Dirigido por Eliza Hittman, Ratos de Praia (Beach Rats, 2017) está disponível na Netflix. O drama conta a história do jovem Frankie (Harris Dickinson ), um adolescente que vive no Brooklyn e que gosta de entrar em sites de performances ao vivo de nudez para conhecer caras mais velhos. Sem muita expectativa na vida, Frankie passa boa parte do seu tempo com seus amigos jogando conversa fora ou usando drogas.
“Eu não sei bem do que eu gosto”. Essa é a primeira frase dita pelo protagonista. O cinema já abordou diversas questões que envolvem sexualidade, como a descoberta da mesma e um amadurecimento que fará com que o protagonista fique bem consigo mesmo e acima de tudo, busque sua aceitação. Em Ratos de Praia, as coisas são um pouco diferentes.
O longa não está preocupado com uma narrativa mais convencional e opta apenas por ilustrar a vida de Frankie e de seus amigos durante dias. Basicamente o rapaz e seus amigos, passam os dias na ociosidade, andando por um parque de diversões, usando drogas e até praticando pequenos furtos. Mesmo com esse retrato bem naturalista da vida de alguns jovens sem perspectiva, o que obviamente nos prende ao filme é o estudo do personagem principal e de sua sexualidade.
Simone (Madeline Weinstein) surge como o possível interesse amoroso de Frankie, que obviamente esconde da namorada e de seus amigos preconceituosos sua condição sexual também voltada para a homossexualidade. Vemos um protagonista em total desconexão com uma perspectiva de vida e que pouco entende ou reflete sobre sua própria sexualidade. Quando o mesmo está com Simone, é nítido seu desconforto e até desinteresse. Ao mesmo tempo, Frankie parece se sentir culpado por isso e até se esforça (talvez para também impressionar os amigos) para agradar a namorada.
Já quando está conversando online com homens mais velhos, às vezes até marcando encontro com eles, Frankie se torna um personagem sempre à margem. Mesmo tendo seu quarto, ele prefere conversar com os caras em um porão onde fica seu computador e uma outra cama. A fotografia reforça tudo isso trabalhando muito o uso de sombras e tons acinzentados e azuis. Os caras que aparecem na câmera costuma pedir para que Frankie se mostre melhor para eles, já que o rapaz tem o costume de deixar o ambiente à meia luz. Os corpos nus e seminus dos homens são sempre vistos através da tela do computador, como se colocassem o real desejo do protagonista sempre em um lugar inalcançável. Mesmo em cenas em que ele está tendo relações sexuais com alguém, a própria cena em si acontece à noite e perto da praia. A câmera constantemente sai de foco enquanto mostra o seu rosto e planos detalhe de partes dos corpos sem roupa. A cena em si busca tanto um erotismo como algo “frio” e momentâneo.
Outro lugar marcante no filme, é o parque de diversões. As diversas cores e o ambiente tido como harmonioso e agradável, parecem pouco entrar em contexto com a atmosfera que emana de Frankie. É lá aliás que ele conhece Simone. A jovem observa os fogos de artificio e chama de romântica toda a situação, enquanto flerta com Frankie, que pouco se importa com os fogos, dizendo que “a cada ano, é tudo a mesma coisa”. Esse fogos serão mostrados novamente no encerramento do filme, apresentando um outro contexto com o personagem.
Se de um lado temos Simone, do outro o personagem Harry (Douglas Everett Davis) que aparece na vida do protagonista, representando um ponto de esperança para o espectador de que através desse personagem, Frankie consiga de uma vez por todas, abrir mais a sua vida e seus sentimentos. Em um encontro um pouco mais afetuoso entre Frankie e Harry, a cena de intimidade entre os dois acontece em um quarto onde até as luzes são mais quentes e a cena é toda conduzida para tirar o personagem da “clandestinidade”.
Depois de se envolver em um problema em que as consequências ficam ambíguas para o espectador, temos de volta os fogos no parque de diversão. Frankie que antes pouco se importava com eles (como uma metáfora de sua ignorância com relação a si mesmo e a seus atos) agora passa a olhá-los como sinal de alguém que talvez tenha despertado para a vida. Tarde demais? Talvez, já que os fogos do nada param, restando apenas uma fumaça no céu que vai aos poucos dissipando.
Ratos de Praia pode até ser um retrato pouco esperançoso da descoberta e exploração da sexualidade de seu protagonista, podendo até causar no espectador uma falta de empatia por Frankie. Porém, a forma com que lida com isso, é bem diferente do que se costuma ver na grande maioria dos filmes que abordam essa temática. Por isso, vale a pena conferir o longa e se deixar levar por essa exploração bem honesta e natural.
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