Talvez um dos filmes mais inusitados a fazer parte do catálogo da Netflix, A Antena é uma produção argentina dirigida e roteirizada por Esteban Sapir e lançada em 2007.
Uma cidade com um visual típico da década de 1920 ou 1930 (mesmo com algumas tecnologias avançadas para a época), vive sob o domínio do Sr. TV (Alejandro Urdapilleta), responsável por roubar todas as vozes da população. Todas exceto a voz de uma famosa cantora conhecida como "A Voz" (Florencia Raggi), a única pessoa conhecida na cidade que ainda pode falar. Sr. TV resolve agora usar a cantora para roubar as palavras das pessoas e usá-las como matéria prima de seus produtos nocivos que vende para a própria população da cidade.
Com referências claras aos filmes Metrópolis (1927) e Viagem à Lua (1902), A Antena tem um visual impecável, como se fosse mesmo uma grande produção da década de 1920. O cinema mudo e o uso dos intertítulos (usados na própria cena e não em um fundo preto), são sabiamente usados para justificar a falta de voz de quase todos os personagens da trama. Quando resolvem aparecer, as palavras brincam com o contexto da cena, como por exemplo palavras saindo de um megafone enquanto um personagem grita através do objeto.
Há também o uso de stop motion, maquetes e projeções de fundo. Tudo isso ajuda a compor uma cidade em preto e branco e cheia de neve, cujos prédios parecidos e repletos de outdoors da estação de TV, formam uma atmosfera pouco alegre e monótona.
Cabe ao núcleo protagonista interromper os planos do Sr. TV. Composto por um inventor (Rafael Ferro), seu pai (Ricardo Merkin), sua ex-esposa (Julieta Cardinali), sua filha Ana (Sol Moreno) e o amigo da menina, Tomás (Jonathan Sandor), filho de “A Voz”, o grupo se une para ir até a uma antena desativada para usar a voz de Tomás para impedir que as palavras dos habitantes da cidade sejam roubadas. A pequena aventura vivida no filme, conta com um pouco de ação e perseguição, e por mais que a narrativa seja óbvia em seu maniqueísmo, o estilo proposto como um clássico filme mudo, não nos causa incomodo com personagens bem definidos entre mocinhos e vilões.
A mensagem não poderia ser mais clara e infelizmente tão atual. Trata-se basicamente do uso da mídia como um produto nocivo e manipulador das massas que estão anestesiadas e literalmente sem voz. O símbolo da estação de TV nada mais é que uma espiral, muito usada para representar a hipnose. O símbolo é visto nos outdoors, na programação da Tv e até nos biscoitos vendidos para a população e fabricados pela própria estação do Sr. TV.
Nosso vilão não satisfeito em roubar as vozes das pessoas, pretende roubar também as suas palavras, o pouco que lhes restaram. Curioso como “A Voz” e Tomás possuem o poder de fala, porém lhes falta traços físicos. Enquanto “A Voz” não tem rosto, Tomás não tem os olhos e vive escondido dentro de casa, sendo que sua existência jamais pode ser descoberta pelo Sr. TV. Por ser ainda criança, é como se o menino não fosse literalmente capaz de enxergar a maldade do mundo a sua volta.
Há claras alusões ao nazismo e aos judeus em cenas em que o laboratório do cientista que ajuda o Sr. Tv com seus experimentos, forma o símbolo da suástica quando o ambiente está à meia luz. Já Tomás quando está preso à uma espécie de maca para que sua voz seja capturada pela antena, é nítido como o objeto tem a forma da estrela de Davi. Colocar a criança como a única capaz de salvar a cidade, traz a esperança de que a próxima geração possa fazer algo de melhor para ajudar o planeta.
Com uma trama
interessante e um estilo incomum, A Antena é um excelente filme para os
fãs de cinema mudo e de clássicos como Metrópolis. Não perca tempo e vá
correndo conferir esse novo filme no catálogo da Netflix.
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