Cathryn (Susannah York), é uma escritora de livros infantis que começa a sofrer de transtornos causados por uma aparente esquizofrenia. Suas visões consistem em imagens de homens com quem ela teve algum relacionamento no passado, mesmo estando casada com Hugh (Rene Auberjonois). Quando o casal resolve passar alguns dias em uma casa de campo, tudo piora e as visões da mulher se tornam frequentes.
Assim é a sinopse
de Imagens, o que podemos considerar
com o único filme de terror (psicológico) dirigido por Robert Altman, conhecido
por filmes como Short Cuts - Cenas da Vida (Short Cuts, 1993) e M.A.S.H.
(1970), que apresentam histórias paralelas e críticas à sociedade. O longa é
mais um daqueles que consegue com eficiência retratar os elementos do horror
como alegorias para aquilo que faz parte do nosso próprio mundo, como nesse caso,
a esquizofrenia.
Além de retratar
isso, o espectador é logo colocado dentro da cabeça da protagonista. A
narrativa é totalmente do ponto de vista de Cathryn, e a ótima direção de
Altman nos faz mergulhar em um universo que por inúmeras vezes remete a um
mundo onírico e constantemente estranho.
Imagens, como o próprio
nome já diz, brinca justamente com o que
estamos vendo. Por vezes não sabemos se um determinado evento realmente
aconteceu ou estamos diante de um delírio da personagem, que chega a se ver
durante o filme, como uma representação de sua própria doença e da tentativa de
fugir dela. Altman não precisou construir um mundo exagerado para nos mostrar
explicitamente que a personagem está delirando. Sabemos que a personagem está
em um mundo real, porém distorcido.
A forma com que o
tempo e o espaço são manipulados, são essenciais para esse efeito de
desconexão. No momento em que Cathryn está em pé numa colina e de repente se vê
entrando na casa de campo, é como se o tempo entre ela descendo a colina para
chegar até a casa, fossem suprido. Isso cria uma fragmentação das imagens que
representa muito bem sua mente. Às vezes somos surpreendidos com uma mudança de
personagem que parece representar o marido da protagonista, mesmo quando
claramente estamos vendo outro ator em cena. Por vezes essa mudança se torna
fluída, enquanto em outras, a edição faz o uso de cortes secos para mudar ações
da própria Cathryn dentro da cena.
No decorrer do
filme, a mulher descobre que “matando” essas imagens, seja com espingardas ou
facas, parece ser a única solução para se livrar de suas visões. Porém, a única
imagem impossível de se livrar, é justamente a sua, como uma forma de lembrar
que ela não pode ficar livre de sua própria mente. A câmera aliás, objeto usado
justamente para produzir imagens, é vista constantemente no filme, já que Hugh
é fotógrafo e está trabalhando em um projeto. Não é à toa que em um determinado
momento em que Cathryn dispara uma arma, a bala atinge justamente a câmera.
O filme foi
filmado na Irlanda e o local acabou sendo muito apropriado para a criação de
uma atmosfera de incertezas e constante estranheza. Em muitas cenas o céu está
nebuloso, e até em cenas em que mostram paisagens mais bonitas e até tranquilizadoras,
o filme nos insiste em lembrar que estamos dentro da mente de uma mulher
esquizofrênica. Isso aliás é justificável para qualquer cena que o espectador
possa ver, já que tudo o que acontece, pode ser questionado. A dubiedade é
retratada muito bem na direção de arte, que usa espelhos em algumas cenas ou
reflexos de Cathryn para reforçar essa ideia de “dois mundos”.
A música tem um
papel importante no filme, agindo praticamente como um personagem a parte.
Personagem esse responsável por perturbar o espectador com sons que incomodam e
que por vezes não parecem harmônicos, contribuindo ainda mais para uma imersão
do público. Os sons foram criados pelo percussionista Stomu Yamashta, que
utilizou instrumentos de corda e percussão. John Williams também contribui com
a trilha, criando uma atmosfera sinistra.
Imagens é mais uma prova de como é possível fazer
um bom terror psicológico (literalmente) ao tratar de um lugar que pode ser
mais aterrorizador e obscuro que muita casa mal-assombrada: a mente humana.