Vendido como thriller erótico, Babygirl é mais um ensaio sobre a permanência da repressão sexual sobre as mulheres, mesmo que agora, elas ocupem espaços de poder. Os primeiros planos expressam essa repressão, mostrando as linhas retas dos produtos que a empresa de Romy fabrica e em todo momento, as personagens movimentam-se num espaço corporativo e asséptico. Essa encenação evidencia o conflito da personagem de Nicole Kidman, que deve ser um suposto exemplo de empoderamento para outras mulheres. Esse exemplo não pode ser "contaminado" com qualquer tipo de perversão ou fetiche sexual. Dessa forma, o filme é eficiente em problematizar o status contratual de qualquer relação em um ordenamento social neoliberal, bem como em ressaltar a ironia de uma ideologia progressista, que acaba instaurando novos padrões de moralidade a serem seguidos. No entanto, o filme destoa sua trilha sonora, bem estilizada, com a encenação mais sóbria. Só existe um plano, no final do filme, em que o desejo de Romy toma uma forma plástica e onírica que dá conta, portanto, da intensidade e importância de realizá-lo. Salvo essa contradição, o filme dá conta em expressar esse novo código moralizante, que termina melancolicamente, com sua personagem sublimando seus desejos. Portanto, o filme afirma que, a despeito da representatividade feminina e sua paulatina presença em espaços de poder, ao desejo feminino ainda é negado sua plena realização
LUCAS SCHIMIDT
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