Texto de : Tarcísio Paulo dos Santos
A Austrália parece ser um país que sabe produzir filmes de
terror bem interessantes. Produções como “O Babadook” (2014) e “Entes Queridos”
(2009), são dois bons exemplos de filmes desse gênero que merecem ser
conferidos por qualquer fã de terror. Além desses dois, outro filme, pouco
conhecido, também chama a atenção: “Lake Mungo” (2008).
Esse falso documentário foi dirigido por Joel Anderson, que
infelizmente parece ter desaparecido do mundo do cinema, sendo que esse foi seu
único longa-metragem até o momento. O cineasta conta apenas com a direção de um
curta-metragem chamado “The Rotting Woman”, produzido em 2002.
O longa conta a história de uma família australiana cuja
filha, Alice Palmer (Talia Zucker) faleceu após aparentemente se afogar em um
lago durante uma viagem com seus pais, Russel Palmer (David Pledger) e June
Palmer (Rosie Traynor), e seu irmão Mathew (Martin Sharpe).
A partir daí somos conduzidos a entrevistas, imagens de
arquivo, filmagens caseiras e atuações convincentes que vão nos mostrando um
pouco sobre a família, o processo de luto e o que teria acontecido com Alice.
Sem ser um filme que busca algum tipo de investigação específica sobre a morte
da jovem, “Lake Mungo” explora mais os mistérios que ocorrem após a morte de
Alice, ao mesmo tempo em que equilibra thriller, terror e drama familiar, dando
espaço também para aspectos da relação de Alice com sua mãe e até mesmo a falta
de comunicação entre a família. Esse já é um dos grandes diferenciais, já que
seria mais fácil focar apenas em supostas aparições da garota na casa através
de sustos fáceis, ou da famosa câmera na mão que acompanha tudo como no subgênero
do terror, “found footage”. Poucos filmes de terror conseguem explorar bem seus
personagens, mas justamente por inserir também o elemento dramático, o roteiro
de “Lake Mungo” consegue ter seu diferencial.
Na verdade, esse clichê do espírito captado na câmera, mesmo
que apareça no filme, logo ganha uma reviravolta que é totalmente justificável,
tendo a ver como o irmão de Alice reagiu com a perda da irmã. Ainda que depois
que a presença se mostre real, esse elemento nunca se mostra over ou tenta
aparecer um mero artifício para assustar o espectador.
Além disso, as imagens do falso documentário que servem para
ilustrar o drama da família, variam desde imagens da casa do lado de fora com
uma luz que pisca na sala, a luz da varanda que está sempre acessa, como forma
de sugerir que Alice ainda está por ali até em imagens do pôr do sol que
sugerem esta ideia da vida que se desvanece. Imagens do quarto de Alice também
são bem eficientes, pois são usadas em momentos em que os personagens falam da
garota e de como sentem ainda sua presença. Isso realça de forma eficaz a
sensação de algo possa surgir a qualquer momento na cena. Tudo isso ajuda a
compor de certa forma, uma poesia visual em torno de Alice e o impacto de sua
morte e presença.
Como se não bastasse, a terceira reviravolta no filme deixa
tudo ainda mais estranho e perturbador, sem a pretensão de nos dar uma resposta
pronta sobre o que teria acontecido com Alice durante uma viagem feita um pouco
antes de seu falecimento. As imagens feitas por ela através de seu celular, são
um dos pontos altos da narrativa, nos causando medo e até uma reflexão do que
teria acontecido.
Independente da conclusão do espectador, “Lake Mungo”
consegue trabalhar conflitos internos de seus personagens, problemas pela falta
de diálogo em família e o conflito que causa o medo
(presença de Alice) não como uma ameaça, mas como uma forma da própria família
alcançar uma paz de espírito para poder seguir em frente, além de dosar o
gênero do terror com elementos dramáticos.
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