homem que por conta de um acidente, acabou tendo um problema na perna que o faz mancar, e Robert é um homem que sofre de sigmatismo, popularmente conhecido como “língua presa”. Os personagens procuram por mulheres que tenham essas mesmas características que eles. Destaque para a cena em que John diz que sua mãe foi trocada por uma mulher com pós-graduação, sendo que ela é “apenas” graduada e isso foi motivo de ser deixada por seu pai. Essas situações estranhas são justamente o que faz o filme ser tão interessante, já que Yorgos não se preocupa em usar o ridículo de forma inteligente e crítica para representar como as pessoas às vezes podem ser tão exigentes com as outras, fazendo dos relacionamentos verdadeiras entrevistas de emprego.

Eis que o espectador se depara com o outro lado desse mundo: os solteiros que são contra qualquer relação. Esse grupo é retratado no filme como pessoas marginalizadas que precisam viver em uma floresta onde são caçados como animais pelos próprios hóspedes do hotel para serem transformados animais, mesmo porque, a cada solteiro caçado, o hóspede ganha um dia a mais no prazo para conhecer alguém no hotel. Mesmo colocando os solteiros como vítima, o roteiro não poupa criticar também o radicalismo de algumas pessoas que preferem ficar sozinhas e se afastarem do mundo e das pessoas, por conta talvez da falta de esperança na humanidade.

 Na floresta onde eles vivem, está proibido qualquer envolvimento entre eles, com direito a penalidades graves e violentas. Eles dançam música eletrônica porque é melhor para dançar só, não ajudam uns aos outros e qualquer demonstração de afeto pode ser perigosa. O lugar é comandado por uma líder (Léa Seydoux) e tem entre seus seguidores, uma mulher míope interpretada por Rachel Weisz.



Entre esses dois mundos extremistas, David que acaba se juntando aos solteiros depois de fracassar ao se envolver com uma mulher fria a calculista, conhece a mulher míope e ambos se sentem atraídos um pelo outro. O espectador tem uma esperança nessa relação que surge de forma natural e espontânea. Vale comentar que David, assim como seus colegas, tentou forçar ser o que não é para tentar se relacionar.


Quando o romance de David com a mulher míope se inicia, a narrativa coloca o protagonista em um dilema, já que as convenções sociais estão sempre presentes e fazendo com que as pessoas muitas vezes anulem sua própria identidade para se igualar a outra e assim fazer com que a relação dê certo. “O Lagosta” consegue com um humor ácido, retratar o radicalismo de pontos de vista das relações diante de um mundo pós-moderno, a perda de identidade para ser aceito pelo outro e uma possível esperança de derrubar um sistema para poder viver aquilo que é mais verdadeiro e da nossa própria essência.  

segunda-feira, 6 de novembro de 2017

Dica de série: Wanted

A dica de série dessa semana é a australiana “Wanted”, criada e estrelada por Rebecca Gibney , é uma série policial dramática que flerta com ação, que inicialmente foi ao ar pelo canal  australiano Seven Network em 2016.

A trama de Wanted já começa empolgante e atraente, com uma primeira cena inusitada e claustrofóbica, na qual são apresentadas as protagonistas aprisionadas em um porta-malas de um carro em movimento. A montagem da série que diga-se de passagem é um dos grandes destaque da produção, no primeiro episódio assume grande destaque, pois de forma não linear vamos descobrindo o que levou as duas personagens para dentro do porta-malas.


As duas mulheres em questão depois de presenciarem uma cena de crime, na qual acabam por se envolverem, são sequestradas. Inicia-se ai toda a história, pois além de terem de se libertar do sequestrador, que deseja silenciar as testemunhas, elas nem imaginavam que havia um problema ainda maior por trás daquela situação, pois não  presenciaram um crime qualquer, se tratava na verdade de algo grande, envolvendo um forte esquema de máfia e corrupção policial, ou seja, elas acabam por se tornar alvo fácil até mesmo para a policia de todo o país, pois são acusadas de uma série de crimes, pela policia corrupta, que sabia que as mulheres poderia estragar os seus negócios.

