segunda-feira, 17 de setembro de 2018

Crítica | A Noite Devorou o Mundo - Zumbis como forma de autoajuda

Lançado nesse ano, A Noite Devorou o Mundo (La nuit a dévoré le monde, 2018) é o primeiro longa do francês Dominique Rocher que traz no seu currículo os curtas-metragens La vitesse du passé (2011) e Haiku (2009). Em A Noite Devorou o Mundo, Rocher retrata o universo dos filmes de zumbi de uma forma que nega alguns clichês que fazem parte de várias obras já conhecidas.
Sam (Anders Danielsen Lie) é um homem antissocial. À noite ele vai até o apartamento de Fanny (Sigrid Bouaziz), sua ex-namorada, para pegar uma caixa de fitas. Ao chegar no local, descobre que a garota está dando uma festa. Sem o menor interesse em interagir com as pessoas, Sam vai até o escritório do apartamento (a pedido de sua ex-namorada) para que eles possam conversar. O jovvem adormece no local e no dia seguinte, descobre que Paris (e provavelmente o resto do mundo) foi dominada por zumbis.





Lembrando muito uma versão zumbi de Robson Crusoé, o longa nega muitas características de outros filmes e séries, como cenas de ação, conflitos entre personagens e até os ataques mais violentos. Esses elementos até estão presentes em algumas cenas, mas fica claro que essa não é a principal proposta do diretor, que faz preferência por um ritmo mais lento ao focar apenas no protagonista e como ele lida com a situação a sua volta.
Situação essa aliás, que acaba que sendo bem confortável para ele, já que o personagem se vê completamente só nesse pequeno prédio. Aos poucos Sam vai se virando ao conseguir se livrar dos zumbis que habitam o local para conseguir ter acesso aos outros apartamentos para assim poder pegar mantimentos e até dar aos corpos de um casal de idosos que vivia no apartamento de baixo (e que se suicidaram), um fim respeitoso.



Mas o que aos poucos parece ser uma forma de viver perfeita (dadas as circunstâncias), se torna aos poucos um incomodo para Sam, que vai se sentindo incomodado e desconfortável com sua solidão. Alfred (Denis Lavant), um médico já transformado em zumbi e que ficou preso no elevador do prédio, serve de “companhia” para Sam. Aliás, através dele é que o personagem acaba desabafando sobre sua vida e sobre o que sente, servindo para que o próprio espectador saiba mais sobre a vida do protagonista.
Com o passar do tempo a vida vai ficando difícil para Sam, principalmente com a chegada do inverno, que acaba sendo usado no filme como um grande empecilho tanto para a sobrevivência do homem, quanto para frisar ainda mais sua solidão.  
Uma companhia especial fará com que o personagem reveja seus conceitos sobre a forma com que lida com essa situação, mudando de forma significativa sua forma de ver a vida e o próprio mundo.
A Noite Devorou o Mundo serve como uma interessante alegoria sobre pessoas que se veem em uma zona de conforto em que mesmo quando tudo parece (só parece) estar bem, é preciso mudanças e seguir em frente. Mesmo se o mundo lá fora parece ser ameaçador, temos que desbravá-lo e enfrentá-lo, correndo riscos.


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