segunda-feira, 30 de outubro de 2017

Rebecca, A Mulher Inesquecível

Crítica
Rebecca, A Mulher Inesquecível


Texto de: Tarcísio Paulo Dos Santos Araújo 


Rebecca, A Mulher Inesquecível, é o primeiro filme em solo americano de Alfred Hitchcock. A obra é uma adaptação do romance de Daphne du Maurier, Rebecca, publicado em 1938.


David O. Selznick, famoso produtor americano, mais conhecido por produzir E o Vento Levou, pretendia comprar os direitos de Titanic, que também contaria com a direção de Hitchcock, porém mudou de ideia ao adquirir os direitos de Rebecca.
Joan Fontaine interpreta uma jovem mulher (a personagem não tem nome) que trabalha como dama de companhia para Edythe Van Hopper (Florence Bates). Em Monte Carlo a jovem conhece Maximilian de Winter (Laurence Olivier) e em pouco tempo ambos se apaixonam e se casam.
Os dois vão morar em Manderley, uma casa de campo em Cornwall, mas a jovem moça não ganha a simpatia da Sra. Danvers (Judith Anderson), que trabalha como governanta na mansão desde o casamento anterior do milionário com já sua falecida esposa, Rebecca. A Sra. Danvers tem uma admiração exagerada por Rebecca, alimentando um ódio pela nova esposa de Maximlian, atrapalhando assim a vida da jovem.
David O. Selznick pediu que o filme fosse fiel ao romance (que é mais simples), e embora Hitchcock não considere um filme caracterizado pelo seu suspense, sua direção consegue fazer um grande diferencial. É nítido um mistério e uma sensação de desconforto vivido pela personagem principal enquanto está na mansão de seu novo esposo.
Logo na chegada do casal à mansão, a chuva já prevê que as coisas não serão nada fáceis para a nova senhora de Winter. Joan Fontaine está muito bem no papel e traz na uma expressão corporal mais curvada e introvertida, reflexo de total desconforto no novo ambiente. Isso mudará no decorrer do filme, principalmente quando alguns mistérios forem revelados, e o espectador perceberá a evolução da personagem que refletirá em sua postura e até figurino.
E já comentando as interpretações, a personagem de Judith Anderson, como a excêntrica Sra. Danvers está perfeita. Ela faz uma mulher cheia de mistérios e sua admiração excessiva por Rebecca, deixa implícito o amor platônico que a governanta nutria pela ex-patroa. Apesar de pouco se saber sobre a governanta, ela também tem uma expressão corporal (ou melhor, dizendo, quase nenhuma) que a deixa robótica, a favor da composição de sua personagem. Sua forma mecânica de se locomover e o fato de aparecer e desaparecer do nada em algumas cenas, a fazem parecer um espírito que anda pela mansão, vigiando o lugar que para ela, sempre pertencerá a Rebecca. Hitchcock pediu para que Judith Anderson mexesse as pernas o menos possível ao andar, além de seu vestido mal mostrar seus pés, para que se tivesse a impressão de que a personagem flutuasse.


E o que dizer de Rebecca? A mulher inesquecível e invisível, que ao mesmo tempo é tão presente durante o filme. Sua presença é constantemente relembrada pela Sra. Danvers propositalmente para que a esposa de Maxim se sinta constantemente coagida. Interessante observar que em uma cena em que Maxim relembra a falecida exposa, ele narra suas ações e a câmera começa a se mover pelo ambiente como se Rebecca estivesse em cena no momento. O próprio espectador a imagina se levantando e caminhando.
A fotografia está muito interessante. Planos valorizam a grandiosidade da cenografia e deixam a esposa de Maxim minúscula e desorientada em meio a quadros e espelhos enormes, como se a casa fosse devorá-la. O uso de sombras nas cenas certas também contribui para o suspense. Esse “assombro” no filme se cria na cabeça da personagem e na do espectador através da excelente direção de Hitchcock.



Rebecca, A Mulher Inesquecível recebeu os Oscars de melhor filme e melhor fotografia em preto e branco em 1940.

Ficha Técnica:
Direção: Alfred Hitchcock
Roteiro: Philip MacDonald, Michael Hogan
Gênero: Drama, Thriller
Elenco: Laurence Olivier, Joan Fontaine, George Sanders, Judith Anderson
Duração: 125 minutos
Ano da produção: 1940



Nenhum comentário:

Postar um comentário

Erotismo e a cidade: Vidas nuas (1967) de Ody Fraga

  O aspecto mais interessante em Vidas nuas é a fluidez como a cidade de São Paulo é filmada, desde seu primeiro plano quando temos acesso ...