quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

A invenção do cinema, o dia 28 de Dezembro e os Irmãos Lumière

Há exatamente 121 anos, a invasão de um trem mudaria para sempre o mundo.

Calma, não se trata de uma tragédia ou algo do tipo. É que em 28 de dezembro de 1895, no Salon Indien du Grand Café, 14, Boulevard des Capucines, em Paris, uma projeção de diversos filmes curtos, com a duração de 20 minutos no total, foi realizada.


Entre eles estava o pequeno filme “L’Arrivée d’um Train en Gare de La Ciotat” (A Chegada de um Trem na Estação), cuja perspectiva sugeria que o trem “invadisse” a sala de exibição, o que chegou a assustar muita gente.

Lembrando de que estamos falando dos irmãos Auguste e Louis Lumière, e do cinematógrafo.

A caixa de madeira equipada com uma lente em sua parte dianteira, e uma pequena manivela do lado direito, foi desenvolvida sob encomenda pelo engenheiro parisiense Jules Carpentier. Diferente dos outros equipamentos de filmagem que já haviam sido inventados na época, o cinematógrafo pesava bem menos, e era capaz de filmar, copiar e projetar. Quer mais modernidade que isso?

cinematógrafo

Auguste e Louis Lumière
Na verdade, no dia 22 de março de 1895 fora realizada para os membros da Société d'Encouragement pour l'Industrie Nationale o que seria considerada a primeira exibição pública de um filme. A exibição era do curta (embora ninguém ainda usava esse termo) “La Sortie de l'usine Lumière à Lyon” (A saída dos operários da Fábrica Lumière), que compunha oitocentos fotogramas e tinha a duração de 50 segundos. A câmera foi posicionada em frente a fábrica, no horário de almoço dos funcionários.

Em 10 de junho, o cinematógrafo foi exibido na convenção de fotógrafos em Lyon, desta vez já com oito filmes no programa.

Mas você deve estar se perguntando qual a relevância do dia 28 de dezembro de 1895, se já existiam exibições anteriores?

 Ocorre que os inventores tinham criado equipamentos de filmagem que eram inferiores ao cinematógrafo, e não se importavam com o público, restringindo as exibições apenas para as comunidades científicas.

O dia 28 de dezembro marca o grande encontro do cinema com o público, já se iniciando com as pessoas que passavam pela calçada e se interessavam pelo cartaz que anunciava a exibição dos filmes. Nascia então o “cinema de atrações”, um cinema ainda sem uma narrativa estabelecida em que o novo, o diferente, era justamente ver as imagens em movimento em uma tela grande.

Já o famoso trem que não chegou a sair da tela invadindo o lugar onde estavam as pessoas, conseguiu um feito muito maior: invadiu os olhares de cada um ali presente, trazendo consigo uma nova forma de arte e entretenimento. 


 “L’Arrivée d’um Train en Gare de La Ciotat” (A Chegada de um Trem na Estação)



Texto de: Tarcísio Paulo Dos Santos Araújo

domingo, 6 de novembro de 2016

Análise fílmica do filme: “A Rede Social” - David Fincher, 2010

Análise da montagem

O filme a “A Rede social” narra a história de Mark Zuckerberg, fundador do Facebook, que é interpretado pelo ator Jesse Eisenberg. O filme acompanha o personagem de Mark desde o surgimento da ideia até o sucesso com o Facebook, expondo intrigas que surgiram nesse processo, e que levaram a batalhas judiciais.

O filme se desenvolve entre um processo e outro, na justiça, onde a historia é acompanhada, através de relatos, no tribunal; o que é comum em filmes de tribunal e julgamentos, onde a historia é narrada, apresentando os fatos, que geralmente, são apresentados na perspectiva de uma das personagens que conta em seu julgamento como tudo aconteceu.

Até essa parte o filme apresentaria uma abordagem simplista, mesmo com insertes e com o uso de flashbacks reveladores. O que da a Rede Social, uma forma mais interessante e mais atraente é a montagem, e a forma de se colocar os fatos em ordem, dentro da narrativa. Um elemento importantíssimo dessa forma, é a presença da música e da trilha sonora, que ajudam a pontuar a estrutura da montagem que por vezes é guiada de forma rítmica pela trilha sonora.

Logo na abertura do filme na aparição dos logos das produtoras, ouvimos um som marcante da trilha, como se anunciasse algo do qual não se esperava em um filme de biografia de um empresário bem sucedido. As passagens de uma cena para outra ou até de um plano para outro é sempre seco, marcando esse ritmo de constante quebra do olhar do espectador, assim que aparece a primeira imagem, temos um Pub, lotado e acompanhamos uma conversa entre Mark e Erica (Rooney Mara), a música passa a fazer parte do som ambiente, planos e contraplanos marcam o dialogo de apresentação do personagem de Mark, onde são reveladas as características da personagem principal, como sendo alguém distante, do convívio social, e com dificuldades de manter um relacionamento. Pode-se perceber desde deste momento que a maioria dos planos são próximos, bem intimistas, colocando o espectador bem próximo daquele universo, essa é uma característica quase predominante no filme inteiro.

