quinta-feira, 31 de outubro de 2019

Lendo o livro It a Coisa - Parte 1

Seguindo o nosso especial de outubro(que vai se estender para novembro), no qual nos dedicamos a analisar e conhecer um pouco melhor a obra do escritor Stephen King, o que não é uma tarefa muito fácil, já que o cara tem uma obra gigantesca, e de muita importância para o mundo da literatura contemporânea, e alguns de seus livros são bem “gordinhos”, como é o caso do livro “It A Coisa”, que fazia parte do nosso desafio do mês e deveria ser lido, para trazer aqui para o blog um pouco da nossa experiência com essa leitura.

It A coisa é talvez uma das obras de maior destaque de Stephen King, e a popularidade do livro só aumentou com as versões que ele ganhou para o universo do audiovisual.
O livro do gênero de terror, foi lançado no ano de 1986, e ganhou uma adaptação para tv no ano de 1990, que chegou aqui no Brasil com o título: “It - Uma obra prima do medo”.
Tele série de 1990
Recentemente a obra ganhou um novo gás, e alcançou novos leitores e fãs, com dois longas lançados, um no ano de 2017, com o título “It A Coisa”, e outro no ano de 2019, trazendo a continuação da história com o título de “It Capítulo 2”. Os dois filmes levaram multidões de pessoas ao cinema, que estavam ansiosos para uma nova obra cinematográfica do gênero de terror. 


Vamos falar sobre os filmes em um outro momento...
Agora vamos falar um pouco sobre como anda a nossa leitura de It A Coisa.

O livro que conta a história de Bill Denbrough, Richie Tozier, Stan Uris, Mike Hanlon, Eddie Kapsbrak, Ben Hanscom e Beverly Marsh, sete amigos que se conheceram na infância, e depois de passarem por algumas experiências estranhas nas férias do verão de 1958, cada um deles acabam se separando, seguindo seus caminhos, espalhados pelos Estados Unidos, levando suas vidas, quase que sem se lembrarem da infância e daquele verão.

Asim que começamos a ler o livro percebemo que ele não se trata apenas de um livro de terror, trazendo também elementos de suspense e thriller, além de elementos do romance com aventura bem ao estilo “Tom Sawyer” (Mark Twain).

O livro é dividido em Pastas e essas pastas por sua vez em partes e capítulos, o que no dá uma sensação de relatos verídicos da história que está sendo narrada, já que as pastas contêm elementos como documentos, recortes de jornais, e fotografias, sobre tudo o que aconteceu em Derry.
A primeira parte do livro se dedica a apresentação dos personagens e também a apresentação da cidade de Derry, o pano de fundo de todos os acontecimentos, seria impossível ler It, e não fazer uma criação mental da cidade perfeitamente, Derry é uma cidadezinha do interior, no estado americano do Maine. Cada detalhe como nome de ruas, as praças e canais são citados com riqueza de detalhes, de modo que nos vemos completamente imersos em Derry e na história.

A cidade não é apenas pano de fundo da história pelo seu ar nostálgico dos anos 1950, recriando memórias da infância que são de fácil identificação, a cidade protagoniza, por causa do o seu estilo de vida e pelos hábitos de seus moradores, os segredos escondidos de vizinhos, ou a famosa hipocrisia cordial do homem médio, que joga seus preconceitos, racismos e tudo o que possa existir nele de ruim para baixo do tapete, retando apenas a imagem do cidadão de bem. Derry absorve tudo isso e aproveita cada sentimento, principalmente o medo para despertar forças estranhas malignas e mortíferas.

