A Assombração Da Casa Da Colina (The Haunting of Hill House) foi lançado em 1959 pela autora americana Shirley Jackson. O romance de terror gótico, chegou a ser finalista no Prêmio Nacional do Livro e já foi adaptado para o teatro e para o cinema. A obra de Jackson se destaca pelas relações complexas entre os personagens, em meio aos estranhos acontecimentos na residência.
A adaptação mais recente é a série de dez episódios da Netflix, intitulada A Maldição da Residência Hill, escrita e dirigida por Mike Flanagan. Diferente dos filmes, Flanagan não foi fiel à obra, mas usou muito de seus elementos e personagens para criar algo diferente e tão bom quanto o original.
Nessa nova adaptação, uma família composta pelos irmãos, Shirley (Elizabeth Reaser/Lulu Wilson), Theo (Kate Siegel/Mckenna Grace), Nell (Victoria Pedretti/Violet McGraw), Luke (Oliver Jackson-Cohen/Julian Hilliard) e Steven (Michiel Huisman/Paxton Singleton), viveu no início dos anos 1990 com os pais Olivia (Carla Gugino) e Hugh (Henry Thomas/Timothy Hutton). A mansão que ainda abriga espíritos de antigos moradores, interage com algumas crianças, cada um à sua maneira, marcando todos de formas diferentes. Uma tragédia ocorrida em uma noite, faz com que a casa seja abandonada por todos, mas mesmo anos depois, com todos já adultos, os integrantes da família ainda sofrem com o passado vivido na Residência Hill.
Mike Flanagan iniciou sua carreira como editor de séries de TV até começar a realizar seus próprios filmes. Os primeiros trabalhos eram mais voltados para o melodrama, gênero esse que depois foi deixado para trás pelo cineasta. Ghosts of Hamilton Street (2003), foi o primeiro filme do diretor depois de se forma na faculdade. A história gira em torno de um problemático escritor que passa a questionar sua sanidade enquanto as pessoas em sua vida desaparecem sem deixar vestígios. O longa chegou a ser premiado em um festival estudantil na época.
O Espelho (Oculus, 2013) foi o primeiro filme do cineasta que chamou a atenção da crítica e do público. Alguns elementos contidos na obra, são de fácil reconhecimento na série A Maldição da Residência Hill, como relacionamentos familiares e o retorno à casa para resolver questões mal resolvidas do passado.
A habilidade na edição, graças a experiência de Flanagan, nos permite a conexão constante entre o passado e presente de cada personagem da série. Às vezes um objeto usado por alguém em cena, também foi usado em algum momento pelo mesmo personagem na infância, como uma simples maçã. A edição também permite segurar informações que serão reveladas posteriormente para nós. Uma mesma cena pode ser vista mais de uma vez através de pontos de vista de personagens diferentes, afinal o roteiro dá a devida atenção a cada um dos personagens, criando uma forte empatia com o público.
Outro ponto importante é a dramaticidade da série em meio aos acontecimentos sobrenaturais e assustadores. Sabemos como muitos filmes, até mesmo por conta do pouco tempo para desenvolver a história, nem sempre conseguem desenvolver o drama e equilibrá-lo com as convenções do gênero do terror. Hereditário (Hereditary, 2018) foi um recente exemplo em que o equilíbrio fez total diferença, o que deu ao filme pontos positivos. A ideia de adaptar A Maldição da Residência Hill em série, foi fundamental para isso. Com dez episódios, alguns dedicados exclusivamente aos personagens principais, o roteiro explora bem o psicológico, o medo e nuances de cada indivíduo da série.
Fantasmas. Geralmente usados como pessoas vingativas que querem fazer mal aos habitantes de casas mal assombradas. Na série temos um diferencial, graças à história de Shirley Jackson, que concentra todo o mal na própria casa onde se passa a história e não em alguém específico. Já os espíritos que habitam o lugar, apresentam uma versatilidade especial na série. As aparições podem representar desde a consciência dos personagens, como seus pensamentos, ou de fato espíritos de alguém. Isso com certeza reforça a ideia de como o roteiro consegue equilibrar o terror com questões mais profundas da psique dos personagens.
Mas é na forma como Flanagan introduz esses espíritos nas cenas, que é de fácil reconhecimento o diferencial de A Maldição da Residência Hill. No lugar de uma aparição abrupta e mais fácil para assustar, a série aposta em cenas desconfortáveis que por vezes, os espíritos surgem aos poucos e de forma estranha. As poucas vezes em que eles aparecem de surpresa, são em cenas que no contexto, já estão tensas e são interrompidas com uma intervenção de um assombro. O uso da profundidade de campo em determinadas cenas, também acaba deixando sempre uma porta ou corredor ao fundo de algum personagem, como se algo fosse aparecer a qualquer momento.
Se você quer acompanhar uma série de terror que foge um pouco do óbvio, assista A Maldição da Residência Hill e perceba como essa série é sem dúvidas, uma das melhores produções lançadas pela Netflix neste ano. Confira abaixo o trailer da série!
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