Quando Mark é rejeitado, inicia-se a trilha que esta presente em quase todo o filme, uma trilha melancólica, que evidencia o estado de espírito da personagem, assim que Mark deixa o Pub, inicia-se uma sequência, ao som da trilha, com planos da cidade,da faculdade de Havard, em um tom de coloração escuro e melancólico, Mark é acompanhado por diversos planos sequências pelo caminho até seu dormitório na faculdade, neste momento aparecem os créditos iniciais, essa sequência é marcada por uma característica bastante forte no filme que é uma montagem videoclipitica, onde a musica vai pontuado, os cortes e os enquadramentos, essa primeira sequência dessa forma é marcada pela melancolia, colocando o personagem como um jovem comum no mundo, e com o coração partido, trazendo o “Homem de negócios” bem sucedido para uma forma mais humanizada. Os planos são até mais lentos do que os da maior parte do filme, e fora a presença marcante da trilha, os sons ambientes estão sempre presente, sendo evidenciados antes mesmo que estejam presentes em vídeo, como se servisse de alerta ao espectador, da forma como a montagem vai se conduzir, pois ela está muito atrelada à forma como o som por sua vez é utilizado, fazendo as passagens secas de um determinado momento para outro, em espaço, e até no tempo.

São utilizados alguns insertes de texto durante o filme para mostrar datas e locais, mas não é utilizado esse recurso quando se corta de uma ação do passado, e o julgamento, isso deve ficar por conta do espectador entender, pois alem das rupturas secas, e a falta de informações, não há nem uma mudança de coloração, essas idas e vindas no tempo passam a ser incorporado na montagem como sendo tudo apenas uma coisa só, ocorrendo um estranhamento apenas na primeira interrupção.
Os mesmos planos que seguem Mark, pela cidade e pelo Campus da faculdade, são usados da mesma forma dentro do prédio e dentro de seu dormitório, apenas diminuindo a proporção, até tornar novamente os planos próximos e intimistas.

Inserte de texto marcam os horários de postagens de Mark, em seu blog na internet, os planos começam a ficar mais curtos, correndo da tela do computador, para as mãos e para o rosto de Mark, até mesmo para outros garotos no quarto.
Enquanto Mark escreve em seu blog inicia-se uma narração do que o personagem escreve, (falando mal da ex namorada), os planos acelerados, revelam angustia de Mark, e também mostra o impacto instantâneo por onde a mensagem pode se repercutir. É essa basicamente a forma que é trabalhada na montagem o impacto em tempo real das redes sociais.

A sequência seguinte, enquanto mostra Mark, hakeando os arquivos de foto da faculdade, para postar na internet, inicia-se uma musica eletrônica com batidas pontuais, e são apresentadas de formas videoclipiticas a vida social no campus da faculdade, entre festas, e bagunça, em contraste, com os alunos presos no quarto em frente ao computador, hakeando.O ritmo da musica  e os cortes de planos vão dando a ideia de como as coisas funcionam ao mesmo tempo, e adiantam a ideia de “vida social de forma virtual”.

A montagem trabalha em função de mostrar o caminho que fazem as mensagens circulando na internet, mostrando o acesso em lugares diferentes, e mostrando as reações, diferentes das pessoas, envolvidas, a forma como os planos são colados, e os movimentos de câmera, em um balanço continuo de sequência, como por exemplo, se um plano em uma sala, se encerra com a câmera se movendo para a direita, podemos acompanhar num plano seguinte a continuação desse movimento, mas em outro contexto, dando a forma de transporte da mensagem, em tempo real.
A apresentação de Eduardo (Andrew Garfield) é feita de forma semelhante a sequencia de caminhada de Mark pelo campus, com planos sequências, que o seguem até sua checada ao quarto de Mark.

Com a chegada de Eduardo, a música vai diminuindo, e a narração de Mark, explica a importância de Eduardo para seus projetos. Inicia-se outra sequência pontuada pela trilha sonora, dessa vez acompanhando mais de perto a reação das pessoas, em uma rede social, a primeira parte da sequência vai de janela em janela, com no filme “Janela Indiscreta” 1954 Alfred Hitchcock, o que muito provavelmente evoque a ideia da vigilância da vida alheia. E coloca o espectador na posição de observador daquelas pessoas, a montagem começa a encurtar os planos e as sequencias dando um ritimo mais acelerado.