O livro diferentemente dos filmes de 2017 e 2019, não se trata de uma história em linha narrativa reta, que começa na infância e vai até a vida adulta das peonagens, ele vai e volta no tempo, entre os anos 1950 e 1980. Nos situando a respeito dos fatos sem ordem cronológica de acontecimentos, outra diferença aqui entre os filmes lançados recentemente, é que a história no livro não começa nos anos1980 chegando até os anos atuais.
O livro trabalha muito com a questão da memória e dos sentimentos numa perspectiva que vária com o passar do tempo, levando em consideração que quando se tem 11 ou 12 anos de idade, se tem outra forma de ver o mundo e encarar os acontecimentos, ao passo que quado nos tornamos adultos a maior parte das coisas tem outro peso, outro valor. Então a narrativa se torna empolgante com os vai e vem através do tempo, na perspectiva dos vários personagens ao longo dos anos, o que contribui com uma construção mais verdadeira dos personagens. (O que aqui para mim como leitora, me lembrou muito o enredo da série da Netflix: ‘Dark’, alias daria um outro texto comparar as obras).

O ponto de partida da história é a morte do pequeno George Denbrough, o irmão mais novo de Bill. Diversas crianças estavam desaparecendo na cidade de Derry no ano de 1958, e algumas delas apareciam mortas com seus corpos mutilados, a polícia local estava investigando os crimes misteriosos, mas nada haviam encontrado de concreto, Derrry estava sobre o toque de recolher para as crianças, nada de sair nas ruas desacompanhadas, muito menos a noite.
A morte de George despertou em Bill mais do que apenas o sentimento de perda do irmão caçula, o garoto precisava saber o que estava acontecendo na cidade, e quem era o responsável pela morte de George.

Fica claro para o leitor que a perda do irmão impactaria para sempre a vida Bill, talvez muito aqui seja sobre a perda prematura de um irmão na infância, de como se lida com sentimentos quando se é tão jovem, é muito tocante quando nos damos com os dilemas de Bill ainda na infância sentido falta do irmão, ao passo que também sentia muito medo de ser assombrado por George, que já não era mais um garoto vivo, poderia ser agora qualquer coisa, e poderia ser também assustador. Outro sentimento de Bill na infância é a sensação de abandono em relação aos pais, o menino conseguia entender que os pais não sabiam lhe dar com a perda do filho mais novo, assim como ele, o que causava um buraco na casa e na relação de confiança entre Bill e os pais.

Ao longo do livro vamos entendendo que todas as crianças da história, tinham relações complicadas com os pais e com os adultos, é claro que isso também faz parte do olhar da criança em relação ao mundo, porém aqui nos revela muitas histórias de abusos sofridos por essas crianças. Não atoa que a cidade tem um monstro que se alimenta de crianças, e não só de crianças mas de seus medos, e o que pode nos dar mais medo, do que nossos medos da infância.

O livro está recheado de elementos e citações do universo da cultura pop, se fala muito em programas da TV americana dos anos 1950, dos filmes e músicas que faziam sucesso na época, como é o caso do filme “O Lobisomem Adolescente” filme de 1957, “I Was a Teenage Werewolf” de Gene Fowler Jr, o filme é citado várias vezes no livro, e em uma delas os personagens vão ao cinema para assisti-lo. 




O mesmo acontece em relação aos anos 1980, onde também encontramos outras referências da cultura pop, não atoa, o palhaço assustador que personifica a coisa, tem a aparência do Ronald Mcdonald, e que alguns dos personagens quando adultos passaram a trabalhar no show biss.
Bill se tornou um escritor de sucesso casado com uma bela atriz de Hollywood, Ben trabalha com música em uma gravadora, e Beverly Marsh se tornou uma estilista renomada.
Apesar da aparente vida de sucesso dos personagens, eles ainda enfrentavam problemas semelhantes aos vividos na infância, em relação a aceitação. Já que Bill era o menino gago que perdeu o irmão, Richie era um menino sem muito senso da realidade famoso pelo apelido de “Boca de Lixo”, além de usar óculos fundo de garrafa, Stan era um menino magricela e judeu em uma época difícil para se ser um, Mike era negro e muito pobre, Eddie era o garoto doente, Ben o menino mais gordo da cidade e Beverly era pobre e usava roupas velhas.

Eles eram um grupo de crianças desajustadas, ou talvez um grupo de excluídos, que precisavam enfrentar preconceitos, eles eram “o clube dos otários”. A verdade é que terem uns aos outros foi decisivo para que pudessem enfrentar a coisa. Depois de muitos anos, eles precisam voltar a Derry se reencontrar para terminarem a história que começaram ainda crianças.