Uma das mulheres, Lola Buckley (Rebecca Gibney) é uma senhora já de meia idade que trabalhava como caixa de supermercado, e levava uma vida dura, e trazia com sigo uma história de passado complicado e conturbado e de abusos, porém Lola é uma mulher de muita atitude, forte e corajosa, sem medo de enfrentar o que acontece com ela.

A outra é bem mais jovem, cheia de compulsões e manias, Chelsea Babbage (Geraldine Hakewill), é uma jovem mimada, rica , insegura e um tanto atrapalhada, e apesar de tudo seu personagem acaba se tornando engraçado e doce.

Lola e  Chelsea são a dupla mais improvável, porém é interessante ver como vai surgindo uma sintonia entre as duas para que possam unir forças contra os que as perseguem.



A série tem um que de Road Movie , pois se passa quase que o tempo inteiro nas estradas Australianas, acompanhando a fuga das de Lola e  Chelsea, o que nos remete ao filme “Thelma & Louise”(1991) de Ridley Scott, percebe-se claramente que a Wanted se inspirou fortemente no filme dos anos 90, tanto na abordagem dos temas, como também na fotografia e montagem. Incorporando o discurso do espaço da mulher na sociedade, o que ainda permanece relevante, e dando espaço para personagens femininos fortes e que não se encaixam em padrões de beleza e estereótipos.

Na série  Chelsea apesar de já ter 29 anos ainda é imatura e insegura, nem por isso o personagem se torna desmerecido, pois remete a geração que ainda não sabe o que quer da vida quando já deveria(Nossa geração), mas também apresenta um personagem que faz uma curvatura, que vai crescendo dentro da trama enquanto amadurece, o que nos trás mais uma comparação com a personagem  Thelma, de “Thelma & Louise”, ambos os personagens parecem inocentes diante da vida, a espera que alguém assuma o controle da situação por elas. Deixando para o outro elemento da dupla o cargo da responsabilidade sobre as ações.


“Thelma & Louise” - Ridley Scott
“Wanted”
O diferencial, é que em wanted as protagonistas se conhecem no momento em que suas vidas foge completamente do controle, ou seja uma vai ter que contar com a outra independente de suas vontades, enquanto que em “Thelma & Louise”, sabemos desde o começo que apesar das diferenças entre a dupla de protagonistas elas já eram amigas de longa data, e uma já conhecia o passado da outra. 

Se pensarmos por esse lado é uma escolha interessante trazendo para o formato seriado de TV, pois a trama tem a possibilidade de crescer para outros lados, enquanto Lola e Chelsea vão se conhecendo melhor.

Na primeira temporada temos um aprofundamento da história de Lola, e basicamente é um dos elementos que faz a história girar, já que ela é quem acaba tomando as maiores decisões, e apesar de seu jeito simples beirando ao bruto, ao decorrer da temporada vamos identificando nela apesar de seu lado durona e de passado misterioso, uma mulher protetora e maternal.

A dupla Lola e  Chelsea funciona bem, é fácil gostarmos dos personagens embora não seja tão recorrente protagonistas mulheres fortes passadas dos 40. Com uma montagem em estilo de filmes de ação, acabamos nos envolvendo, desejando solucionar o caso, episódio por episódio.


Para quem quiser assistir Wanted a primeira e a segunda temporada estão disponíveis no Brasil pela Netflix. 

segunda-feira, 30 de outubro de 2017

Rebecca, A Mulher Inesquecível

Crítica
Rebecca, A Mulher Inesquecível


Texto de: Tarcísio Paulo Dos Santos Araújo 


Rebecca, A Mulher Inesquecível, é o primeiro filme em solo americano de Alfred Hitchcock. A obra é uma adaptação do romance de Daphne du Maurier, Rebecca, publicado em 1938.


