Jogo
Perigoso (Gerald’s Game) foi escrito por Stephen King e publicado em 1992.
A obra foi dedicada à esposa de King, Tabitha e suas irmãs: "Este livro é
dedicado, com amor e admiração, a seis boas mulheres: Margaret Spruce Morehouse,
Catherine Spruce Graves, Stephanie Spruce Leonard, Anne Spruce Labree, Tabitha
Spruce King e Marcella. Abeto.”
Em
2017 a obra ganhou uma adaptação pela Netflix, com direção de Mike Flanagan e Carla
Gugino e Bruce Greenwood no elenco principal. O longa foi bem recebido pela
crítica, que elogiou a performance de Gugino, já que a mesma é responsável por
carregar boa parte da dramaticidade do filme.
Gerald
(Bruce Greenwood) e Jessie (Carla Gugino) viajam pra uma casa de campo isolada
para dar novos ares na relação com alguns fetiches envolvendo algemas. Depois
de ser algemada na cama, Jessie participa dos jogos do marido, até que o mesmo
sofre um infarto. Algemada, a esposa de Gerald precisa lutar para sobreviver e
escapar das algemas tanto físicas, quanto das que aprisionam sua mente.
Primeiramente,
vale falar sobre o trabalho de Mike Flanagan. O cineasta é conhecido por seus
filmes de terror e de uma constante conexão de seus personagens com o passado.
Em seu trabalho, passado e presente estão sempre fortemente ligados, tanto no
tema como na edição de seus filmes, que também contam com o trabalho de
Flanagan. O diretor foi responsável pela série A
Maldição da Residência Hill (também
da Netflix), cuja segunda temporada, também contará com o
cineasta na direção.
É
nesse quarto, algemada, que Jessie enfrenta seus demônios.
O trauma com a morte do marido e a impotência diante da situação, faz com que a personagem tenha
alucinações com uma versão sua e a de seu marido falecido. Essas aparições têm
uma função muito inteligente na história, já que claramente simbolizam facetas
de Jessie. Quando a mulher conversa com a imagem do marido morto e sua própria
imagem, é como se estivéssemos conhecendo um lado mais pessimista da
protagonista, mas também seu lado forte.
A
partir desses diálogos há uma interessante estudo da personagem enquanto vamos
descobrindo mais sobre seus traumas, fraquezas e baixa autoestima. A figura de
Gerald é mais sarcástica e pessimista para que Jessie sobreviva. Já a “cópia”
de Jessie é aquela que a ajuda para que ela pense com calma e tente sobreviver
e escapar. Interessante como essas figuras acabam servindo como espelho para o
relacionamento da mulher e com a ideia de que muitas vezes a ajuda deve partir
de nós mesmos.
Se
tratando de uma personagens que conversa com duas pessoas que estão em sua
cabeça, a mise-en-scène coloca a entrada em cena desses personagens não reais,
de forma que os raccords de movimento, não sigam uma lógica. Para quem não
sabe, raccord tem origem francesa e pode ser designado por
continuidade, ou seja, quando um elemento ao se movimentar, deve seguir a mesma
direção. Nos diálogos de Jessie, Gerald e sua cópia caminham pelo quarto em
alguns momentos, dando fluidez nas cenas. Às vezes eles aparecem em um canto e
do nada já estão em outro, quebrando essa continuidade.
Nos
flashbacks o eclipse que aconteceu durante a pré-adolescência de Jessie tem
forte simbologia no filme. Ele representa o momento em que algo muito sério
aconteceu com ela e é como se esse fenômeno ainda durasse durante toda sua
vida. A fotografia avermelhada é muito interessante no sentido de como banha
toda a tela de vermelho, como esse mau que ainda marca a vida da personagem já
adulta.
Jogo
perigoso é uma excelente adaptação da Netflix ao abordar questões sérias e a
importância de fazermos as pazes com o passado e com nós mesmos. Um tema
semelhante também faz parte de outro livro de King chamado Dolores Claiborne,
que também ganhou uma adaptação protagonizada pela atriz Kathy Bates e que será
abordada na semana que vem.
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