Ficamos por aqui com a nossa série sobre a leitura do livro It A Coisa. Em breve sai a segunda parte, ficou curioso a respeito do livro, leia também e comente com a gente as suas impressões e opiniões. Até a próxima =)


sexta-feira, 25 de outubro de 2019

Crítica: Carrie, a Estranha



Eis que chegamos a um clássico: Carrie, a Estranha. Publicado em 05 de abril de 1974, o livro é o primeiro romance de Stephen King. O livro epistolar ganhou uma primeira tiragem  aproximada de 30.000 cópias. Várias adaptações de Carrie foram lançadas, incluindo o longa-metragem de 1976, um musical da Broadway de 1988, uma continuação em 1999, um filme feito para a TV em 2002, que já passou diversas vezes no SBT e um remake em 2013.


Carrie White é a clássica garota desajustada que vira motivo de piada em toda a escola. Ela descobre seus poderes tele cinéticos que vêm à tona quando ela se sente provocada ou acuada. King considera o livro um trabalho "cru" e "com um poder surpreendente de machucar e horrorizar". Carrie foi um dos livros mais proibidos nas escolas dos Estados Unidos. A obra faz uso de recortes de jornais, artigos de revistas, cartas e trechos de livros para contar como a protagonista destruiu a cidade fictícia de Chamberlain, Maine, enquanto se vingava de seus colegas maldosos e de sua própria mãe Margaret, uma fanática religiosa desequilibrada.

Carrie, a Estranha é um bom terror psicológico sobre repressão, misoginia e porque não sobre o bullying. A segunda cena do filme coloca algumas estudantes correndo nuas em câmera lenta pelo vestiário da escola, mostrando uma sexualidade e confiança dessas garotas com seus corpos e consigo mesmas. Carrie (Sissy Spacek) por outro lado, tem sua primeira menstruação no chuveiro do vestiário. A cena transforma esse momento simples em algo traumatizando e horrífico, colocando a protagonista em desespero enquanto pede ajuda com as mãos cheias de sangue. Esse momento aliás já é um grande presságio da cena icônica mais para o final do filme.

Já a mãe de Carrie, Margaret (Piper Laurie), é a típica fanática religiosa. Se hoje a personagem possa parecer exagerada demais, por outro, essa caricatura não está tão longe assim de alguns religiosos fervorosos cuja fé chega a cegá-los e até a despersonalizá-los. Basta lembrarmos também que estamos diante de um filme de terror psicológico, e quando se tem uma mãe que culpa a filha por ela menstruar, essa mãe não poderia estar em um gênero melhor que não o do terror.


A fotografia de Mario Tosi coloca Carrie emoldurada em algumas cenas. Ora através de janelas, ora em alguns cômodos da casa, que é mais escura em comparação aos outros lugares em que se passa o filme. A câmera também não fica estática em algumas cenas, como no momento em que Carrie confronta a mãe enquanto decidida a ir ao baile, enquanto se arruma em frente ao espelho quebrado. Já enquanto está no baile, a câmera quase alta por completo na casa da protagonista, representa a imagem do poder divino que Margaret tanto fala durante o filme. A ideia de uma castração é fortemente alegórica quando a mãe de Carrie corta violentamente algumas cenouras.

Na sequência do baile, nós espectadores, compartilhamos um pouco da ansiedade dos antagonistas do filme. Esperamos o momento em que o balde com sangue de porco cairá sobre a cabeça da pobre Carrie. Sissy Spacek está genial no papel. A atriz transita muito bem entre a garota estranha com o olhar amedrontado e singular e a menina sonhadora e humilde, que decide aceitar o convite de Tommy (William Katt) para ir a formatura com ele. Fica claro que Carrie só quer ser como as outras pessoas e saber o que vai acontecer com ela e vê-la tão feliz no baile é de partir o coração.