David O. Selznick, famoso produtor americano, mais conhecido por produzir E o Vento Levou, pretendia comprar os direitos de Titanic, que também contaria com a direção de Hitchcock, porém mudou de ideia ao adquirir os direitos de Rebecca.
Joan Fontaine interpreta uma jovem mulher (a personagem não tem nome) que trabalha como dama de companhia para Edythe Van Hopper (Florence Bates). Em Monte Carlo a jovem conhece Maximilian de Winter (Laurence Olivier) e em pouco tempo ambos se apaixonam e se casam.
Os dois vão morar em Manderley, uma casa de campo em Cornwall, mas a jovem moça não ganha a simpatia da Sra. Danvers (Judith Anderson), que trabalha como governanta na mansão desde o casamento anterior do milionário com já sua falecida esposa, Rebecca. A Sra. Danvers tem uma admiração exagerada por Rebecca, alimentando um ódio pela nova esposa de Maximlian, atrapalhando assim a vida da jovem.
David O. Selznick pediu que o filme fosse fiel ao romance (que é mais simples), e embora Hitchcock não considere um filme caracterizado pelo seu suspense, sua direção consegue fazer um grande diferencial. É nítido um mistério e uma sensação de desconforto vivido pela personagem principal enquanto está na mansão de seu novo esposo.
Logo na chegada do casal à mansão, a chuva já prevê que as coisas não serão nada fáceis para a nova senhora de Winter. Joan Fontaine está muito bem no papel e traz na uma expressão corporal mais curvada e introvertida, reflexo de total desconforto no novo ambiente. Isso mudará no decorrer do filme, principalmente quando alguns mistérios forem revelados, e o espectador perceberá a evolução da personagem que refletirá em sua postura e até figurino.
E já comentando as interpretações, a personagem de Judith Anderson, como a excêntrica Sra. Danvers está perfeita. Ela faz uma mulher cheia de mistérios e sua admiração excessiva por Rebecca, deixa implícito o amor platônico que a governanta nutria pela ex-patroa. Apesar de pouco se saber sobre a governanta, ela também tem uma expressão corporal (ou melhor, dizendo, quase nenhuma) que a deixa robótica, a favor da composição de sua personagem. Sua forma mecânica de se locomover e o fato de aparecer e desaparecer do nada em algumas cenas, a fazem parecer um espírito que anda pela mansão, vigiando o lugar que para ela, sempre pertencerá a Rebecca. Hitchcock pediu para que Judith Anderson mexesse as pernas o menos possível ao andar, além de seu vestido mal mostrar seus pés, para que se tivesse a impressão de que a personagem flutuasse.


E o que dizer de Rebecca? A mulher inesquecível e invisível, que ao mesmo tempo é tão presente durante o filme. Sua presença é constantemente relembrada pela Sra. Danvers propositalmente para que a esposa de Maxim se sinta constantemente coagida. Interessante observar que em uma cena em que Maxim relembra a falecida exposa, ele narra suas ações e a câmera começa a se mover pelo ambiente como se Rebecca estivesse em cena no momento. O próprio espectador a imagina se levantando e caminhando.
A fotografia está muito interessante. Planos valorizam a grandiosidade da cenografia e deixam a esposa de Maxim minúscula e desorientada em meio a quadros e espelhos enormes, como se a casa fosse devorá-la. O uso de sombras nas cenas certas também contribui para o suspense. Esse “assombro” no filme se cria na cabeça da personagem e na do espectador através da excelente direção de Hitchcock.



Rebecca, A Mulher Inesquecível recebeu os Oscars de melhor filme e melhor fotografia em preto e branco em 1940.

Ficha Técnica:
Direção: Alfred Hitchcock
Roteiro: Philip MacDonald, Michael Hogan
Gênero: Drama, Thriller
Elenco: Laurence Olivier, Joan Fontaine, George Sanders, Judith Anderson
Duração: 125 minutos
Ano da produção: 1940



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