Uma
experiência visual envolta em um filme de aventura
Texto de : Tarcísio Paulo Dos Santos
Aniquilação
(Annihilation, 2018) é o segundo longa do diretor Alex
Garland, responsável por Ex Machina:
Instinto Artificial (Ex Machina, 2014). O diretor que parece ter uma
predileção pela ficção científica, consegue sempre trazer questionamentos
interessantes referente a humanidade e como ela se comporta. O diretor está de
volta agora com um filme que oferece uma satisfatória experiência visual e
narrativa.
Adaptação
do livro homônimo de Jeff Vander Meer, a história gira em torno de um meteorito que
cai sobre um farol no sul da Flórida. Forma-se então uma espécie de “bolha” (chamada
durante o filme de shimmer, brilho em inglês) que vai aos poucos se expandindo
e tomando conta de todo o seu redor. Uma vez que alguém atravessa a bolha, seu
retorno não é mais garantido. No entanto, o casal formado pela bióloga Lena (Natalie
Portman) e pelo soldado Kane (Oscar Isaac), parecem ser os únicos sobreviventes
de uma expedição para o lugar que aconteceu em épocas diferentes. Kane foi
primeiro sem que Lena soubesse e retornou depois de um ano sem se lembrar o que
houve. Após passar mal e ser socorrido pela esposa, ambos são parados (no caminho
para o hospital) por uma força de segurança do governo e levados para uma
instalação.
Agora é Lena que embarca
na expedição, numa tentativa de procurar respostas e quem sabe uma possível
cura para Kane, que corre risco de morte depois de sua experiência na tal
bolha. O grupo conta com a psicóloga Dra. Ventress (Jennifer Jason Leigh), a
paramédica Anya Thorensen (Gina Rodriguez), a física Josie Radek (Tessa Thompson)
e a geóloga Cass Sheppard (Tuva Novotny).
É muito comum filmes que
envolvam uma expedição para um lugar desconhecido e ameaçador, acabarem direcionando
muito da narrativa para sequências de ação em que a sobrevivência é a principal
motivação de seus personagens. Aniquilação
não deixa de ter esses elementos, claro, mas o filme tem diferenciais muito
interessantes comparados a outros filmes do gênero.
Como já citado em alguns
textos sobre o filme, o longa também pode ser compreendido como uma alegoria
para falar sobre a capacidade e até facilidade de auto destruição dos seres
humanos. O espectador percebe como cada personagem que faz parte da expedição
que vai em direção ao shimmer, vive
uma grande dor por conta de um problema pessoal. Inconscientemente talvez, as
personagens se lançam para essa experiência, como forma talvez de buscar alguma
resposta para que o que estão vivenciado, uma possível luz no fim do túnel.
Muitos de nós já devem ter passado por isso, em menor ou menor grau. Já no
filme, fica claro que para o bem ou para o mal, essas mulheres nunca mais serão
as mesmas.
As mudanças sentidas por
grande parte dessas mulheres e pelas outras pessoas que se aventuraram por esse
lugar onde as leis da natureza não e aplicam, parecem também servir como
alegoria para nossos questionamentos sobre a vida. Kane por exemplo, em uma
cena muito interessante, questiona sua própria identidade, por conta dos
efeitos causados pela bolha.
Experiência
aliás, é algo que o espectador poderá esperar de Aniquilação. Com um design de produção impecável, o lugar explorado
pelas personagens, se mostra além de uma grande floresta com lugares
abandonados. O visual cria uma atmosfera que às vezes beira ao onírico,
reforçando mais a ideia de que estamos diante de um lugar que não faz parte do
nosso mundo. Tudo porém, de forma bem sutil, com exceção do terceiro ato do
filme.
E é justamente nesse
terceiro ato que Aniquilação surpreende.
A narrativa começa de fato a ganhar seus contornos místicos e o visual passa a
nos atrair cada vez mais. Elementos abstratos vão nos fazendo cada vez mais
perguntas sobre o que de fato está acontecendo enquanto somos facilmente
atraídos pelas imagens. Mesmo quando atinge esse momento com um visual mais
atraente e que marca um momento muito importante da história, o design de
produção não cai em algo exagerado e gratuito.
Explicações e
interpretações do filme, podem ser diversas e ficam a cargo do espectador, que
mesmos com respostas mais esclarecedoras no final, pode até mesmo questionar a
veracidade do que é dito por Lena. Vale lembrar e apontar, que a personagem,
juntamente com Kane, são os únicos a saírem vivos do local, e que a expedição é
contada por uma Lena já de volta, que relata sua experiência para um dos
cientistas que estuda a tal bolha.
Assim como o fato de que
nunca saímos os mesmos depois de uma experiência nova, o mesmo ocorre com esses
personagens. Já o espectador também pode dizer o mesmo com Aniquilação, que ao mesmo tempo em que conquista pela beleza
visual, nos tira do conforto ao exigir que busquemos teorias e interpretações
para compreendermos o significado de tudo aquilo que acabamos de ver.
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