A sequência vai até o quarto do diretor que é informado que a internet da faculdade foi derrubada pelo grande numero de acessos, outro elemento que se destaca, é que os telefonemas tanto quanto as conversas online no filme, são trabalhadas, mostrando todos os pontos de emissão de informação, desse modo é possível se ter noção de quão longe as informações chegam em um pequeno espaço de tempo, através de tecnologia, dando ideia de conexão.

Essa primeira parte do filme se encerra com o primeiro corte seco para a sala onde acontece um dos julgamentos que Mark sofre, durante o filme. Só a partir desse momento se tem a dimensão de o quanto Mark havia crescido depois do Facebook, e se tem um Eduardo adversário de Mark, essa é uma das cenas mais longas no na sala de julgamento, a maioria das outras intervenções entre a sala do julgamento e o decorrer da historia que acontece paralelamente, temos um Mark imaturo, e passando por problemas como um jovem comum, nada espetacular.

Durante o filme esses cortes secos entre a sala de julgamento e a sequencia linear da história vão aumentando, e apresentando ouros personagens, que desejavam processar Mark.
O interessante que muitos desses cortes, completam movimentos de câmera, e até mesmo diálogos, de um momento no tempo para outro, o que é conseguido pelos cortes secos e rápidos, colocando as duas sequências numa dimensão única na linearidade da história do filme.

Na cena em que Eduardo e Mark, conseguem sair com garotas, por terem criado o Facebook, a montagem segue os modelos rápidos, de cortes, dando mais ênfase em Eduardo, com uma garota no em um Box de banheiro fazendo sexo, do que em Mark, que são mostrados apenas os chinelos, a cena se passa um pouco antes dele se reencontrar com Erica, e tentar se dissipar, sem sucesso, pois ela ainda estava chateada, com ele. Esta sequencia, do banheiro, onde Mark e Eduardo parecem vitoriosos, e a queda de Mark diante de um relacionamento, marcam, o ponto de virada de Mark, dentro da história, de um rapaz tímido, tentando se socializar, para alguém que não se importa com a sociedade, quer apenas o sucesso. A trajetória de Mark, no filme é mais próxima de um astro de rock em ascensão, com esse tipo de sequência, do que a de um empresário.

A apresentação do personagem de Sean Parker (Justin Timberlake), acontece nesse clima de astro do rock, a sua primeira cena, que é quando fica sabendo do Facebook, é iluminada, de forma mais clara, dando a áurea mais leve e descontraída do personagem inconsequente, e a relação de Mark e Sean Parker, é mantida nesse contraponto, mostrando como Mark faz a transição para um mundo mais badalado socialmente, a maioria das cenas com os dois pende de um lado para o outro de estado de espírito, planos e contraplanos são mostrados, nos diálogos, e música alta ambiente faz os personagens conversarem em um tom muito alto de voz, sugerindo um descontrole de Mark, que até então se mantinha controlado com Eduardo, dando a ideia de uma outra virada na postura de Mark que começa a entrar de cabeça nas ideias de expansão de negócio de Sean.

A sequência seguinte é outra no formato videoclipitica, onde mostra a competição dos gêmeos Winklevoss (Armie Hammer) de remo. A sequência é toda trabalhada sobre o som da música, o ritmo da competição, é evidenciado pelos planos rápidos, do esforço dos atletas, em seus rostos e braços, e tomadas distanciadas, do rio, e do publico da competição, além de planos da mudança no placar, tudo pontuado na batida da musica que vai ficando intensa, e acelerada como os planos. Culminando na derrota da equipe, dos Winklevoss, que é uma derrota antecedida, a descoberta de que os negócios com o Facebook iam bem e gerava muitos lucros, e faz com que eles se sintam lesados por Mark ter se aproveitado da ideia deles, a sequência, impulsiona o sentimento do desejo de revanche dos Winklevoss, sobre Mark.

O que explica os cortes para o processo que Mark, enfrenta, pelos Winklevoss, durante o filme.
Além das sequências em forma de clipe e de sequências aceleradas, o filme ainda trabalha com outras sequências em ritmo normal, com planos próximos e muitos movimentos de travelig acompanhando os personagens, dando realismo e emoção, a certos momentos, tanto na primeira cena no Pub, no encontro de Mark e Erica, quanto na ultima cena, onde Mark conversa com a advogada, e também em algumas sequências com Eduardo, como na cena em que ele descobre que foi passado para trás nos negócios, onde temos planos subjetivos de Eduardo, e um movimento de câmera o seguindo até a mesa de Mark, e tendo um ataque de raiva quebrando o computador, os cortes são bem sutis, e percebemos a descontração emocional das personagens, acompanhando a reação de Mark, Eduardo, Sean, e dos outros ao redor.