O momento épico e triste, atiça os poderes da protagonista de forma devastadora, mas ainda em menor proporção se comparada ao livro de King. Com um orçamento apertado, não foi possível para Brian De Palma filmar toda a cidade sofrendo nas mãos da vingativa Carrie, limitando a destruição apenas na escola e vitimizando  quase todos os seus colegas e professores. Aqui fica uma alegoria de como uma vingança por conta do bullying, pode manchar a própria vítima e seus praticantes de sangue. Ambos os lados saem perdendo.
 


segunda-feira, 21 de outubro de 2019

Crítica - Eclipse Total



Lançado em 1992, Dolores Claiborne é mais uma grande obra de Stephen King. O livro teve grande êxito e foi um best-seller nos EUA. Em 1995 ganhou uma adaptação para o cinema com o nome aqui no Brasil de Eclipse Total. Dirigido por Taylor Hackford, no elenco estão as atrizes Kathy Bates, Jennifer Jason Leigh e Judy Parfitt, além dos atores Christopher Plummer e John C. Reilly. Subestimado pela crítica, o longa conta com uma das melhores atuações de Bates, mas que também passou despercebida pelas premiações na época.   

Dolores Claiborne (Kathy Bates) mora numa cidade do interior que fica em uma ilha em Maine. Lá ela trabalha como empregada de Vera (Judy Parfitt), uma rica e exigente mulher. Quando Vera é vista morta pelo carteiro e Dolores prestes a acertar sua cabeça com um rolo de macarrão, a mesma é tida como principal suspeita de ter assassinado Vera. A filha de Dolores, Selena (Jennifer Jason Leigh), é uma importante jornalista em Nova York e vai de encontro a mãe após quinze anos sem visita-la.

Esse é mais um filme que trata de temas delicados. Se em Jogo Perigoso (texto da semana passada), a sobrevivência da protagonista desencadeia com ela mesma uma avaliação sobre seu passado, Eclipse Total trata da relação conturbada entre mãe e filha, mas também esse acerto de contas com a verdade para que abas possam seguir em frente com suas vidas e sem mágoas.


O passado e o presente nesse filme têm uma força maior, já que a memória aqui tem mais força emocional, mas que evita transformar tudo em um melodrama exagerado. Dolores constantemente se recorda de momentos em que a filha ainda era pré-adolescente e ainda morava com ela e seu marido já falecido. Em Jogo Perigoso, o passado é visto mais como algo a ser confrontado e que deve ser visto cara a cara.

A fotografia é óbvia, mas eficiente ao tratar o passado com cenas cujos tons são mais saturados e coloridos e o presente com tons acinzentados e azulados. A transição se dá de forma às vezes muito sutil e quase não percebemos a transição se não fosse pelo contraste das cores da fotografia. Curioso como mesmo o passado de Dolores sendo retratado com cores saturadas, ele não tem nada de próspero. É como se a única coisa boa que as cores retratam é o fato de Selena estar perto de sua mãe.



Além dessa relação entre mãe e filha, o destaque também fica para atuação de Judy Parfitt, principalmente quando comparamos a personagem Vera no passado e no presente. A caracterização junto com a atuação da atriz é uma das melhores atuações de uma atriz coadjuvante já vistas. Toda a caracterização dos personagens está muito bem feita e principalmente natural.

As três personagens principais no filme, são bem exploradas e podemos perceber suas camadas. Até Vera que a princípio pode ser vista como uma personagem estereotipada, nos mostra facetas que a colocam como um personagem capaz de oferecer muito mais que a típica mulher amargurada e cheia de clichês.  

O eclipse, como em Jogo Perigoso, tem uma função importante também nesse filme. O evento também marca um importante acontecimento na vida das protagonistas. É como se ambos os fenômenos ainda estivessem metaforicamente produzindo efeitos na vidas dessas duas mulheres. A cor vermelha é presente nos filmes e frisam algo de ruim que sempre irá marcar a vida de Dolores e Jessie.

Eclipse Total é um filme que merece ser descoberto ou redescoberto pelos fãs de Stephen King. Com excelentes atuações e personagens, o longa consegue prender com seus suspense, mas também com um bom enredo psicológico e dramático.

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