sexta-feira, 25 de outubro de 2019

Crítica: Carrie, a Estranha



Eis que chegamos a um clássico: Carrie, a Estranha. Publicado em 05 de abril de 1974, o livro é o primeiro romance de Stephen King. O livro epistolar ganhou uma primeira tiragem  aproximada de 30.000 cópias. Várias adaptações de Carrie foram lançadas, incluindo o longa-metragem de 1976, um musical da Broadway de 1988, uma continuação em 1999, um filme feito para a TV em 2002, que já passou diversas vezes no SBT e um remake em 2013.


Carrie White é a clássica garota desajustada que vira motivo de piada em toda a escola. Ela descobre seus poderes tele cinéticos que vêm à tona quando ela se sente provocada ou acuada. King considera o livro um trabalho "cru" e "com um poder surpreendente de machucar e horrorizar". Carrie foi um dos livros mais proibidos nas escolas dos Estados Unidos. A obra faz uso de recortes de jornais, artigos de revistas, cartas e trechos de livros para contar como a protagonista destruiu a cidade fictícia de Chamberlain, Maine, enquanto se vingava de seus colegas maldosos e de sua própria mãe Margaret, uma fanática religiosa desequilibrada.

Carrie, a Estranha é um bom terror psicológico sobre repressão, misoginia e porque não sobre o bullying. A segunda cena do filme coloca algumas estudantes correndo nuas em câmera lenta pelo vestiário da escola, mostrando uma sexualidade e confiança dessas garotas com seus corpos e consigo mesmas. Carrie (Sissy Spacek) por outro lado, tem sua primeira menstruação no chuveiro do vestiário. A cena transforma esse momento simples em algo traumatizando e horrífico, colocando a protagonista em desespero enquanto pede ajuda com as mãos cheias de sangue. Esse momento aliás já é um grande presságio da cena icônica mais para o final do filme.

Já a mãe de Carrie, Margaret (Piper Laurie), é a típica fanática religiosa. Se hoje a personagem possa parecer exagerada demais, por outro, essa caricatura não está tão longe assim de alguns religiosos fervorosos cuja fé chega a cegá-los e até a despersonalizá-los. Basta lembrarmos também que estamos diante de um filme de terror psicológico, e quando se tem uma mãe que culpa a filha por ela menstruar, essa mãe não poderia estar em um gênero melhor que não o do terror.


A fotografia de Mario Tosi coloca Carrie emoldurada em algumas cenas. Ora através de janelas, ora em alguns cômodos da casa, que é mais escura em comparação aos outros lugares em que se passa o filme. A câmera também não fica estática em algumas cenas, como no momento em que Carrie confronta a mãe enquanto decidida a ir ao baile, enquanto se arruma em frente ao espelho quebrado. Já enquanto está no baile, a câmera quase alta por completo na casa da protagonista, representa a imagem do poder divino que Margaret tanto fala durante o filme. A ideia de uma castração é fortemente alegórica quando a mãe de Carrie corta violentamente algumas cenouras.

Na sequência do baile, nós espectadores, compartilhamos um pouco da ansiedade dos antagonistas do filme. Esperamos o momento em que o balde com sangue de porco cairá sobre a cabeça da pobre Carrie. Sissy Spacek está genial no papel. A atriz transita muito bem entre a garota estranha com o olhar amedrontado e singular e a menina sonhadora e humilde, que decide aceitar o convite de Tommy (William Katt) para ir a formatura com ele. Fica claro que Carrie só quer ser como as outras pessoas e saber o que vai acontecer com ela e vê-la tão feliz no baile é de partir o coração.


O momento épico e triste, atiça os poderes da protagonista de forma devastadora, mas ainda em menor proporção se comparada ao livro de King. Com um orçamento apertado, não foi possível para Brian De Palma filmar toda a cidade sofrendo nas mãos da vingativa Carrie, limitando a destruição apenas na escola e vitimizando  quase todos os seus colegas e professores. Aqui fica uma alegoria de como uma vingança por conta do bullying, pode manchar a própria vítima e seus praticantes de sangue. Ambos os lados saem perdendo.
 


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