Com criaturas quase sempre
inusitadas, um filme trash geralmente
conta com uma produção de baixo orçamento, roteiros pouco desenvolvidos,
atuações bem amadoras, cenários mal construídos, monstros exagerados e
maquiagem mal feita. Os críticos adotam o termo trash justamente pelo conjunto de tudo isso não trazer valor
artístico.
Por outro lado, essa ideia de
uma falta de qualidade artística não quer dizer que o filme não tenha seu
valor. Muitos filmes conseguiram seus fãs ao longo do tempo e se tornaram
cultuados mundo a fora. Esses filmes divertem independente de seus problemas
técnicos e são abraçados por pessoas que estão cientes de que esses filmes não
devem ser levados a sério, mas que nem por isso deixam de divertir e conquistar
seu público.
Titio Coffin Souza, citado no livro por Júnior, aponta que as famosas ficções científicas americanas da década de 1950 na época eram levadas a sério tanto pelos realizadores, quanto pelo público. Isso nos faz pensar que esses filmes envelheceram mal com o passar dos anos e ganharam outro status, o de filmes trash.
Já na década de 1970, cita
Souza, filmes com cores exageradas, pitadas de sexo e violência começaram a
estabelecer o conceito de trash
(também conhecido como gore ou splatter). Esses filmes eram feitos
dessa forma propositalmente para atrair seu público com situações bizarras que
causavam risos.
Diretores como Roger Corman,
John Waters (que depois de um tempo parou de seguir a linha do horror), Jesus
Franco, Abel Ferrara, Dario Argento e Sam Raimi, são alguns dos grandes nomes
desse subgênero.
Vale apontar também como nos
EUA os termos “Filmes B”, “Filmes C” e “Filmes Z” são mais empregados do que o
termo trash. Atores que estavam
esquecidos ou que ainda começavam uma carreira (como John Wayne e Jack Nicholson), passaram pelas
produções de filmes B. Vincent Price que começou sua carreira em produções mais
conceituais e respeitadas, hoje é mais lembrado pelos filmes B que se tornaram
clássicos do terror. Já atores como Bela Lugosi, Eddie Constantine, Bruce
Campbell e Pam Grier, trabalharam em filmes B durante quase toda suas
carreiras.
O termo “Filmes C” nos EUA se dá por conta dos filmes que
passavam na TV a cabo (Cable TV), mas
também por serem considerados de uma qualidade inferior aos filmes B. A
televisão foi sem dúvidas importantíssima para a popularização desses filmes e
a maneira como os mesmos são cultuados até hoje. Não é raro encontramos no
Youtube vídeos de encontros entre diretores e atores desses filmes com uma
legião de fãs.
Na categoria Filmes Z, Ed Wood
é o mestre no assunto. Plano 9 do Espaço
Sideral é um clássico do trash e
consegue ser talvez o filme mais precário em todos os sentidos, mas que tem um
público fiel. Lançado em 1959, o longa é
sobre um ataque feito por alienígenas que pretendem conquistar o planeta
ressuscitando corpos de um cemitério. Plano
9 do Espaço Sideral é simplesmente considerado o pior filme já feito na
história do cinema, segundo muitos historiadores e críticos dos EUA.
O Mistério
do Cesto (1982)
Um dos filmes que mais marcam o
subgênero trash, é sem dúvidas O Mistério do Cesto (Basket Case, 1982).
Também já exibido no Cine Trash, pela
Bandeirantes, o longa foi dirigido e escrito por Frank Henenlotter e conta a
história de Duane Bradley (Kevin
Van Hentenryck), um jovem que chega a Nova Iorque carregando uma grande sexta
que está trancada com um cadeado.
Após se hospedar em um hotel barato, percebemos que Duane se comunica com o que está dentro do cesto e até mesmo o alimenta. Na verdade trata-se de seu irmão gêmeo siamês que foi separado dele através de uma cirurgia forçada pelo pai dos irmãos. Duane então busca vingança dos médicos que o operaram enquanto tenta levar sua vida a diante.
Filmado em 16mm Henenlotter não
teve controle da pós-produção o que deixou o filme meio escuro e convertido em
outra proporção de tela. Filmado parte em Manhattan, é possível notar como grande
parte dos personagens é visto como pessoas à margem da sociedade. Até mesmo o
hotel onde o protagonista se hospeda é de gosto duvidoso. A Nova York vista no
filme, é aquela com casas de show de sexo explícito, vendedores de drogas e
prostitutas.
Mas ninguém está mais à margem
do que os dois personagens principais. Como no próprio filme trash, temos esses dois irmãos que não
podem viver em uma sociedade “normal”. Duane
que tenta ter uma vida comum, mesmo separado fisicamente do irmão, sempre está
preso a ele de alguma forma. Vivendo dentro da cesta é impossível não
catalogá-lo como o monstro da história, por mais que também o filme equilibre a
empatia pela criatura ao mesmo tempo em que sabemos que a ideia de vingança
assassinando os médicos esteja errada.
Como em um bom filme trash, os
efeitos especiais da criatura do cesto contaram com um fantoche para dar vida
ao irmão de Duane e efeitos em stop
motion para dar movimentos no chão, já que não seria possível fazer isso
com alguém manipulando o boneco.
Com sucesso de crítica,
principalmente nos EUA, O Mistério do
Cesto é reconhecido e reconhece-se como um filme trash, bizarro e absurdo. Mas que ao mesmo tempo diverte sem
pretensão nenhuma.
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