quarta-feira, 16 de maio de 2018

Aniquilação



Uma experiência visual envolta em um filme de aventura

Texto de : Tarcísio Paulo Dos Santos

Aniquilação (Annihilation, 2018) é o segundo longa do diretor Alex Garland, responsável por Ex Machina: Instinto Artificial (Ex Machina, 2014). O diretor que parece ter uma predileção pela ficção científica, consegue sempre trazer questionamentos interessantes referente a humanidade e como ela se comporta. O diretor está de volta agora com um filme que oferece uma satisfatória experiência visual e narrativa.

Adaptação do livro homônimo de Jeff Vander Meer, a história gira em torno de um meteorito que cai sobre um farol no sul da Flórida. Forma-se então uma espécie de “bolha” (chamada durante o filme de shimmer, brilho em inglês) que vai aos poucos se expandindo e tomando conta de todo o seu redor. Uma vez que alguém atravessa a bolha, seu retorno não é mais garantido. No entanto,  o casal formado pela bióloga Lena (Natalie Portman) e pelo soldado Kane (Oscar Isaac), parecem ser os únicos sobreviventes de uma expedição para o lugar que aconteceu em épocas diferentes. Kane foi primeiro sem que Lena soubesse e retornou depois de um ano sem se lembrar o que houve. Após passar mal e ser socorrido pela esposa, ambos são parados (no caminho para o hospital) por uma força de segurança do governo e levados para uma instalação.


Agora é Lena que embarca na expedição, numa tentativa de procurar respostas e quem sabe uma possível cura para Kane, que corre risco de morte depois de sua experiência na tal bolha. O grupo conta com a psicóloga Dra. Ventress (Jennifer Jason Leigh), a paramédica Anya Thorensen (Gina Rodriguez), a física Josie Radek (Tessa Thompson) e a geóloga Cass Sheppard (Tuva Novotny).

É muito comum filmes que envolvam uma expedição para um lugar desconhecido e ameaçador, acabarem direcionando muito da narrativa para sequências de ação em que a sobrevivência é a principal motivação de seus personagens. Aniquilação não deixa de ter esses elementos, claro, mas o filme tem diferenciais muito interessantes comparados a outros filmes do gênero.


Como já citado em alguns textos sobre o filme, o longa também pode ser compreendido como uma alegoria para falar sobre a capacidade e até facilidade de auto destruição dos seres humanos. O espectador percebe como cada personagem que faz parte da expedição que vai em direção ao shimmer, vive uma grande dor por conta de um problema pessoal. Inconscientemente talvez, as personagens se lançam para essa experiência, como forma talvez de buscar alguma resposta para que o que estão vivenciado, uma possível luz no fim do túnel. Muitos de nós já devem ter passado por isso, em menor ou menor grau. Já no filme, fica claro que para o bem ou para o mal, essas mulheres nunca mais serão as mesmas.

As mudanças sentidas por grande parte dessas mulheres e pelas outras pessoas que se aventuraram por esse lugar onde as leis da natureza não e aplicam, parecem também servir como alegoria para nossos questionamentos sobre a vida. Kane por exemplo, em uma cena muito interessante, questiona sua própria identidade, por conta dos efeitos causados pela bolha.

Experiência aliás, é algo que o espectador poderá esperar de Aniquilação. Com um design de produção impecável, o lugar explorado pelas personagens, se mostra além de uma grande floresta com lugares abandonados. O visual cria uma atmosfera que às vezes beira ao onírico, reforçando mais a ideia de que estamos diante de um lugar que não faz parte do nosso mundo. Tudo porém, de forma bem sutil, com exceção do terceiro ato do filme.














E é justamente nesse terceiro ato que Aniquilação surpreende. A narrativa começa de fato a ganhar seus contornos místicos e o visual passa a nos atrair cada vez mais. Elementos abstratos vão nos fazendo cada vez mais perguntas sobre o que de fato está acontecendo enquanto somos facilmente atraídos pelas imagens. Mesmo quando atinge esse momento com um visual mais atraente e que marca um momento muito importante da história, o design de produção não cai em algo exagerado e gratuito.

Explicações e interpretações do filme, podem ser diversas e ficam a cargo do espectador, que mesmos com respostas mais esclarecedoras no final, pode até mesmo questionar a veracidade do que é dito por Lena. Vale lembrar e apontar, que a personagem, juntamente com Kane, são os únicos a saírem vivos do local, e que a expedição é contada por uma Lena já de volta, que relata sua experiência para um dos cientistas que estuda a tal bolha.
Assim como o fato de que nunca saímos os mesmos depois de uma experiência nova, o mesmo ocorre com esses personagens. Já o espectador também pode dizer o mesmo com Aniquilação, que ao mesmo tempo em que conquista pela beleza visual, nos tira do conforto ao exigir que busquemos teorias e interpretações para compreendermos o significado de tudo aquilo que acabamos de ver.




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