A montagem dessa forma cria um equilíbrio emocional e envolve o espectador, com pistas e recompensa, trazendo a historia para frente e para trás encaixando as peças, de forma instigante, como é mais comum em suspense, não em biografias. 
A rede social, é um filme que trabalha na edição um equilíbrio e uma junção de som e imagem,  recebeu 8 indicações ao Oscar, e venceu vencendo na categoria de melhor roteiro(Aaron Sorkin) e melhor edição (Kirk Baxter e Angus Wal) e melhor trilha original (Trent Reznor e Atticus Ross). E também ganhou 4 globos de ouro, sendo um de melhor direção para David Fincher.

A Rede Social -  David Fincher, 2010

quarta-feira, 12 de outubro de 2016

Filmes infantis nos anos 90



Se você foi criança nos anos 90, com certeza se lembra dos filmes que passavam na sessão da tarde na TV Globo, ou no cinema em casa na SBT, não era todo mundo que tinha acesso a TV a cabo, e internet parecia algo distante, então se algum filme fosse amado pelas crianças ele seria exibido exaustivamente na parte da tarde, durante a semana na TV aberta mesmo.

Quem não se lembra de chegar da escola, e correr para a frente da televisão, e esperar passar um bom filme, e ficar dividido se as duas emissoras concorrentes estivessem exibindo filmes legais, e por vezes isso acontecia.

Bons atores e diretores eram envolvidos nesses projetos, os filmes ditos "para família" traziam formulas mágicas de entretenimento, que acabaram por virar boas lembranças para toda uma geração.

E você se lembra desses títulos? Se lembra de outros?

Então deixe o seu comentário.

"Três Ninjas – Uma Aventura Radical" - Jon Turteltaub, 1992

"o jardim secreto" - Agnieszka Holland, 1993

"A Chave Mágica" - Frank Oz, 1995

"Matilda" - Danny DeVito, 1997

"Esqueceram de Mim" - Chris Columbus, 1990

"Abracadabra" - Kenny Ortega, 1993

"a princesinha" - Alfonso Cuarón, 1995

"Guerreiros da Virtude" - Ronny Yu, 1997

sábado, 10 de setembro de 2016

“Lanterna Mágica - Autobiografia de Ingmar Bergman” – Ingmar Bergman 1987


Ingmar Bergman

Livro que narra à biografia do dramaturgo e cineasta sueco Ingmar Bergman desde a infância, até suas experiências como diretor de cinema e teatro, sem seguir os fatos em uma linha cronológica, a obra funciona como uma espécie de diário que divaga pelas experiências e pelas memórias do autor.

O prefácio do livro é escrito pelo também diretor de cinema Woody Allen, que demonstra grande admiração pela obra de Bergman, e em seu texto de abertura do livro, convida o leitor para o universo do artista brilhante e cheio de controversas em sua vida e carreira.

Bergman faz uma grande reflexão dos momentos de sua vida, cada passagem é carregada por certo ar de nostalgia, transformando toda a narrativa do livro em algo extremamente visual, com descrições de pessoas, ambientes, e objetos de uma forma um tanto quanto romântica, como por exemplo, a passagem na qual ele descreve a “Lanterna mágica”, uma maquina de projeções de filmes, que havia ganhado na infância, o que despertou nele desde cedo o amor pela arte da imagem em movimento. Bergman descreve com ternura os momentos que se escondia em um guarda roupas, para poder ligar o aparelho e assistir as imagens sendo projetadas no escuro e sozinho.

Bergman também fala do relacionamento difícil que tinha com o pai, um pastor, conservador e autoritário, de certo modo esta relação acabou refletindo e trazendo muitas características em seu trabalho, desde criança ele passou a questionar a igreja, a família tradicional patriarcal e os costumes da burguesia.

O livro também aborda questões relacionadas a carreira profissional de Bergman, desde a preparação e seu relacionamento com o lenço de suas produções, até detalhes da produção de seus filmes, o de peças de teatro, e ainda problemas burocráticos como prestações de contas ao governo, e pagamentos de impostos.

Um traço interessante no livro são as discrições das pessoas, fazendo parecer que se trata de uma conversa sincera que o autor tem com os leitores, a discrição dos pais, irmãos, e os amores que teve ao longo da vida, onde são detalhados traços de personalidades, e até mesmo defeitos que incomodavam Bergman, nas pessoas com as quais convivia, revelando vários aspectos da sua própria personalidade, e trazendo ao publico facetas de um artista irreverente, que deixou sua marca na história do cinema mundial.

Erotismo e a cidade: Vidas nuas (1967) de Ody Fraga

  O aspecto mais interessante em Vidas nuas é a fluidez como a cidade de São Paulo é filmada, desde seu primeiro plano quando temos acesso ...